Retrocesso - The Death

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25 de dezembro, 1687 - Ponto de vista de Aurora Flinkler

Eu podia escutar meu coração batendo forte contra meu peito. As lágrimas pela minha bochecha eram muitas e eu não conseguia fazer elas cessarem. O vestido com a armação estava todo rasgado e sujo por conta da chuva que caía e fazia a terra se tornar lama.

Não sabia responder se ele ainda estava a me seguir porque só eu já fazia barulho suficiente. Os galhos das árvores daquele bosque quebravam o tempo todo.

Rezava mentalmente para encontrar alguém, pedia piedade a Deus e que não deixasse nada acontecer.

Me vi sem saída ao chegar ao penhasco, o sol se pondo me deixava apavorada porque não poderia voltar e se eu esperasse anoitecer em algum lugar seria horrível por conta dos lobos que vivem nessa região; O som das ondas se batendo contra as rochas enormes eram altos e eu já não sentia a calma com aquilo.

Caí de joelhos, sentindo minhas forças se esvaírem, e olhei para o céu pedindo perdão pelos meus erros e mais uma vez clamando para que aquilo acabasse logo.

- Por que está fugindo, se jura por seu Deus que não fez nada? - Soou a voz alta de Christopher Warken, aquele que fez mil juras de amor para mim e agora me apontava uma arma.

- Christopher, acredite em mim! Eu amo você, por que sairia com outro homem? - Questionei entre soluços e ele andou em minha direção me fazendo levantar, e segurou meu rosto com brutalidade e guardou sua arma.

- Estás a mentir para mim Aurora, como todos os Flinkers, uma mentirosa. - Ele cuspiu as palavras me soltando, fechei os olhos deixando lágrimas escaparem e ele se aproximou. - Disse que seu Deus era testemunha de que me amava, e deve ter dito para Bartolomeu as mesmas coisas.

- Quebrei regras por nós, convivi com sua falta de fé por alguns anos e passei por cima dá minha, porque eu amo você e agora tem dúvidas do que sinto?

-Eu quem tolerei seu Deus esse tempo todo e age dessa forma? Como uma cadela desses cabarés imundos.

- Pensa isso de mim?

- É o que demonstrou desde suas mentiras.

- Eu não menti! Não acredita em minhas palavras? Acredite no meu coração.

- É... -Ele retirou da cintura a pistola e a destravou fechando os olhos e pude ver uma lágrima escorrer pela sua pele clara, brilhando e em seguida caindo sobre suas mãos. - Eu não vou poder escutar nem suas palavras e nem seu coração.

- Por quê? Eu amo você, por favor! - Minha visão estava embaçada, meu corpo? Tremulo e pensamentos tumultuados em lembranças e orações.

- Eu também amo você, é por isso que estou fazendo isso.

Olhando em meus olhos ele atirou, o meu suspiro é o único som que saiu dos meus lábios assim que senti aquele artefato atravessando meu peito, cai de joelhos e em seguida me deitei olhando para o céu.

Christopher se sentou ao meu lado e me puxou para seus braços, acariciando meu rosto enquanto chorava e suas lágrimas escorregavam calma sobre seu rosto.

- Espero que seu Deus una nossas almas em outra vida, para que possa me perdoar por esse ato.

Ele sussurrou sereno, se abaixando e juntou nossos lábios em um último beijo. Não tinha forças para dizer algo, minha respiração já estava fraca e os batimentos do meu coração eram tão fracos que eu podia ver o Sol brilhar mais forte me cegando, fechei meus olhos entregando minha alma para Deus e antes de partir, ouvi a voz do meu amado Christopher em um sussurro.

- Foi por amar você Aurora.


Ponto de Vista de Christopher Warken

O rosto da minha amada estava pálido, lábios roxos e bochechas ainda úmidas pelas lágrimas. A dor corroía meu peito a medida em que o tempo passava. No céu já não havia nenhum sol, só nuvens negras que em questão de minutos soltaram suas gotas d'água molhando nós dois.

Me levantei indo até a ponta do penhasco vendo as ondas se movimentarem com violência, viro-me e olho para o corpo de Aurora. Fechei meus olhos e relaxei meu corpo, sentindo-o cair rumo a água daquele grande mar.

Não iria pedir perdão para aquele ser que todos dizem ser divino, que em minha vida só colou tragédias. Minha mente só havia lembranças dela, e sem ela eu não saberia viver então acabar com minha vida era também a melhor solução.

Além de separar nossos corpos, estava separando nossas almas, ela teria seu merecido perdão e eu seria apenas um ser vagando entre os vivos, ou servindo para aquele Deus do submundo.

Antes de atingir uma rocha, me lamentei por saber que aquele seria o fim do meu amor por Aurora, e a última imagem a passar pela minha mente foi o seu belo sorriso que nunca mais poderia ver.

Sins Of An AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora