Capítulo 12 [Parte 2]

1.2K 119 48
                                    

— Maysa!

Existe miragem auditiva? Porque minhas lembranças são varridas justo pela voz rouca e enlouquecedoramente profunda que habitava nelas.

Levanto com o susto, como se houvesse um slide em cima da minha cabeça revelando tudo em que eu estava pensando e causando flagrante. Ao virar-me, constato que a imagem materializada logo ali, em pé, é extremamente real. Os olhos fixos abaladores de psicológicos, a barba por fazer que realça fisicamente um Max mais maduro e que me faz ter ódio por muitas vezes desejar sentir seu atrito em minha pele, a postura letal... Tudo bem sólido.

Como conseguiu me encontrar aqui? Que ótimo esconderijo, Maysa. Brilhante!

— Max, você não precisa agir dessa maneira nem ter pena pelo que eu disse. Tanto tempo já passou...

— Maysa... — tenta o direito a palavra. Mãos no bolso, o rosto alternando entre olhar para mim e para a areia.

Uns dez passos nos separam, mas parece uma longa distância. Aquele casal do bar depositado em algum lugar esquecido dentro de nós, como no porão de uma grande casa.

— Além do mais, você prestou atenção na parte em que digo que hoje muita coisa mudou? — o interrompo. Pronto, a alavanca do "dane a falar" foi acionada com sucesso. — E na parte em que sei me defender e sou um perigo para olhos? Particularmente, adoro essa parte.

— Maysa... — tenta mais uma vez.

— Então pode ficar tranquilo! — com mais inclinação a atropelos do que um caminhão desgovernado e uma boa dose de irreverência, mostro que a preocupação não é necessária. Ou tento. — Até porque, Arthur já está se sentindo culpado o bastante e...

Ops. Ele está se mexendo. Os dez passos estão se encurtando. Ah, merda.

Graças a minha matraca e ao término da paciência de Max, o seguro dez é transformado em um saldo quase negativo, que ainda traz de brinde um par de mãos quentes e firmes pousadas em meu rosto com a destreza de quem ainda sabe me tocar como ninguém.

— Você tem algum problema com aproximações. — constato com uma fala imprecisa e os olhos arregalados passeando entre suas mãos, braços e semblante pesado. — Não que eu esteja dizendo que é um problema com outras pessoas, mas nesse caso aqui...

Já perdi o fio da meada há muito tempo.

— Você tem algum problema em controlar o número de palavras que sai da sua boca a cada segundo. — retruca.

— Ei! Eu sei me contro...

— Escuta. — seu polegar toca minha boca e, agora sim, me impede mesmo de continuar. O deslizar do dedo por meus lábios também o cala por um momento. — Agora você só me escuta.

Respiração pesada e coração acelerado. Estou sendo transportada direto para o passado. Antes dessa viagem eu já nem lembrava dos efeitos nocivos dessa combinação e, honestamente, preferiria continuar assim.

Esse é um efeito mau, muito mau. Do tipo que faz pensar em coisas erradas.

— Desculpa, Maysa. — Pronuncia abalado.

Desculpa? Não faço ideia do que está acontecendo, mas tenho a impressão de que não está se desculpando por ter dito que falo demais. Cada pedacinho dele alerta para uma menção ao nosso término e sou pega totalmente desprevenida. Falar aberta e diretamente sobre isso não estava nos planos.

O plano era passar por essa prova de fogo intacta e permanecer outros cinco longos anos sem qualquer contato. O plano era considerá-lo uma espécie de evento astronômico que passa por meu céu silenciosa e ocasionalmente, como um eclipse raro.

O Outro Lado do Mundo [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora