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| Emma Davis

As roupas que temos para sair são bem poucas, até porque vivemos de doações. Não temos muitas escolhas.

Quando fui falar com a Irmã Glória que teria um encontro no final de semana, ela negou três vezes a permissão, mas, na quarta tentativa, consegui amolecer seu coração. Nunca saio desse lugar, vivo enfurnada vinte quatro horas por dia, só vou para ir a escola, além de ser uma boa menina. As outras garotas sempre dão um jeito de sair às escondidas, quando são pegas ficam de castigo - sem internet por um mês -, mas quando conseguem se safar ficam contando vantagem, as irmãs até escutam, porém, preferem fingir ignorância.

Depois de segunda, Jayden não apareceu em frente a escola. Até ontem. Ele veio me dizer que já havia escolhido o lugar - apesar de ter dito que eu poderia escolher. Não ligo para onde vamos - não conheço nenhum lugar para jantar ou coisas do tipo - as raras vezes que saí do orfanato foram em grupos formados pelas Irmãs, e para assistir filmes no cinema.

Coloco um vestido verde água sobre a cama, ele é feito de tecido, tem um decote quadrado alto, sem mangas, fica quase colado ao corpo e vai até o meio da coxa, mas como sou muito esguia, fica ótimo. Calço uma sapatilha preta e pronto.

Agora é só esperar.

- Já sabe que não pode demorar muito. - Irmã Glória entra no quarto já me advertindo.

- Sei. - Me aproximo e coloco as mãos em seus ombros para acalmá-la um pouco - Sabe que sou responsável.

Ela acena. Saímos do quarto, atravessamos os corredores que possuem diversos quartos, assim que chegamos ao hall nos deparamos com um punhado de garotas de pé tapando a passagem para a saída, elas parecem chateadas, até furiosas. Megan se destaca no grupo com seus cabelos loiros, roupas extremamente femininas, o rosto triangular com uma expressão carregada e os olhos pretos faiscando.

- Por que ela pode sair e nós não? - Megan pergunta.

- Porque ela já tem dezoito anos - Irmã Glória responde e franzo a testa confusa.

Certo, hoje é meu aniversário, estou completando dezoito anos.

Sei que esqueci esse detalhe, contudo, só por simplesmente não comemorar.

Aniversários são festas para serem feitas com a família presente. Não tenho família. Então não vale muito a pena pensar nessa data.

Certo. Estou fazendo dezoito anos, data importante, um grito de liberdade. Mas pensar no encontro com Jayden era mais importante do que a maioridade.

As meninas, sabendo que não têm como discutir com algo assim, dão passagem para que eu saia. Assim que abro a porta, vejo Jayden estacionando o carro em frente ao orfanato. Ele abaixa o vidro e dá um sorriso esmagador. Desce do carro enquanto caminho até ele, dá a volta e abre a porta do passageiro para que eu entre.

- Boa noite, Emma. - Sua voz parece aquecer meus ossos.

- Boa noite, Jayden - digo antes de sentar no banco do passageiro.

Dou um sorriso tímido.

Ele torna a entrar no carro e logo dá partida. Não demora muito até o carro parar em frente a um prédio residencial. Fico confusa. Ele disse que me levaria a um restaurante e agora estamos aqui.

Como um flash, minha mente se ilumina. Ele disse que poderia confiar nele. Não gosto da possibilidade dele me fazer mal em local privado, onde não tem ninguém para pedir ajuda se algo der errado. Posso não ser mais menor de idade, porém, ainda me sinto como uma garotinha que pode ser ameaçada por um homem. Os noticiários estão aí avisando que qualquer um merece sua desconfiança.

Incógnitas | Antes de Tudo, Parte 1 | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora