Lucas de Souza acordou após várias lambidas de sua cadela Duda. O garoto, ainda sonolento, tateou a escrivaninha ao lado da cama até encontrar seus óculos. Ao colocá-los, acariciou a pequena vira-lata de cor amarela que agora latia, e foi até o único banheiro da casa, perguntando a si mesmo se estava atrasado para a escola. Após cerca de vinte minutos, o garoto já se encontrava de frente ao espelho de seu quarto, vestindo a farda escolar e penteando seus cabelos ondulados para um lado, quando ouviu passos no corredor e a porta abriu.
— Saiu do banheiro molhando toda a casa de novo? — questionou sua mãe, Maria Raquel, uma mulher um pouco mais alta que Lucas. Seus cabelos longos e escuros caiam à frente dos ombros, contornando a pele parda e os olhos castanhos como os do filho — Deixa pra lá. To saindo pro trabalho. E o Artur está lá em baixo — completou antes de sair às pressas.
— Manda ele subir — gritou Lucas para a mãe, mas não foi preciso, segundos depois o garoto chamado Artur já estava no quarto. Usava uma blusa vermelha invés da farda escolar e uma mochila que aparentava não ter tantas coisas.
— Vai pra escola sem usar a farda novamente e usar a desculpa de que são tempos de chuva? — ironizou Lucas.
— Vamos logo, cara. Não quero levar outra advertência por atraso além de estar sem farda! — pediu o amigo, bagunçando novamente os cabelos castanhos de Lucas enquanto a cadela latia e abanava a calda. — Assim está melhor! Vambora!
— Será que eu nunca vou ter uma manhã de paz e silêncio? Bom dia pra você também, Artur - cumprimentou Lucas ironicamente. Desistiu de pentear os cabelos novamente, pegou seu celular na cama e saiu às pressas dali.
Artur tinha os mesmos dezesseis anos que Lucas e ambos estavam no primeiro ano do ensino médio, mas se conhecem desde o ensino infantil. Mais alto e interativo que o amigo, Artur sempre defendia Lucas quando este entrava em algum tipo de discussão. Não que Lucas arrumasse brigas por aí. Na verdade, as brigas vinham até ele; um tanto baixo e magro, usava óculos por debaixo dos cabelos bagunçado e, pra completar, um CDF, atraia sem motivo algum brincadeiras de mal gosto. Isso mudou quando conheceu Artur. Desde aquele dia, os dois sempre vieram compartilhando suas personalidades. Hoje Artur tem suas notas mínimas acima da média escolar, enquanto Lucas aprendeu a interagir mais com outras pessoas.
Lá fora, os garotos caminhavam depressa (ou corriam devagar) até chegarem ao ponto de ônibus. O céu estava nublado e ameaçava chover, o que era comum nos primeiros meses do ano, principalmente em fevereiro. Artur morava na rua de trás da casa de Lucas, onde acabavam de passar. Por onde andavam era visível algumas decorações de carnaval; casas recém pintadas; faixas de fitas multicoloridas amarradas em barbante; pequenos comércios anunciavam a venda de máscaras, fogos, serpentinas e etc. Eles moravam em uma comunidade periférica da cidade de Fortaleza, capital do Ceará. A favelização e a falta do olhar das autoridades políticas contribuíam para o tráfico em diversos pontos da cidade, como na comunidade em que os garotos moram. Logo na manhã, menores de idade caminhavam com suspeita em frente a uma casa onde todos os dias entram outros jovens à procura de alguma droga que preencham seus vazios, ou que simplesmente lhes agradem em seus momentos de recreação. Os dois aceleraram os passos, não por medo ou sequer precaução — pois acreditavam que a relação entre usuários e não usuários era harmônica, ao menos onde moravam —, mas por simplesmente estarem atrasados. Por sorte, um ônibus passou no momento em que os garotos chegavam no ponto.
Trocavam os últimos assuntos quando, sem perceberem, já estavam passando por um bairro nobre com grandes arranha céus; estavam chegando a escola. É bem visível a presença de desigualdade social nas grandes cidades brasileiras. Ora você caminha em ruas de bairros nobres com belos condomínios e grandes construções. Ora você já está caminhando por ruas periféricas, comunidades de classe média à baixa, bem ao lado de prédios luxuosos.
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Lucas De Souza Entre Luz E Sombras: A Arma Perdida
FantasyNada parece ser coincidência quando os maiores demônios do inferno ressurgem e criaturas atacam Lucas de Souza e seu melhor amigo, Artur Martins. As vidas desses garotos mudam drasticamente após conhecerem dois novatos na turma escolar. Desde então...