Acabo de descobrir que sou uma covarde. É estranho saber disto, pois fui criada para não agir como tal. E o que aconteceu foi que a minha demonstração gratuita de raiva me deixou em uma situação embaraçosa com todos. Sei que devo ser madura em determinadas situações, porém, eu terei muito tempo para agir feito uma pessoa madura, agora eu só quero agir feito uma pessoa que não sabe o que está fazendo. Quero agir feito uma menina de dezessete anos, que ainda pode se dar ao luxo de ser imatura. A vergonha depois do ocorrido foi gritante. Saí de lá depois de me desculpar com todos e me enfiei no chuveiro do vestiário. Tem coisas que precisam ser lavadas com água e sabão, até a culpa e vergonha entram nessa equação.
Coloquei a roupa que havia demorado um pouco de tempo a mais do que o habitual. Terminei tendo que colocar um top – que ao meu ver não segurava muito os meus seios – por conta da blusa de alcinhas.
Henrique estava me esperando do lado de fora.
- Rico... – Começo a dizer quando vejo que ele está me esperando.
Ele levanta o dedo indicador para mim e seu rosto estava realmente contorcido de culpa.
- Eu queria me desculpar. – Ele disse e ficou me encarando. Não sabia o que deveria fazer, pois eu ainda estava constrangida com a minha rebeldia idiota na piscina. Era uma competição boba. – Eu sei que não deveria ter feito algo deste tipo com você. Afinal, você é a minha melhor amiga. Então o meu compromisso é com você e ninguém mais.
- É a cumplicidade masculina. – Eu digo sem pensar.
- Como?
- Sim, a cumplicidade masculina. Os homens devem ter algo codificado em seus genes que fazem com que vocês acobertem uns aos outros, ou então, cedam a pedidos idiotas mais facilmente que as mulheres. Eu realmente invejo vocês disto.
- E isso é algo que vai ajudar...? – Eu sei que ele está esperando por uma resposta lógica. Não acredito que vou ter que dizer com todas as letras.
- Está desculpado! – Dou um soco bem no seu peitoral que ainda está sem camisa. Ele sorri e me abraça em um aperto de urso. Sinto a minha coluna estalando e tenho medo de perder os movimentos das pernas.
– Você também está desculpada! Nunca tinha visto você ficar daquele jeito.
Ele me larga no chão de qualquer jeito.
Movo meus pés e dou um sorriso de alívio.
- Acho que já sei o que pode estar acontecendo... – Vamos andando para longe da entrada do vestiário.
- Você está com ciúmes tanto do Guilherme quanto da Clarissa, certo? – Seus olhares são inquisidores. Eu respiro um pouco mais profundamente para dar tempo de responder algo sensato.
- Não. – Foi tudo o que conseguir dizer.
- Não? – Ele não acredita. – Sério mesmo? Pois eu acho que você deve estar com ciúmes. Eu nunca fui tão próximo assim de uma menina, além de você, como eu estou sendo com Clarissa. E eu não deveria ter colocado Guilherme acima de você na competição... Então, isso só quer dizer que você está com muito ciúme de mim.
- Sabe a sua bola? – Eu pergunto pra ele.
- Hein?
- Não tá com tudo. Você não é essa bola toda não. Vá por mim. Não é ciúme. – Eu estava entregando o jogo com tantas frases pausadas, porém, era isso ou eu iria deixar transparecer que eu realmente estava verde de ciúmes. Queria chegar para Clarissa e dizer que eu era uma pessoa madura e que não iria se importar com tudo aquilo. Porém, eu queria que ela me dissesse qual havia sido a mágica para fazer aquele menino se apaixonar por ela. Tinha quase certeza de que não poderia ser algo como "Sou legal" ahhhh, mas não seria mesmo isso. Eu sou uma pessoa totalmente legal, acredito eu, e olha só onde eu me encontro! – Acho que deve ser outra coisa.
- Humm... Isso explicaria muita coisa, mas eu acho que outra coisa poderia explicar.
Eu já sabia o que ele iria falar.
- TPM! – Ele diz em alto e bom som para todas as pessoas que estavam a nossa volta escutarem. Henrique termina dizendo isso com um brilho em seus olhos, como se tivesse descoberto a cura para alguma doença terrível. Em sua cabecinha ele havia desvendado o mistério de todos os tempos.
- Sim! – Digo, tentando parecer que ele realmente era um cara tremendamente observador que tinha finalmente entendido toda a situação. Coloco um sorriso idiota na cara e fico um pouco ofendida por ele realmente achar que eu poderia sorrir daquela forma.
Vários caras acreditam que tudo o que acontece com a mulher é por conta da TPM. Se aconteceu alguma briga, ela está chata, ela está chorando, ela quer comer muito, ela está engordando... Tudo é por conta de TPM. Só que isso, creio eu, é algo errado. A mulher poderia estar passando por algum tipo de situação, ou então, ela realmente quer comer muito e brigar com todo mundo. Acontece.
Nesse momento eu vejo a TPM como o meu bote de salva-vidas e fico tremendamente feliz com isto. Eu não sabia quando eu estava de TPM. Nunca consegui me distinguir de uma raiva de TPM e uma raiva normal. Mas, nesse momento, eu não iria ligar para isso. Afinal, ninguém se mete com TPM, principalmente homem.
- Ahhh! Então era isso. Olha, não fica preocupada não, está certo? Vou dizer pra eles que você estava um pouco indisposta.
- Você iria me fazer um grande favor, Rico. Eu realmente quero ir pra casa. Acho que irei estragar o dia de todo mundo se ficar aqui.
- Está tudo bem. Pode ir! – Ele para e eu sei que ele irá voltar para os outros dois. – Eu realmente quero saber o que ela vai pedir para eu fazer. – Imbecil - Estou indo nessa, Ló!
E nisso ele vai embora e me deixa lá sozinha.
Vou andando até a saída me perguntando se ele havia notado a roupa que havia escolhido.
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Como Deixar de Amar o Seu Melhor Amigo
RomancePonto. É agora. Eu realmente não acredito que isso iria acontecer logo comigo. Amor é algo realmente banal. Principalmente por conta da pessoa por quem eu fui me apaixonar. Sério, Lorena? Poderia ser todo mundo. Até mesmo o carinha que vende cachorr...