Capítulo 4 - Tá, Tatá

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Dan

Quem vai entender a cabeça das meninas? Marina estava me punindo por alguma coisa que nem ela mesma parecia saber. Está certo, eu estava doido para fazer as pazes com ela. Acontece que, apesar de tudo, de toda a vantagem que contei no carro, o meu final de semana tinha sido uma verdadeira porcaria. Paulinho e Lucas eram dois nojentos, fizeram tanta piada infame na praça de alimentação do Iguatemi e no Planeta Açaí que nem uma gatinha sequer olhou pra gente.

Está bem, eu admito, a Mari fazia falta. As conversas dela, embora chateassem de vez em quando, eram sempre muito inteligentes. Andar com ela era sinônimo de se dar bem no que quer que a gente fizesse, sabe? E, pensando nisso, no dia seguinte seria o bendito teste de português. É claro que eu precisava dela para não levar um super divertido e enorme zero.

Mari

Estudar no 2 de Julho era muito bom. Os horários eram rígidos, o ensino bastante apertado, mas a galera compensava. Havia gente de todo tipo por lá: garotos lindos, garotos feios, meninas insuportáveis, meninas gente fina... Os professores também eram dez. Claro que, para quem não gostava de estudar, a maioria deles era de carrascos. Eu e Dan estudávamos na mesma turma, infelizmente, e quase sempre nos sentávamos próximos um do outro, mas não naquele dia.

Toda turma tem suas panelinhas, a nossa não era diferente. O fundão pertencia àqueles que gostavam de conversar, mas estudavam; o lado esquerdo da sala era a concentração de mauricinhos e patricinhas que se faziam de inteligentes, mas sempre escapavam antes de todo mundo; o lado direito costumava acolher os menos ativos nas aulas; a frente era o lugar dos cdf's e puxa-sacos de professores; já o meio era o meu lugar, meu e de mais alguns que se aproximavam para tentar estudar comigo depois das aulas.

Cheguei primeiro do que Dan, ele sempre deixava para entrar na sala bem pouquinho antes do professor. A gente teria dois tempos de matemática, um de História e, após o intervalo, mais dois de biologia. Andrei, nosso querido professor, entrou, deu um bom-dia animado e começou a aula. Poucos instantes depois, senti uma cutucada nas costas.

— Marina...

Olhei para trás. Era Taila, a garota mais gaiata do colégio, e, também por isso, a menos agrupada. Tatá, como gostava de ser chamada, costumava pular de panelinha em panelinha sem nunca se firmar em nenhuma delas. Acho que, na verdade, o pessoal tinha medo de fazer amizade com ela e terminar se dando mal. Sim, porque Tatá era mesmo desbocada.

— Minha lapiseira tá sem grafite — ela sussurrou. — Você tem ponta 0.7 aí, pra me emprestar uma?

— Não, eu não uso lapiseira — respondi meio desconfiada. — Mas tenho lápis HB, você quer?

— Lápis HB?! — puxou a carteira para o lado da minha. — É, né? Não tem tu, vai tu mesmo... Dá cá que eu te devolvo no final.

Abri meu estojinho, peguei o lápis e o entreguei a Tatá.

— Vem cá, que mer... — olhei feio para ela. Palavrão comigo, não! — Quer dizer... — ainda bem que Tatá entendeu. — Que assunto cabuloso é esse aí, hein? Não tô sacando nada.

— É Função Afim — respondi e dei um sorrisinho, Tatá era mesmo uma figurinha. — Tenta prestar atenção na aula, o que você não entender, eu explico depois.

Ela assentiu.

Dan

As aulas de matemática e física eram sempre ótimas, a de química também era muito boa! As de inglês e espanhol nunca me deram problema, já as de História, português, biologia, geografia e companhia limitada... Quem entende isso? Estava na cara que a minha era mesmo a área de exatas. Só que, antes de chegar à faculdade de engenharia, eu precisaria enfrentar e vencer aqueles quatro bichos papões. Por falar em bicho papão, a Mari continuou na dela, ou seja, me fazendo de cachorro. Sentou-se bem no meio da sala, como sempre, e ainda puxou conversa com a maluca da Taila. De vez em quando, eu olhava para elas como quem não quer nada, sabe? Mas a Mari nunca me olhava de volta.

Simplesmente Dan - Livro 1 #DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora