Parte I - A menina de cabelos negros

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"Eu sabia que você ia conseguir" uma voz doce, que não me era estranha, ecoou pelo quarto. Minha mãe. Ela se encontrava com o mesmo sorriso que eu vira antes de atirar em Débora e apagar. Estava sentada na ponta de minha cama, os olhos azuis me encarando.

Olhei em volta. Eu estava no exato quarto cujo me encontrava há pouco mais de vinte e quatro horas. Só que, ao contrário da outra vez, não havia nenhum dos meus irmãos ali, nem mesmo uma enfermeira, ninguém além de minha mãe. Na verdade, parecia que o prédio todo estava vazio, ou resolveu se aquietar de forma anormal.

"Você" meu tom sai de acusação "Você ia deixar meu irmão morrer" faço uma cara de desgosto, e seu sorriso some, ela olha pra baixo e respira fundo.

"Mary não devia se meter..." ela começou a falar, olhando para o nada, com os lábios retos e contraídos.

"Mary fez o quê você não fez!" gritei, a interrompendo, o quê a fez fechar os olhos e respirar fundo, um pouco impaciente. "Ela o salvou! Ela fez o quê qualquer um teria feito se tivesse o poder de! Você salva Sam e quando Dean morre..."

"Se eu não tivesse salvado Sam você estaria morta agora!" ela gritou, dessa vez me interrompendo, e em seguida respirando fundo novamente e descontraindo seu rosto furioso. Eu ia dizer alguma coisa, mas, por algum motivo, as palavras simplesmente sumiram. "Sou seu anjo da guarda" ela começou a explicar, pacientemente "Não dos seus irmãos. Meu dever é manter-lhe viva, não salvar quem você ama. Eu tive que salvar Sam, porque sem ele Dean ainda estaria amarrado àquele poste, e não poderia impedir sua morte quando Débora acordasse." ela faz uma pausa, e depois suspira "Já a morte de Dean, naquele momento, não era prejudicial à sua vida"

Sinto a raiva me dominar. Ela... Ela... Salvou meu irmão só porque ele me salvaria? Ela não está nem aí pra ele?? Antes que eu pudesse dar um grito, tentei acalmar minha mente e lembrei de Mary. Será que ela só salvou Dean por ser filho dela, e não porque eu pedi? Talvez seja coisa de mãe...

"Mas Mary o salvou. E você deveria estar feliz com isso" finalmente digo alguma coisa, e a cara dela não muda quando responde:

"Não, não deveria. E não estou. Assim como era seu destino viver, era destino dele morrer, e, de uma coisa eu tenho certeza: nada de bom acontece quando o destino é alterado desse jeito." ela parecia preocupada agora.

"Então por que Mary fez o quê fez?" algum tempo depois de refletir, pergunto, com minha voz um tanto intimidada.

"Nenhum motivo justifica" ela diz, severamente, depois suspira "Eu não lhe tinha contado a verdade sobre ter salvo Sam porque estava com medo de você me odiar" ela engole em seco, e olha para os lados "Mas agora eu sei que isso não importa mais" e finalmente firma seus olhos nos meus "Meu dever é te manter viva. Apenas isso" alguns segundos após dizer essas palavras, ela vira o rosto para alguma coisa atrás dela, mas não há nada que eu possa ver, depois torna a olhar pra mim e um pequeno e quase inexistente sorriso se forma no canto de seu rosto "Você tem visita"

Minha cabeça dói como se tivesse sido chocada contra a parede. No lado esquerdo de minha barriga, no local onde meus pontos abriram, eu não conseguia sentir nada, chegando a acreditar que tivessem arrancado-o de mim. Não consigo mexer meu braço esquerdo. Minhas pernas parecem bem, a não ser pelo fato de estarem cansadas e dormentes. Minha mão esquerda, cuja eu havia cortado, estava ardendo.

Logo descubro que não consigo mexer meu braço porque ele está envolto em gesso, e minha mão cortada estava envolta em uma atadura. Tento espiar o local onde meus pontos abriram, e há um pano fino e branco envolvendo todo o meu tronco. Mas noto que não estou mais sozinha.

Dois irmãos e uma vida sobrenaturalOnde histórias criam vida. Descubra agora