Apresentação - Colin

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"Você sabe onde seu amor está? Você acha que o perdeu? Você sentia isso de um jeito tão forte, mas nada ficou do jeito que você queria." - Say (All I Need) - One Republic 


Edimburgo – Escócia


Se há um boato verdadeiro e inquestionável sobre esse país é o de que ele consegue reunir as quatro estações em um único dia. Agora, por exemplo, estamos na parte dele onde o vento é cortante e o céu cinza. Quase tão cinza quanto meu humor por ter decidido vir escutar pessoalmente uma proposta absurda que Martin, o gerente da agência de turismo que recentemente ferrou com meu trabalho, resolveu fazer.

Edimburgo é basicamente dividida em duas partes: ao norte fica a Cidade Nova, a parte da cidade que é moderna e tem construções que acompanham a contemporaneidade da maior parte do Reino Unido e onde fica concentrada a maioria de seu comércio, bancos e universidades. Ao Sul, temos a Velha Cidade, que preserva a arquitetura medieval escocesa e parece ter saído direto de um livro de História. E é nessa mesma parte Sul que está localizada a tradicional agência de turismo de James Calter, um escocês arrogante que parece respirar unicamente o trabalho dessa sua empresa. Assim como o restante das construções presentes na estreita, mas bastante frequentada, rua onde está inserido, o lugar mantém toda uma atmosfera peculiarmente antiga, se vista do lado de fora. Alguns poucos metros e degraus me mantém afastado da porta de entrada dali durante o momento que aguardo próximo a curta escada que direciona à entrada da agência.

Encosto no corrimão e fixo meus olhos na bela vista que a rua proporciona do famoso castelo da cidade enquanto o filho da mãe cheio de pompa que o tal James escolheu como braço direito não aparece. O barulho da porta de vidro da entrada se abrindo e dos passos pelas escadas molhadas de sereno, entretanto, não demoram a dar as caras.

— Então você veio... — sua postura prepotente é um pouquinho disfarçada por uma tentativa de naturalidade e cordialidade no tom de voz ao me encontrar. Quase como se eu fosse um dos seus potenciais clientes prestes a fechar um pacote de viagem bem completo.

— Queria ver até onde sua cara de pau podia chegar — também tento, mas abandonar o tom cáustico não é uma opção. As opções aqui estão entre quebrar ou não a cara do idiota e isso por si só já está me dando bastante trabalho. Esforçar-me para escolher a alternativa que diz não é bem difícil.

— Eu espero, sinceramente, que aquele problema que tivemos já tenha ficado para trás, Colin.

À medida que ele sorri com uma despretensão fingida, mantendo uma postura altiva, posiciono-me de modo que consiga encará-lo friamente. Com a pose de competente e responsável que preserva o tempo inteiro, não é qualquer um que, à primeira vista, pode dizer que o sujeito de meia idade vestido socialmente aqui na minha frente pode ser tão dissimulado e exageradamente ambicioso. Pouco me importaria sua ambição se ela não tivesse se metido na minha vida e causado tanto estrago.

Conheço Martin há muito mais tempo do que gostaria. Ainda era bem novo quando ouvi as primeiras notícias sobre ele de quando começou a trabalhar nessa agência e não descansou até ganhar a confiança de James Calter e fazer com que o antigo gerente do lugar fosse demitido para que, dessa forma, tomasse o lugar para si. O gerente trabalhava aqui há anos, era apaixonado pelo que fazia, mantinha uma amizade com James e foi chutado de repente por conta de intrigas. Gerente esse que é o meu pai.

— Problema? De qual deles estamos falando? — retribuo com sarcasmo. — Não, eu não seria tão rancoroso...

Não é exagero afirmar que nossos "problemas" são, definitivamente, no plural.

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