A Arma na História

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  Depois de pularem o muro da escola, Lucas seguiu os novatos com muito receio, mas acelerou os passos após ouvir uma gritaria de espanto de quem chegava na quadra. Artur ia na sua frente, mas Lucas sentia que o amigo também estava incerto da situação. O quarteto percorreu alguns quarteirões, sem ao menos saber onde ir. Durante esse meio tempo, Lucas sentiu raiva de si por estar com tanto receio. Odiava não saber de algo, e estar correndo ali no meio da rua com seu amigo e mais dois desconhecidos, logo após um zelador se transformar em uma criatura inexplicável e uma luz surgir de si, não o deixava tão confortável. Naquele momento ele só pensava relaxar e refletir sobre o ocorrido.

  — Vamos ao ponto de ônibus! — exclamou ofegante, apontando pra um banco na calçada da Av. Luciano Carneiro.

  — Voltar pra casa? — perguntou Artur. — e dizer o quê ao meu pai? Ele vai me matar se souber que pulei o muro da escola.

  — Também não acho uma boa ideia — opinou Vitor. — talvez as câmeras tenham pegado algo.

  Lucas se sentiu incomodado com a opinião do novato. Queria mesmo era esperar um ônibus naquela parada e ir pra casa junto de Artur, sem mais nenhum outro estranho. Mas ainda tinha uma pulga atrás da orelha sobre tudo aquilo e queria saber mais. Ocorreu-lhe então uma ideia.

  — Vamos a praia.

  — O quê? — questionou Artur.

  — Praia? — o mesmo fez Sara, com o olhar esverdeado confuso.

  — Precisamos nos acalmar, respirar fundo — Lucas sabia que a brisa marítima era seu único refúgio mental naquele momento.

  — Que seja! — Vitor agora parecia pensar como Lucas: só queria sair dali.

  O barulho de uma sirene de uma viatura policial percorreu os quarteirões. O quarteto se entreolharam e saíram o mais discretamente possível dali. Chegaram por fim na Avenida 13 de Maio, onde tiveram que esperar quase meia hora aflitos até que o ônibus 052 finalmente chegasse e os levassem a praia.

  Por ventura o veículo estava parcialmente vazio. O quarteto ficou na parte traseira do ônibus. Cada um olhando o outro com esperança de que alguém falasse algo, mas ninguém teve progresso, com exceção de Sara, que parecia indiferente a situação. Vinte minutos depois de muitos arranha céus em quarteirões de alta classe o ônibus entrava na Avenida da Abolição, onde metros depois o mar já era visível das janelas à direita, onde Sara grudava o rosto para admirar. Lucas estava muito nervoso, atento a cada rua em que o veículo dobrava. Faltava mais duas paradas até chegarem ao ponto onde Lucas gostaria de descer. Artur mexeu no bolso pra tirar o dinheiro que seu pai havia dado mais cedo, mas correu em Lucas uma ousadia que até o mesmo estranhou.

  — Espera! — exclamou, pondo a mão no pulso de Artur. O cobrador que até então não largava do celular deu uma leve olhada para trás. — Podemos precisar dessa graninha pra mais tarde — terminou Lucas, quase num sussurro.

  — Então o que faremos? — indagou Artur. — Precisamos passar.

  O cobrador olhou novamente pro quarteto, enquanto o ônibus desacelerou para que mais alguns passageiros subissem. A porta traseira então abriu e três pessoas subiram. Uma delas logo pagou a passagem ao cobrador e passou pela catraca. Os outros dois, um casal, sentaram de trás de Vitor.

  — A nossa parada já é a próxima, Lucas — lembrou Artur.

  O garoto não ligou. Minutos depois, o ônibus começou a desacelerar novamente. Lucas olhou para a porta traseira e, ao olhar para Artur, cruzou com o olhar bastante desconfiado do cobrador. Nessa hora a porta traseira abriu novamente e, em um instante, Lucas tomou fôlego, levantou-se puxando Artur e, chamando os novatos, saiu pela traseira do ônibus sem pagar passagem, antes mesmo que passageiro entrasse no veículo.

Lucas De Souza Entre Luz E Sombras: A Arma PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora