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| Andrew Brown

Até ontem me perguntava por que tive a ideia estúpida de seguir a carreira do meu pai. É um saco viver sempre a sombra de alguém. Ser sempre comparado a esse alguém. Ainda mais quando você tem que viver à sombra do grande Henry Brown, o melhor agente que já existiu no FBI. Meu pai teve longos anos de carreira até ficar enjoado de ser tão bom. Fala sério. Até duas semanas atrás ele se gabava e dizia que eu nunca chegaria aos seus pés. Como se eu ligasse. Gosto do meu trabalho e tenho dom para tudo isso, mas não quero ser o perfeito Henry Brown e ser comparado com ele o resto da minha vida, o cara era bom, mas não precisa forçar a barra.

Sim, ele era bom. Meu pai morreu a exatamente vinte quatro horas e já foi enterrado. De que ele morreu? Câncer, ele não era tão inabalável assim. Para completar, fiquei sabendo que ele estava morrendo a dois dias porque ele não se deu o trabalho de me informar. Então você se pergunta, por que,não fui visita-lo. Ele morava do outro lado da cidade e eu trabalhava até de noite, acordava cedo e ia para o trabalho. Final de semana? Missões. Vida de agente não é fácil, trabalho por cima de trabalho.

Nunca tive um bom relacionamento com o meu pai. Ele não se importava se eu arranjava confusão na escola e nem se minhas notas estavam boas, na maioria das vezes a babá se interessava mais em mim do que ele. Nem depois de velho tentou compensar a falta que me fez na infância, a única que coisa que ele sempre soube fazer bem era me criticar, e pode ter certeza, não eram críticas construtivas.

Bato o copo sobre o balcão mais uma vez. Já bebi dois duplos de whisky acho que aguento mais um, mas não tenho certeza se Suzi me servirá mais dois duplos, talvez se Erik jogasse um charme para cima dela... Mentira, ela não quer Erik e muito menos a mim, ela não curte federais, pelo menos foi o que ela disse.

- Vamos lá, Suzi, mais um duplo. - Faço cara de choro.

- Não faça ele chorar - Erik fala com a voz enrolada, ele tem capacidade de beber mais do que eu e também em alta velocidade.

Erik é meu amigo de infância. Estudamos e nos tornamos agentes juntos, sempre dividimos o sonho de trabalharmos no FBI e, de certo modo, a bendita influência do meu pai nos ajudou. Pelo menos isso.

- Vai ser a última. - Suzi olha para nós, séria, enquanto colocava outro duplo para mim - Vai querer outro, Scott?

- Não, estou tranquilo. - Erik dá um sorriso de gato de Alice para Suzi.

- Vocês não têm que trabalhar amanhã? - pergunta como quem não quer nada, Suzi sabe que somos agentes federais somente pela nossa postura, ela disse que andamos de um jeito diferente. Acho que isso não é nada bom, já que precisamos fazer missões secretas.

- Sim - respondemos juntos.

- Mas eu tinha que comemorar... desculpa, é... qual é a palavra mesmo, Erik? - pergunto confuso.

- Tributo? - pergunta um pouco incerto.

- Isso. - Bato palmas, enquanto Suzi observa como posso ser retardado bêbado. - Tenho que fazer um tributo ao meu "querido" pai.

- Seu pai morreu? - Suzi parece preocupada com a possibilidade de eu estar sozinho no mundo, os seus olhos estão arregalados, ela poderia me consolar no meu apartamento se eu fosse o tipo de cara que pega qualquer uma.

Não sou o Erik.

- Sim. Câncer - digo, revirando os olhos. - O desgraçado morreu de câncer, dá para acreditar? - Dou uma risada amarga.

Depois disso, Suzi nos deixou sozinhos. Erik observa as mulheres que passam no bar. Está caçando. Meu amigo quando bebe precisa curar a ressaca com sexo, então, a busca por um rabo de saia é sempre constante. A única que ele nunca conseguiu levar para a cama foi Suzi e ele não se agrada disso. Peço mais um duplo para Suzi e ela não reclama. Que ótimo, está com pena.

Incógnitas | Antes de Tudo, Parte 1 | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora