Capítulo 8 [Parte 1]

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"Mas você nunca verá o fim da estrada enquanto estiver viajando comigo." - Don't Dream It's Over - Sixpence None The Richer 


AURORA


Liberdade. Sempre nutri profunda obsessão pelo conceito dessa palavra que carrega consigo tantas possibilidades. Mas a definição pesa, a procura pesa... A liberdade só pode ser real quando sentida.

O mar de Achmelvich carrega consigo o dom de aliviar o peso de nossos ombros. O mar, de modo geral, faz isso. Frente a frente com ele, nos sentimos melhor.

Oliver hoje voltou a se mostrar entusiasmado com seu desejo de ir embora e começar em outro país, me levando consigo. Cada vez mais tenho a certeza de que essa é mesmo uma viagem de despedida da Escócia para ele, que nunca seria o tipo de homem a se contentar em nascer e morrer em um mesmo lugar. Ouvir, pela primeira vez, minha participação em sua ideia de fuga o deixou extasiado. Desde o início da viagem comentava sobre seus planos e bradava que eu poderia escolher para onde iríamos se fosse com ele e isso foi acontecer quando, um pouco mais cedo, me levava para mais perto da água e citei minha vontade de poder estar sempre próxima a figura do mar que tanto me encanta. "E também quero conseguir nadar sem quase morrer congelada", completei minha ardorosa contribuição a seus devaneios recebendo em troca o mais belo e radiante sorriso.

A liberdade é inerente em Oliver. Diferente de seu irmão que está sempre criando as próprias grades que o prende.

Pensei menos em Desmond durante esse dia. Menos que ontem, mais que amanhã. É a ordem natural, não? É dessa forma que a paixão deve terminar ao contar com o auxílio da distância: paulatinamente. Esse sempre é o fim dos que foram feitos para dizer adeus.

Por hoje, também sou livre. E que me perdoem os prudentes, mas são as pessoas livres que dão graça ao mundo.

Sol. Mal consegui acreditar no dia ensolarado que se estendeu diante de mim logo pela manhã e que se manteve. Nem por um momento isso significa uma temperatura muito longe dos 18º graus, mas não deixa de ser uma raridade em se tratando do outono escocês, já que pode ser considerado um clima de verão para eles. Com o tempo nos maltratando com o frio e chuva constantes e ventos congelantes, pretendia deixar Achmelvich para visitarmos na volta e apostar em Braemar, onde poderíamos ter a opção de, ao menos, nos manter em locais fechados, mas uma oportunidade dessas não pode ser perdida assim. De forma que apelei para uma reza braba no objetivo de manter Scot sem maiores problemas depois de conseguir consertar o ponteiro dele com um mecânico de Inverness e insisti em ter sua companhia para mais esse destino e durante o resto da viagem. 

A propósito, Scot é o carro. Uma abreviação carinhosa de Scotland. Talvez um nome até bem comum o que ele ganhou tendo em vista que meu amado Opala reformado lá no Brasil chama-se Bruce Wayne.

Um céu aberto e o trecho otimista no diário de minha avó são elementos que conseguem mudar meu humor. E não parece que essa mudança seja exclusividade minha. Arthur, Maysa e Max também parecem ter pisado com o pé direito nessas areias finas e brancas que se estendem até irem de encontro às águas. Colin não, mas meu palpite é que nem unicórnios mágicos conseguiriam dar um jeito nele.

— Maysa, você não vai fazer isso, né?

Arthur olha atentamente a maneira como Maysa desfaz o coque nos cabelos loiros, o soltando, e retira o casaco fino, encarando o mar com excitação.

O Outro Lado do Mundo [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora