- Capítulo 11 -

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Sentando na proa da embarcação, encarando a terra, minha terra, minha casa, era quase possível ouvir os pensamentos de Evelyn que, como eu já havia percebido, me encarava a um bom tempo, mesmo que ela não tivesse dito uma palavra sequer desde que minha mãe apareceu para mim.

Ela diria que eu estava sendo infantil, que eu devia ouvir minha mãe, senta e escutar os motivos dela. Entretanto, para ser profundamente sincero, tão profundo quanto o oceano Pacífico, ou então quanto o buraco que havia aberto em meu peito quando eu a vi, eu não estava nem um pouco inclinado em ouvir, quaisquer que fosse, os motivos que levaram minha mãe nos abandonar.

Eu ainda não sabia se meu pai também estava vivo e preferia não ficar sabendo, pelo menos por enquanto. A dor que ela havia presenteado a mim já era o suficiente para uma década. Eu olhava o horizonte justamente para ocupar minha mente com algo mais útil, tentando pensar no que eu poderia fazer para ajudar e salvar o reino de meu irmão, aquele que esteve lá conosco enquanto passamos pelos piores dois anos de nossas vidas, aquele que, mesmo cheio de obrigações não se esqueceu que tinha uma família, aquele que agora consolava minha irmã pela minha suposta morte, assim como eu fiz com ela quando o pranto era por nosso pais. Eu tinha que fazer algo logo, voltar logo para eles, para minimizar o luto.

Eu estava pensando em como poderia mandar alguma mensagem para eles, afim de avisar que eu estava vivo e bem, e que estava fazendo o possível para salvar nossa casa e voltar para eles, quando senti uma mão massageando minha costa. Finquei tenso com a possibilidade de ser minha mãe, mas no fim era Evelyn, que beijou meu ombro e pegou meu braço para abraçá-lo.

- Quer saber no que eu estava pensando? - perguntou-me, apoiando a cabeça no meu ombro.

- Não - respondi, um pouco seco demais, porém, ela tinha conhecimento da minha falta de vontade em manter uma conversa naquele momento.

- Estava pensando no dia em que contei para você que estava grávida - prosseguiu dizendo, ignorando minha recusa em escutar - Eu tinha recusado ir com vocês em um passeio de cavalo por que já sabia do bebê e estava enjoada. Eu estava com medo de você me chutar palácio a fora e precisar me explicar para meu tio. Eu nunca tinha conversado com você de verdade e já tinha visto que você parecia muito sério e mandão perto de seus irmãos.

- Eu não sou mandão.

- Cala boca, ainda não terminei - disse dando uma cotovelada nas minhas costelas - Mas você percebeu que eu estava estranha e veio me perguntar o que estava acontecendo. Depois que te expliquei a situação e implorei para não me expor, você disse que cuidaria de mim, de meu bebê e me pediu que também fosse generosa com você e então você me contou de Danitria, seu irmão, sobre o passeio, como ele estava todo carinhoso e atencioso com ela e como isso te deixava com vontade de socar ele. Foi a conversa mais longa que tive em minha vida. Eu te contei minha história com Gustavson, você me contou a sua com Danitria e como você sabia o que fazer, mas que não queria fazer, porque aquilo significava abrir mão de algo que você nem sequer tinha. Eu também estava pensando em como aquilo foi tão diferente da sua discussão no corredor com Danitria. Ela entendeu que eu estava grávida de você e terminou tudo, disse que iria embora com seu irmão e que era pra você esquecer ela. Já pensou em como tudo poderia ser diferente se você tentasse tido a chance de se explicar, conta a verdade, que você assumiu meu bebê para me proteger e que eu sabia de vocês e estava disposta a ajudar em seu segredo?

- Está mesmo me fazendo uma pergunta tão óbvio? - perguntei em resposta. 

- Ja. - confirmou em seu idioma natal.

- Sim, eu me pergunto sempre e rezo para que ela deixe que eu me explique quando acordar. Não sei se aguentaria mais um dia afastado dela, estando ela consciente e tão perto de mim.

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaOnde histórias criam vida. Descubra agora