Capítulo 12 [Parte 1]

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"E se você apenas me abraçasse, nós nos manteríamos firmes pra sempre. Estamos vivendo em um barril de pólvora e soltando faíscas [...] Era uma vez, havia luz na minha vida, mas agora há só amor na escuridão. Não há nada que eu possa dizer. Um eclipse total do coração". - Total Eclipse of the Heart – Bonnie Tyler


MAYSA

— Esse já é o quinto recado que deixo, Brian. — prendo o celular no ouvido e me comporto como uma estátua viva para que o sinal arduamente encontrado não desapareça — Estou começando a me preocupar. Não teve outra crise de ansiedade e precisou se trancafiar num desses spas que confiscam os celulares dos clientes, né? Enfim, espero que esteja bem. Liga ou manda algum sinal de vida assim que puder, ok? Sei que não estamos acostumados com isso, mas... Estou precisando de você.

     Com um respiro ansioso e angustiante, finalizo a ligação e encaro a tela do telefone antes de descer cuidadosamente da pedra mais alta do conjunto de rochas formadas nesse canto da praia de Achmelvich. 

     A cada vez que consigo me conectar com a tecnologia, acho que vou encontrar alguma ligação perdida ou mensagem de Brian que explique porque diabos seu celular está sempre desligado ou chama até que a ligação caia na caixa postal quando tento contato, mas isso nunca acontece. Hoje em especial minha vontade de ouvir sua voz é maior. Minha necessidade, eu diria. Necessidade de me afastar dos pensamentos conflitantes, necessidade de cuidado. Se alguém dissesse em voz alta eu negaria até a morte, mas acho que todo aquele balanço que fiz sobre minha vida pode ter me deixado um pouquinho carente e Brian é a tentativa de buscar ajuda, por mais que eu saiba que não fazemos parte do rol de namoradinhos fofos que se apoiam.    

     Bom, nunca é tarde para tentar, não é? 

     Camuflada pelas grandes pedras que transmitem a falsa sensação de isolamento do restante da praia ao dividi-la em certo ponto e proporcionar um pequenino paraíso particular, sento a beira-mar e tento praticar o que faço de melhor: buscar conforto em mim mesma. Uma retrospectiva ainda mais longa de acontecimentos marcantes querem se juntar a esse momento e invadir meus pensamentos. Balançar a cabeça para espantá-la não está adiantando. 

      Em uma época diferente, quando minha realidade atual era só um sonho distante, a Maysa anônima imaginava ser como é hoje? Claro que ela piraria se lá atrás recebesse uma mensagem do futuro avisando dos flashes que logo estariam voltados para ela, mas talvez também decepcionada se fosse alertada sobre o fato de que não conseguiria sempre ter tudo que quer, do jeito que quer. Na realidade, a dificuldade em aceitar isso ainda é uma ligação que temos, mesmo que a Maysa do presente saiba lidar bem melhor com tal verdade.

     Lembro como em um filme passando por minha cabeça do dia exato em que meu caminho começou a ser traçado. Em mais uma tarde comum recebi do olheiro da agência americana com quem já vinha mantendo contato desde que fui descoberta por ele o aviso de que um agente tinha interesse em apostar em mim como new face em uma das maiores cidades voltadas para a moda do mundo e achei estar em um universo paralelo. Estava voltando de uma aula de passarela no momento em que recebi a ligação com essa notícia e assim que desliguei abracei umas cinquenta pessoas aleatórias que fui encontrando pelo resto do caminho até em casa. Ainda bem que nenhuma delas teve a ideia de colocar a exagerada demonstradora de afeto em uma camisa de força. 

     Mas havia uma pessoa em especial que eu desejava abraçar com toda a intensidade. A mesma que, ao passar por meus pensamentos, me fez vacilar e pensar mais a fundo no que a "boa nova" representava.

     Coincidentemente, Max já tinha combinado um encontro "especial", segundo ele, para aquele mesmo dia e segurei a ansiedade para conseguir contar tudo pessoalmente. Assim que, no fim da noite, cheguei à porta do bar onde se apresentava constantemente, no outro lado da minúscula cidade, a confirmação do quesito especial surgiu com o estranhamento em ver o cenário completamente vazio e com zero movimento. 

O Outro Lado do Mundo [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora