Capítulo 6

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- Anne- aquela voz me chamou a atenção enquanto a cena congelava no momento em que estava e Chris parava de falar enquanto apertava os botões do controle do video game. Estava tudo parado como se alguém tivesse apertado o pause em um filme.
- Mãe- sorri vendo minha mãe biológica de pé ao meu lado.
Ela parecia cansada, meio acaba. Não era essa a imagem que eu me lembrava dela. Ela era uma mulher cheia de vida e carinhosa até meus cinco anos.
- Você precisa ir- engoli em seco negando com a cabeça- mas você precisa.
- Eu não estou pronta- falei ainda negando com a cabeça- eu já sei qual vai ser a lembrança final, e eu não estou preparada para ver aquilo, não de novo. Eu quero acordar, mas eu...
A mulher a minha frente sorriu docemente para mim se sentando ao meu lado no sofá e segurava minhas mãos entre as delas.
- Anne, a lembrança só vai aparecer quando você estiver pronta, saiba disso. Se a próxima porta que você abrir for ela, você está cem por cento pronta para enfrentar aquele momento.
Assenti encarando o chão pensando a respeito. Eu realmente não queria ter que enfrentar aquele dia uma outra vez, mas aquilo era a chave para me fazer acordar.
- E agora?- pergunto me levantando com ela- qual a próxima?
- Essa é... - ela começou me acompanhando para a porta da frente- essa é uma de suas memórias mais marcantes Anne, saiba disso.
A porta se abriu a minha frente e a imagem dentro dela estava turva, como se eu estivesse vendo através d'água e tudo estava embaçado e trêmulo.
- Boa sorte- ela me desejou enquanto eu dava um passo a frente fechando os olhos e atravessando o que eu gostava de chamar de portal.
O cômodo pequeno cheirando a mofo me fez prender a respiração antes dela ficar rápida e descompassada.
Por que eu não estava onde devia nessa memória? Parecia que eu estava vendo tudo de fora, como em uma Tv.
A garota de 14 anos estava debruçada sobre a pequena cama, chorando e pensando onde estava. Seus cabelos castanhos escondiam seu rosto e olhos inchados enquanto tentava raciocinar direito. Essa era uma cena que eu nunca esqueceria. Minha mãe tinha razão. essa era uma cena muito marcante para mim.
O pequeno quarto nos fundos de um galpão velho, era tão sujo que os ratos passavam pelos cantos das paredes, fazendo barulhos irritantes e assustadores com as patas.
- Annelize- o homem pareceu na porta do quarto- Justin vai te levar embora.
Naquela época eu não havia percebido, mas o olhar de Marco em mim era como um explorador olhava para sua mais nova descoberta. Ele estava fascinado com a filha de seu antigo amor que ele queria proteger a qualquer custo, mesmo que para isso ele precisasse sequestra-la. Hoje eu entendia seus motivos, mesmo não aprovando totalmente.
Ainda era meio confuso saber que Justin estava enganado sobre o trabalho que recebera, eu não iria morrer, ou ser obrigada a fazer trabalho forçado, eu iria viver um vida no mínimo normal. Como Sarah estava vivendo com ele.
- Para onde ele vai me levar?- ela perguntou fungado, e eu sabia que ela estava assustada, mais do que deixava transparecer.
Justin nunca, em nenhum dos primeiros dias na sua casa, demonstrou um sentimento por mim, parecia que eu era um fantasma naquela casa, mas agora sabia que ele apenas queria me afastar, pois achava que eu iria morrer e que de chegasse perto demais, ele iria se machucar. Não fisicamente, mas emocionalmente.
- Ele vai decidir, mas não vai te matar, não se preocupe com isso- ele sorriu para a garota apoiada na cama.
E ele achou que Justin havia me matado. Ironias a parte, ele especificou para Justin não me matar, e achou que eu estava morta. Como ele não matou Justin depois disso eu não sei.
Durante todo esse tempo, eu nunca achei que minha mãe biológica teria alguma coisa com isso, a ideia nunca passou pela minha cabeça.
Saber que ela namorou Marco, ficou com Peter, que tentou me matar, e depois dele deixa-la, ela se matou com remédios para depressão, era um pouco demais para mim. Era inimaginável.
Minha vida já era uma bagunça desde o dia em que nasci.
- Vamos lá Anne- Marco me chamou e saiu do quarto, fazendo a garotinha o acompanhar.
Era estranho ver o momento de outro angulo, era... diferente.
Assim que os dois saíram da sala me recostei na parede atrás e escorreguei até o chão colocando minhas mãos em meu rosto tentando pensar enquanto as deslizava pelos cabelos.
O que eu faria? Ainda estava dormindo e precisava acordar, mas o que aconteceria depois? Eu voltaria com Justin? Peter já estaria morto? Marco iria querer se aproximar?
- Ai- gemi baixo colocando a mão sobre o peito, o que estava acontecendo?
A dor aguda parecia a de um tiro e quando olhei minha mão vi o sangue. Engoli em seco me levantando e indo para a porta, precisava saber o que esteva acontecendo comigo.
A sala estava movimentada com alguns médicos correndo de um lado para o outro. No meio da sala eu estava numa maca com o peito sangrando, no lugar onde a bala havia atingido.
- Consegui retirar- um dos médicos lá falou calmamente enquanto retirava a bala com uma pinça- precisamos fechar o ferimento, antes que ela perca mais sangue. Preciso de mais O negativo aqui.
- Sim senhor- as enfermeira injetaram uma agulha em meu braço começando a transfusão de sangue para meu corpo.
Eles estava fazendo uma cirurgia em mim. Não doía mais, eles haviam aplicado a anestesia em mim.
Era real, eu estava em uma cirurgia para tirar uma bala que quase me matou.
- Ela está aqui a quatro dias, o inchaço só baixou agora?
- Sim senhor, começamos os preparativos o mais rápido possível.
- Tudo depende de você agora querida- uma mulher sussurrou no meu ouvido, mas eu conseguia ouvir claramente.
- Eu vou acordar- falei para mim mesma- não vou morrer depois de tudo que passei.

Oiiie gente, mais uma att. Espero que tenham gostado, estrelinhas e comentários, please. Quem quer que ela acorde???
Por hoje é só bjuus.

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