Capítulo 3

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Eu ainda não tinha informações palpáveis sobre Danitria, mas, graças aos G6, meu corpo estava se recuperando bem mais rápido que o esperado, o que não adiantaria muito sem a localização dos outros, se é que estavam ali.

Minha mente ficava trabalhando em possíveis planos de fuga e geralmente se perdia em frustração. O medo é a culpa me mantinham acordado até ser derrubado pelo sono.

Despertei com o susto de mãos me puxando da cama, sem entender o que estava acontecendo. Havia um homem na porta, mas sem a costumeira posse de guarda e me vi interessado no medo que vi em seu rosto.

Não questionei as ordens de Otávio para que eu me apressasse. Por mais assustados que pudessem estar, não havia pânico nem sinais de que o local estava sendo atacado. As pessoas estavam com pressa, mas andavam em filas, seguindo pelos corredores até os fundos, que parecia um grande galpão de carga e descarga.

Havia caminhões prontos para partir, onde estavam as crianças e todos os adultos que eu não tinha permissão de ver antes. E então, um estalo. Ela estava ali.

- Otávio - um homem grisalho gritou -, vocês vão no caminhão laranja.

- Certo, senhor.

- O que está acontecendo? - perguntei sem deixar de olhar à nossa volta.

- Remanejo. Aqui não é mais seguro.

Suas palavras apenas confirmaram meus pensamentos. Estavam me procurando e aquela localização já havia sido marcada, e se eles estavam a caminho, eu tinha que encontrá-la.

- Cadê ela? - perguntei. - A garota que veio aqui comigo, onde ela está?

- Segura! - ele afirmou, e com isso eu tive a confirmação de que ela estava ali.

- Quero vê-la. Agora! - mas Otávio não parecia nem um pouco disposto a colaborar.

Se minha teoria estava certa, aquela não seria uma invasão pacífica e eu não seria ouvido quando gritasse que não sairia dali sem Danitria. Olhei ao redor, com meu coração batendo tanto como as asas de um beija-flor com o medo de não a encontrar a tempo.

- Otávio - comecei, com um tom de voz suplicante que eu não costumava usar. - Eu amo essa garota, preciso ver se ela está bem. Você disse que não é mais seguro ficar aqui e eu não estarei em paz sem a certeza de que ela está segura, e eu só a terei quando eu a tiver comigo - expliquei, suspirando antes de suplicar esse favor.

Otávio bufou em respostas, mas ao invés de me negar, puxou-me com ele por meio da multidão que aos poucos aumentava naquele minúsculo lugar. Eles falavam entre si, mas eu não prestava atenção. Eu buscava seus olhos azuis naquele mar de pessoas, e desejei que os cabelos delas não fossem castanhos, pois, se fossem de uma cor não tão comum, eu já a teria achado no meio de tanta gente.

Depois de um tempo, Otávio puxou-me e levou até um caminhão com um adesivo laranja. O cheiro era ruim, e só ao olhar para dentro, percebi que era um caminhão frigorífico com algumas peças de carne penduradas próximo às portas abertas. Ele simplesmente me empurrou lá dentro e disse para eu esperasse, enquanto alguns caras armados me coagiram a sentar nos fundos, onde estava relativamente limpo, apesar do cheiro.

No momento em que senti os motores do caminhão serem ligados, levantei e tentei reagir, mas um dos homens, que dava dois de mim, empurrou-me pelo ombro para trás, piorando ainda mais o meu humor. Coloquei minhas mãos na arma que ele empunhava, grande e pesada, e fiz força para cima, acertando em cheio seu nariz, que sangrou instantaneamente. Quando ele levou as mãos ao rosto, aproveitei para empurrá-lo contra a parede e tentar escapar, mas outros dois homens vieram me segurar, sendo que um deles fez com que eu batesse a cabeça.

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaOnde histórias criam vida. Descubra agora