Sombra

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Desculpa a demora anjinhos.

Sua voz corta o silêncio que havia de instalado entre nós. Paraliso sem saber o que deveria fazer, pensamentos amedrontados passando pela minha cabeça, com todas as coisas que eles poderiam fazer comigo. Porque apesar de terem me salvado deste maníaco, quem me garantirá que eles não querem me machucar ou algo parecido, como forma de "agradecimento".

Então decido por ignorar o que falou e continuo andando, e mesmo não me arriscando a olhar para trás, sei que todos estão me olhando, enquanto me afasto rapidamente.

Quando me dou conta que já estou distante o suficiente, diminuo os passos que até então estavam apressados. Vou observando as ruas, tentando lembrar em quais eu entrei quando fugia do maníaco.

Passo os braços pelo meu corpo, com o instuito de tentar me aquecer, mas isso só faz com que o frio se intensifique, fazendo com que meus lábios batam freneticamente.

Quando enfim encontro o beco em que deixei minhas coisas, abro minha mochila e tiro uma blusa moletom que ganhei de uma moça a alguns meses atrás. Deito novamente, me encolhendo e então mesmo contra minha vontade, acabo caindo no sono.

Acordo assustada, quando sinto uma mão em minha buchecha, a acariciando com as mãos quentes. Mesmo assustada resolvo não abrir os olhos, porque talvez a pessoa desista de tentar me machucar se perceber que estou dormindo. Mas para minha surpresa, sinto mãos por baixo dos meus joelhos e em volta da minha cintura, então sou levantada do chão fazendo com que meu corpo todo se tensione.

Abro os olhos lentamente, e por causa da escuridão da rua, não conseguo ver a pessoa. Mas pelo porte físico me diz claramente que se trata de um homem e muito forte por sinal. Penso nas minhas possíveis opções, mas esqueço todas quando ouço a porta de um carro ser aberta e faço a primeira coisa que me vem a cabeça. Junto todas as forças que restam no meu corpo e me debato freneticamente, mas ao contrário do que eu imaginava, ele não me solta no chão, apenas firma mais suas mãos no meu corpo, e esse simples movimento causa um enorme arrepio no meu corpo.

Uso minhas mãos para arranha-lo no rosto, então em um movimento brusco ele me solta no chão, fazendo meu corpo se chocar fortemente contra o asfalto áspero.

Perco o ar por alguns segundos, enquanto meu corpo, que antes estava fraco,agora reclama com dor e clama por cuidados. Resmungo de dor enquanto tento me levantar, mas depois de duas tentativas decido esperar a dor nas costas e a tontura na cabeça passar para poder levantar.

Mas então o homem, que carinhosamente apelidei de sombra segura no meu braço e me puxa para cima como se eu não pesasse mais do que uma batata. Quando estou devidamente em pé, sombra solta meu braço, mas quando faz o movimento percebo que minhas pernas não estão fortes o suficiente para me sustentar e que o que estava me mantendo em pé era sua mão entorno do meu braço. Sombra também percebe isso, então ele volta a colocar sua mão no meu braço, me arrastando para uma parede.

Durante todo esse breve período em que nos encontramos, sombra não disse se quer uma palavra, e independente de ter falado ou não, não sinto mais medo, muito pelo contrário me sinto segura como a muito tempo não sintia. E pode parecer idiota, mas esse sentimento de segurança está sendo a melhor coisa que ja me ocorreu em anos. Então enquanto esse homem, seja lá quem for, estiver aqui vou aproveitar cada segundo.

Saio dos meus pensamentos, quando sinto novamente a mão do sombra na minha bochecha, acarriciando fazendo com que eu sinta tão bem, que inconsequentemente inclino minha cabeça em direção a sua mão para poder receber mais carícias.

Mas então volto a realidade, afasto sua mão do meu rosto, me lembrando que apesar de gostar de suas carícias, ninguém me garante que ele não seja um assassino maníaco, igual ao que vi a algumas horas. Só de lembrar, já sinto um calafrio passando pelo meu corpo. Se uma coisa que você aprende na rua é " nunca confie em ninguém", então se quer sobreviver ao inferno que é ser um sem teto é que não se pode em hipótese alguma confiar em alguém.

E foi isso que me levou a onde estou agora. Sempre fui aquele tipo de pessoa que confia cegamente, e isso só me levou arruína, confiei no papai e na minha madrasta que apesar de achar que nós só não éramos muito próximas, eu confiei minha vida a ela. Então, desde aquele época evito confiar em alguém. Porque traição sempre vem do pior lado. O lado de quem amamos.

Ando ou melhor cambaleio até o meu cantinho e sento, puxando todo o ar que eu conseguir. Não poderia ter uma crise agora, não na frente do sombra.

Já não sinto medo dele, então não me sinto tão desconfortável quando ele se abaixa na minha frente. A única característica que conseguo ver claramente dele, apesar da escassez de Luz, são seus olhos extremamente e magnificamente azuis. Eles são tão fabulosos e vivos que poderia acalmar um coração enraivecido.

Dessa vez ele não tenta chegar tão perto ou sequer encostar em mim. Apenas fica olhando-me como se eu fosse a qualquer momento quebrar na sua frente como uma porcelana.

- Você é linda. Tem ideia de como isso a faz correr perigo.- diz ele com a voz baixa e rouca.

- Não sei se você percebeu, mas o simples fato de eu morar na rua já me faz correr perigo diariamente, independente de eu ser bonita ou não.- digo sendo indiferente ao elogio, mas ele deve achar que morar na rua é fácil.

Provavelmente ele deve ser aqueles riquinhos mimados que acham que dando um prato de comida vão perdoar todos os seus pecados.

- Então se você me der licença, eu preciso dormir.- digo tentando me ajeitar para poder deitar, mas com a dor nas minhas costas e o chão duro a dor apenas se intensifica.

- Não. - diz simplesmente.

- Como assim, não?- pergunto atonica.

- Não vou sair daqui até que você venha comigo para encontrarmos seus pais. Você é uma criança e não deveria ter fugido de casa.- diz ele em tom reprovador e severo.

- Não sou mais uma criança. Tenho 19 anos. E não vou a lugar nenhum com você. - digo entre os dentes.

Ele me olha surpreso por alguns segundo, acho que devido ao saber do fato de que não sou mais uma criança como havia sugerido. Mas então logo se recomponhe.

- Você vai seja por bem ou por mal.- diz decidido, então ele se levanta e espera eu me levar e quando percebi que não moverei nenhum músculo,ele puxa meu braço e me joga nos ombros, que diga se de passagem, são estrmamente largos e forte. Então se abaixa novamente e recolhe meus pertences e caminha para fora do beco.

Grito o tanto que minhas cordas vocais reclamam, então vejo luzes se acendendo nas casas da vizinhança e o sombra também percebe. Então forço minhas cordas a gritarem mas alto, mas paro assim que ele para e me tira do ombro, e só então, assim bem perto, conseguo perceber o quão mais alto ele é, comparado a mim.

- Se você gritar mais uma vez, será a última coisa que fará na vida. Entendeu?. -diz sombra com a voz assustadoramente raivosa.

Me encolho com medo e aceno afirmativamente.

- Quando eu pergunto alguma coisa, espero ter resposta. E não gosto de perguntar duas vezes.- diz ele olha para mim com seus lindos olhos azuis frios.

- S-sim eu entendi. - digo olhando para o chão.

- Ótimo. Então vamos.- diz ele voltando a andar para o fim do beco em direção a calçada.

Continuo parada lá, como uma estátua, ainda processando tudo que havia me acontecido desde a maldita hora em que eu acordei.

Então sinto um puxão inesperado no meu braço, me arrastando consigo para a rua. Então sombra abre a porta de um carro e me joga lá dentro, sem a menor cerimônia, e caminha a passos largos na frente do carro até a porta do motorista.

Antes que eu pudesse pensar em sequer abrir a porta, ele liga o carro e tranca as portas me impedindo de sair. Então o medo se instala no meu corpo. Não é possível que eu tenha conseguido fugir de um maluco pra cair nas mãos de outro.

Então ele acende a luz do carro, e a imagem que vejo me paralisa completamente, não pode ser verdade.

- Você?

Continua...

Desculpem os atrasos é que só estou conseguindo escrever um capítulo de uma história por vez.

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Beijos anjinhos.

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