Nossa última lembrança

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Volto para o momento em que eu percebi que gostava de Rico. Gostar de alguém não é para ser ruim, sabe? É um sentimento bom, gostoso, confortável e que nos deixa viciado. Lembrei que a primeira coisa que eu senti ao perceber esse sentimento em mim foi: desespero.

Estava desesperada por um dia perder a amizade dele, de perder tudo de precioso que compartilhamos ao longo dos anos. Eu tive o sentimento totalmente errado, era um absurdo descontar minha frustração e ressentimento em Henrique pelo fato de ter pensado igual a mim.


- Você estava desconfortável comigo? - fico sem jeito e aperto o meu braço direito, estava totalmente incomodada.

- Não estava desconfortável com você - ele se aproxima e fica a poucos passos de mim - nunca que eu irei ficar assim com você. 

- Não faz sentido você me afastar então, Rico... - meus sentimentos estavam tão misturados que já não sabia se estava com raiva dele, triste, se o queria perto em meus braços ou longe.

- Na minha cabeça, digo, naquele momento, fazia sentido. Eu fiquei por muito tempo pensando no que fazer, depois daquele dia que você se declarou para mim. Eu poderia me fazer de estúpido ou poderia encarar você. Eu me fiz de estúpido, e pelo visto não foi melhor pra ninguém.

Ele estava esse tempo todo fazendo um favor para mim, e eu não havia percebido. Ele me conhecia tão bem, sabia de todas as vezes que eu estava mal, feliz, com raiva, confusa e eu não sabia de nada sobre ele. Não que eu pudesse ler os seus pensamentos, mas eu deveria ter me aproveitado enquanto ele se fazia de estúpido para fingir que as coisas estavam voltando ao normal. De colocar na minha mente de que Clarissa era a pessoa certa para ele...

Quão egoísta eu havia sido durante esses meses todos? Quantas vezes eu não havia me apaixonado e ele havia me ajudado? Será que eu iria gostar de ter o meu melhor amigo querendo destruir a minha felicidade em benefício próprio?

- Eu fui egoísta... - finalmente falei.

- Sim, foi. E eu fui um idiota.

- Sim, foi.

Nós dois sorrimos.

- Você nunca me viu como uma menina?

- Eu sempre vi você como uma menina, Ló.

- Não, você me entendeu...

- Não, nunca. E por muito tempo eu fiquei pensando se o culpado não seria eu, sabe? Seria tudo tão simples, fácil e certo estar contigo. Você me entende? - eu concordo com suas palavras com a cabeça, mas não falo nada, quero escutá-lo falando. Tirando do peito tudo o que deveria ter sido conversado, mas que a minha infantilidade sufocou. - Eu te conheço desde que me entendo por gente, nossa família se conhece, seus pais gostam de mim, os meus pais te adoram. Parece a coisa mais certa e natural do mundo, não é? E você é linda - ele se aproxima mais de mim e sinto um arrepio bom tomando conta do meu corpo quando ele me olha falando aquilo. - Você é incrível, você com toda certeza não parece mais aquela menina remelenta de quando éramos criança - ele sorri. - E você não sabe como é um saco ficar escutando os caras falando de você e de quantas vezes tive que ameaçar alguns para falarem com mais respeito. Você é linda.

- Mas você nunca me amou...

- Eu sempre te amei e sempre vou te amar. Não tem ninguém que irá aparecer na minha vida que irá diminuir o que eu sinto por você, só que eu não posso amar você de modo diferente, do jeito que você quer. - aquilo parecia ser um soco no meu estômago.

- Eu sinto que quero você pra mim, cada parte do meu ser quer sentir você em mim, me tocando, é como se a amizade não fosse mais suficiente. Você está em cada parte de mim, cada parte de mim sente que quer você. - será que eu não queria largar o osso.

- E o que você quer que eu faça? Você não quer mais ser minha amiga, ao mesmo tempo você quer que eu fique com você. 

- Queria que você me beijasse... - Ele olhou pra mim incrédulo - queria que quando isso acontecesse eu não sentisse mais nada por você, que realmente não tem nada rolando e que é tudo coisa da minha cabeça.

- Você tem ideia do que acabou de pedir? - eu fico calada. - Você acabou de pedir pelo fim da nossa amizade.

- Eu acho que não sou madura o suficiente para lidar com isso...

- Não, não é. - Ele estava magoado, eu estava magoada. Eu queria que ele fosse embora, queria que ele tivesse um motivo para ir embora e nunca mais voltar a me procurar, eu queria um motivo para dizer que havia um motivo muito palpável para não sermos mais amigos. Eu queria que ele me ajudasse a pegar o caminho mais fácil.

Eu me aproximo finalmente dele e o abraço. Encosto meu rosto em seu peito e escuto o seu coração. Ele retribui o abraço e coloca a mão em meu cabelo.

- Podemos encerrar assim tudo isso ou podemos ter uma última lembrança juntos. Você pode me dar essa lembrança?


Como Deixar de Amar o Seu Melhor AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora