O Plano de Um Caído

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  A densa e pequena nuvem de fumaça negra voava velozmente, mas quase despercebida pelos céus escuros, embora deixasse um rastro suave ao longe. Abaixo, um cenário catastrófico onde se ouvia gritos em meio às chamas.

  Depois de um curto tempo, a nuvem negra deslocou-se num declínio assustador em direção à uma enorme construção que se destacava em meio ao caos. Mais parecia um tipo de fortaleza. E próximo ao topo da mais alta torre havia um tipo de varanda cujo era protegido por criaturas de diferentes formas.

  A nuvem mirou na direção da varanda, onde segundos depois colidiu, causando uma explosão. Tudo ficou coberto pela fumaça, mas os ventos que carregavam o odor de enxofre fizeram-na se dissipar aos poucos. Quando toda a poeira e fumaça passaram, as criaturas que momentos antes estavam ali, já não se encontravam mais, e, no lugar da fumaça, erguia-se a silhueta de um homem — pouco visível à luz das chamas que ardiam metros abaixo dali. Ele caminhou em formal postura na direção de um grande portão negro que abria lentamente, dando acesso a parte interna da torre. Ao adentrar vozes sussurraram em sua cabeça ao caminhar por um grande salão escuro.

  — Repugnante...

  — Sim, saia daqui...

  Havia várias colunas de mármore negro nos dois lados do salão que se elevava tão alto que não era possível ver o teto. Ao passar por uma delas, o reflexo de um homem aturdido de meia idade, com cabelos grisalhos e pouco bagunçados, barba a se fazer e vestindo um elegante e desbotado terno escuro apareceu no mármore negro límpido.

  — Volte...

  — O Pai das Invenções...

  — O caído...

  Seus passos ecoavam alto pelo salão, mas hesitou ao se aproximar e perceber uma presença viva em um trono que ficava no escuro fundo do salão. Mas, deixando brevemente de lado a atenção que atribuiu ao trono, o homem ergueu suas sobrancelhas ao descobrir que não eram sussurros que ecoavam em sua mente e por todo o salão. Invés disso, zumbidos, como milhares de moscas, falavam em uníssono.

  — Não se aproxime!

  Suspirou num assobio terminando em um leve sorriso, não ligando para os insetos.

  — Típico de você — disse o homem gesticulando com a mão em direção ao trono e, em seguida, fez uma leve reverência.

  — Perdoe minhas criaturas — disse uma voz grave, mas um tanto harmônica, vinda do trono. — Ansioso Belf? O grande dia se aproxima.

  O homem de terno, chamado Belf, encolheu os ombros.

  — É, Bu. É inegável. Reunião motivacional, essa que tivemos. O Pai de Todo o Mal mostra ideias... peculiares.

  O homem sentado no trono, chamado Bu, levantou-se saindo da escuridão. Caminhou em direção a luz, onde estava Belf, revelando-se um ser com um corpo definido e de aparência jovem. Sua pele era cinza como nuvem de tempestade. Usava apenas calça jeans de um azul profundo, marcado por detalhes brancos de rasgos. Em seu corpo não havia pelagem alguma, mas havia inúmeras tatuagens, diferente símbolos e números, porém, se destacava mais a do peitoral; tinha o formato de uma estrela de cinco pontas. O mais assustador nele, no entanto, não se encontrava em sua pele ou tatuagens, mas em seus olhos. Eram intensamente vermelhos como sangue. Bu arqueou uma sobrancelha.

  — Só tem isso a dizer? Sabe o quão foi difícil reunir três dos maiores demônios dos sete andares do inferno? — Bu falava enquanto caminhava a leve passos ao redor do homem de terno. — Isso é um fenômeno que só aconteceu séculos depois da última guerra celestial. E você diz que foi uma reunião motivacional do Pai De Todo O Mal? — terminou novamente defronte ao convidado.

Lucas De Souza Entre Luz E Sombras: A Arma PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora