CAP 26 - Viagens

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"Ele abriu um sorriso e se aproximou de mim, apoiou sua cabeça em meu peito e por fim adormeceu. Eu também não demorei muito a dormir, e o melhor foi ter a certeza de que eu dormia com a pessoa que eu mais amo nesse mundo. "
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No outro dia acordamos cedo, pois o enterro seria as nove horas, tomamos banho e descemos para o café. A casa havia novamente se enchido de pessoas, todas desoladas, e com olhares de tristeza. Chegamos a cozinha onde já se encontravam Luh, Samanta e Ricardo. Nos sentamos próximo a eles e tomamos nosso café. Depois de termos terminado fomos para fora da sede e nós sentamos embaixo de uma das árvores, eu logo puxei o Caio pro meu lado, já que a cobra (Ricardo) estava à espreita. Conversávamos amigavelmente esperando pela hora do enterro, a conversa estava muito boa, tinha um clima descontraído. Logo vieram nos avisar que o enterro já estava para começar, então todos nós levantamos e nos dirigimos ao local (Um local específico, próximo a fazenda onde eram enterrados todos os familiares) onde seria realizado o enterro e as despedidas finais da família. O enterro ocorreu como qualquer outro, porém não havia muito choro, eram apenas pessoas tristes dando seu último adeus. Logo quando foi finalizado as pessoas que acompanhavam se dispersaram e pudemos voltar para a sede.
Eu não havia falado com o Guh, então resolvi esperar por uma brecha de seu guarda-costas (Leo), quando ele finalmente resolveu sair para fazer algo que eu não sabia o que era (-_-), eu fui em direção ao Guh.
- Oi guh – falei.
- Oi Alex - falou ele, sua expressão de tristeza era de cortar o coração.
- Você tá melhor?
- Vou ficar.
- É, você é forte vai superar.
- Acho que não sou tão forte assim.- disse ela abaixando a cabeça, estávamos a sós em um dos cantos da casa.
- Claro que é Guh, você é o garoto mais forte e centrado que já encontrei.
- É, e o Caio?
- Ele também é forte, mas não tanto quanto você. Se não fosse por você, eu nem sei as idiotices que eu já teria cometido. Você é o meu melhor amigo, meu protetor.
- Não, eu não sou mais seu protetor, agora você tem o Caio.- disse ele.
- Quer saber, é melhor a gente para de falar no Caio, você precisa se animar, eu sei que é normal ficar de luto e tals, mas eu vou ajudar você se recuperar.
- E o que você está pensando em fazer? - perguntou-me.
Eu olhei para ele e dei um sorriso.
- Quando chegar a hora você vai saber.
Ele então deu um leve sorriso. Nesse momento seu guarda-costas retornou.
- Oi Alex – falou ele, mal tínhamos nos olhado hoje.
- Eai Leo – respondi – Bom, eu já vou indo, fica bem tá Guh, você é mais forte do que pensa.
Ele apenas acenou com a cabeça positivamente. Levantei, me despedi de Leo e sai, fui em direção a cozinha e encontrei a Luh (como sempre na cozinha kkkk).
- Affs, você não sai dessa cozinha. – disse eu.
- Que posso fazer, esse lugar é um antro de gostosuras – ela comia um pudim que estava com uma cara ótima (se é que pudim tem cara kkkk).
- Ainn, me dá um pedacinho – falei.
- Não, não, coloque o seu. Hahaha.
- Chata – falei me dirigindo a uma das empregadas e pedindo a ela uma tijelinha. Ela logo me trouxe uma de vidro, estava tão limpinha e brilhante que dava até dó te sujar, kkkk, mas eu não resistiria aquele pudim.
Já tinha colocado um grande pedaço na minha tijelinha e conversava com a Luh em um cantinho da cozinha. Ficamos conversando até a hora do almoço que foi servido a todos no mesmo horário de sempre. Após o almoço como é de costume, cada um foi para um canto da casa tirar um cochilo (Isso é muito comum aqui na minha região). Como eu já havia decidido o que iria fazer para alegrar o Guh desde que tinha me despedido dele, resolvi colocar meu plano em andamento. Fui até seu quarto e bati na porta.
- Guh! Você tá aí? - bati falando um pouco baixo.
Ele veio e abriu a porta.
- O que você tá fazendo aqui? – perguntou ele com uma cara sonolenta.
- Chegou a hora de você se alegrar, vem comigo – falei pegando o braço dele e puxando sem nenhum aviso prévio.
- Como assim? Espera aí Alex...
Ele tentava se recompor, enquanto eu o arrastava pelo corredor.
- Vamos logo, a gente tem que passar na cozinha primeiro.
Quando finalmente chegamos a cozinha, procurei um pano limpo, logo achei e fomos em direção aos fundos do casarão. Local tão lindo quanto a frente.
- Vem aqui, preciso que você coloque isso nos olhos. – falei entregando o pano a ele.
- Como assim? Pra que você quer que eu coloque isso? O que é que você está planejando fazer? Alex, fala logo.- disse ele com receio.
- Por favor Guh, confia em mim, te juro que não é nenhuma loucura. – disse fazendo aquela carinha de menino pidão.
Ele ficou me olhando, e pensou por um instante, até que finalmente concordou.
- Tudo bem, mas espero que ocorra tudo bem.
- Vai sim, pode ter certeza.- respondi sorrindo.
Ele colocou o pano nos olhos e eu segurei sua mão.
- Eu vou te guiar, nós vamos em um lugar muito especial, você vai adorar. Vamos fazer uma viagem, uma viagem especial.
Então começamos a nos afastar da sede, tomei muito cuidado pra que ninguém nos visse, queria que esse momento fosse só nosso. Fomos andando, uma vez a outra ele tropeçava em alguma coisa e começava a reclamar, e dizia que ia tirar o pano, mas eu dava um jeito (é só pedir com carinho) para ele aguentar mais um pouquinho que já estávamos chegando.
Quando finalmente chegamos ao local, eu dei uma checada, estava exatamente igual última vez que estivemos aqui. O local era uma cachoeira muito bonita de aguas incrivelmente claras, era rodeada de grandes rochas com pequenos locais onde concentrava-se um pouco de areia que se assemelhava aquelas da praia, tinha também grandes árvores ao redor, que propiciavam sombras enormes e tornavam o lugar muito agradável, era perfeito para passar uma tarde e relaxar um pouco.
Depois de verificar o local, me voltei para Guh que já estava impaciente kkkk.
- Chegamos!! – falei.
- Aleluia kkk, agora eu posso tirar esse pano. – disse ele colocando a mão sobre o pano para tirá-lo mas eu o impedi antes que o fizesse.
- Ainda não, quero que você fique em um lugar específico, vem.
Peguei ele e o guiei a uma das rochas enormes, nós subimos com muita facilidade já que a rocha era pouco inclinada. Posicionei ele de frente pra cachoeira e tirei o pano do seu olho.
- Thanram, então o que você achou? – perguntei.
Ele apenas ficou olhando o local, deu uma olhada em todos as direções e finalmente entendeu onde estava.
- Não acredito que você ainda se lembra desse lugar, ou ainda como chegar aqui, se fosse eu teria me perdido.
- Esse é um ótimo lugar, e eu descobri ele junto com você, então dificilmente eu me esqueceria dele.
Nós já havíamos ido naquele lugar várias vezes, era um tanto difícil de chegar e era bem escondido, acho que apenas eu e Guh sabíamos dessa maravilha da natureza. Nós havíamos encontrado aquele local em umas das nossas andanças pela floresta há alguns anos atrás, a partir de então íamos com frequência lá, mas as visitas foram diminuindo ao longo que crescíamos, até chegar ao ponto de não irmos mais, na verdade fazia mais de um ano e meio que não íamos lá.
- Está igualzinho como estava antes.- disse ele.
- Realmente, quase não mudou nada.
Ele me olhou por um instante e disse.
- Obrigado, Alex, você realmente sabe como me alegrar.
Eu apenas sorri.
- Bom, agora, como era de praxe.- disse ele se aproximando de mim.
- Não nem pense nisso Gustavo.
Eu já me preparava para correr, mas ele foi mais rápido e conseguiu me pegar, ergueu-me e me jogou dentro da água, como a altura era baixa e o lago que se formava a frente da cachoeira era fundo, eu não me machuquei.
- Ai Gustavo, eu te odeio. – falei todo molhado dentro da água.
- Desculpa Alex, é a tradição kkkk – disse ele morrendo de rir, ele sempre fazia isso quando nós vinhamos para cá.
- Seu chato – gritei, ninguém escutaria mesmo.
- Agora, dê licença que o astro dos saltos ornamentais vai fazer sua apresentação.- disse ele se gabando.
- Kkkk coitado.
Ele tomou uma distância considerável, e começou a correr. Pulou e deu um salto para trás virando todo o corpo (salto mortal kkk). Caiu dentro na agua e fez espirrar água pra todo canto, depois que emergiu, ele ficou me olhando. Começou a fazer um olhar malicioso que eu já conhecia muito bem.
- Guerrinha? - perguntou.
- Pensei que não ia perguntar.- respondi.
E nisso começamos a jogar agua no outro, brincávamos como duas crianças, ele parecia realmente feliz, nós saímos da agua para subir na cachoeira e pular lá de cima (ó a ideia), felizmente a cachoeira não era tão alta, por que se não já teríamos passado dessa pra melhor a muito tempo. Fizemos isso diversas vezes, brincamos na agua novamente, estamos muito felizes. Era como se tivéssemos retornado à época quando a gente era mais jovem, como se tivéssemos feito uma viagem no tempo, a alegria de crianças inocentes penetrava nos corações de nós dois. Estávamos tão despreocupados que nem notamos o tempo que se passou, ao fim estávamos extremamente cansados, então nos deitamos um ao lado do outro em uma das pedras a qual era coberta por uma ótima sombra.
- Obrigado de novo Alex, é muito bom estar aqui de novo.
- Eu é que agradeço, sei que você está passando por um momento difícil, mas tudo que eu quero é te alegrar.
Ele ficou calado não respondeu nada, olhei em seus olhos e seu semblante tinha se entristecido, Porra meu como eu sou burro, tinha que falar isso logo agora.
- Me desculpa Guh, não queria ter falado isso e te fazer lembrar dele...
- Não, tá tudo bem... é que ... é difícil sabe... saber que ele não está mais aqui... que eu não vou mais ouvir sua voz alegre... que eu o perdi para sempre...
Quando ele falou isso eu me recordei de uma outra coisa que o jhou havia me falado, quando nós ainda mal nos conhecíamos, na verdade foi quando um amigo nosso, que não vem convém explicar sua vida agora, havia falecido por estar com Leucemia. Todos nós, que éramos seus colegas de sala ficamos arrasados, no funeral dele o jhou estava presente e havia me dito algumas palavras que me fizeram refletir.
- Sabe Guh, o jhou uma vez me disse que a dor da perda pode ser amenizada, não totalmente, mas nos ajuda a aceitar e nos conformar mais rapidamente. Ele me disse que morte deveria ser encarada como uma viagem, uma viagem que todos um dia vão fazer, e que não há como fugir dela, algumas vezes ela vem mais cedo como foi o caso do Marcelo (nosso amigo que morreu), ou demora como foi com o jhou, ele disse que a gente tem que aceitar ir de bom grado, é apenas uma viagem de ida, sem volta, e que no final, todos vamos nos encontrar quando a fizermos.
Ele apenas olhava fixamente o céu enquanto ouvia, aquilo era realmente um pensamento complexo, mas me ajudou muito, e acho que poderia ajuda-lo também. Depois de muito pensar, ele voltou-se para mim, e eu consegui enxergar linda cor negra de seus olhos.
Levantou a mão e direcionou-a ao meu rosto, com movimentos sutis ele acariciava minha bochecha, seu toque me causava arrepios. Meu coração disparou e eu não conseguia raciocinar direito. Então eu me levantei vagarosamente.
"Somos apenas crianças perdidas
Tentando encontrar um amigo
Tentando encontrar o nosso caminho de volta para casa
Nós não sabemos para onde ir
Então vou me perder com você
Nós nunca desmoronaremos
Porque nos encaixamos direito
Nos encaixamos direito
Estas nuvens escuras sobre mim
Chovem e correm
Nós nunca desmoronaremos
Porque nos encaixamos como
Dois pedaços de um coração partido". Two Pieces, Demi Lovato.
- Não se preocupe Guh tudo vai ficar bem, eu sempre vou estar aqui com você, pra quando você precisar.
Ele ficou meio sem graça, levantou e acenou positivamente com a cabeça. Nós voltamos a dar um mergulho e ficamos lá conversando, saímos depois um tempo. Olhei no relógio de pulso e já eram quase seis da tarde.
- Nossa Guh, já são quase seis horas.- falei.
- kkk o tempo passou muito rápido.- falou ele.
- Pois é, vamos logo antes que eles nos deem como desaparecidos.- disse já começando a andar.
- Espera, agora eu é que quero te mostrar um lugar.
- Como assim? - perguntei.
- Você vai saber quando chegarmos – disse ele.
- Uhm, seu chato kkkk- ele tinha me imitado.
Então começamos a andar por uma pequena trilha, ele ia na frente e eu o seguia, a noite não demoraria chegar então comecei a ficar preocupado.
- Guh, isso vai demorar muito? Daqui a pouco já vai estar escuro, e você sabe que morro de medo.
- Kkk, não se preocupe, pretendo chegar lá antes que o sol se ponha, e se escurecer eu te protejo.- disse como sempre.
Nós andamos mais um pouco e logo chegamos a um local bem alto, uma espécie de montanha, mas bem menor, tinha um pequeno (porém assustador) penhasco (tenho medo de altura rsrs). Ele me levou com muito custo até a beirada e nos sentamos, claro que não foi literalmente na beira do penhasco.
- Vem, senta aqui comigo e aprecie o espetáculo.- disse ele me chamando. Logo sentei ao seu lado em uma rocha grande.
- Mas que espetáculo? - Perguntei confuso.
- aquele espetáculo – Disse ele apontando para o pôr do Sol. Meu Deus, o que era aquilo, era imagem natural mais linda que eu já tinha visto. O sol emanava seus raios amarelos e alaranjados, mas parecia que eles emergiam da terra, do horizonte, era uma vista perfeita.
- Nossa, é muito lindo, como sabia dessa visão?
- Já vim aqui algumas vezes, principalmente quando quero ficar um pouco sozinho.
Nós voltamos a olhar a paisagem, o Sol logo foi se despedindo e eu comecei a ficar com frio, claro porque estávamos molhados e tudo mais. O Guh percebeu e me puxou pra perto dele me abraçando, seu corpo estava mais quente que o meu. Repousei minha cabeça em seu ombro.
- Não sei o que seria da minha vida sem você.- disse ele
Levantei minha cabeça e olhei para ele. Nossos rostos estavam muito próximos, toda aquela agitação interior de poucas horas atrás havia voltado. Meus pensamentos se embaralharam, tudo ficou confuso quando senti seus lábios tocarem os meus calmamente. Um beijo calmo e sutil. Não sabia porque estávamos nos beijando, só sabia que era muito bom.
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É isso votem e comentem se tiverem gostado beijos...

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