II.

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Acordei com o barulho irritante do despertador de Emma, me levantei e fui direto ao banheiro. Fiz minha higiene bucal, tomei um banho e coloquei uma calça e uma camiseta. Tomei café com Emma e Mary e segui por aquele jardim enorme até a mansão.
- Bom dia! - falei logo que entrei na cozinha e avistei Marta.
- Bom dia. Elizabeth já acordou, vá dar banho nela para tomar banho de sol.
- Sim, senhora. - bati continência e ela me fuzilou.
Saí correndo daquela cozinha e subi as escadas quase como uma bala. A porta do quarto de Elizabeth estava entreaberta, olhei pela fresta e o observei o homem cuidar de sua filha. Cameron tentava colocar-lhe a fralda e ela sorria com o carinho do pai; bati na porta e ele olhou em direção a mim, abrindo um sorriso que podia iluminar até o esgoto de Nova York.
- Cameron, o que você está fazendo? - falei entrando no quarto e andando em sua direção.
- Tentando colocar uma fralda? - ele disse sorrindo tímido - Você pode me ajudar?
- É para isso que estou aqui. - falei andando em sua direção. Não pude deixar de perceber que ele estava com a mesma roupa da noite passada, seu tronco todo à mostra. - O que você precisa saber?
- Deixe-me ver... - ele colocou a mão no queixo pensativo. - Tudo?
- Tudo? Você está louco?
- Não, eu quase não tive tempo de cuidar de Eli.. - eu o fuzilei - Liz, quando ela nasceu.
- Ah, bom, então vamos lá. - falei andando em direção ao balcão que ela estava deitada. - Bom dia, meu amor! - falei sorrindo e fazendo casquinhas nela, que sorria. - Primeiro passo: colocar a pomada e depois o talco. - falei pegando a pomada e o talco e passando nela. - Depois a fralda. - falei segurando suas pernas e colocando debaixo de seu corpo. Puxei a parte da frente e colei os adesivos. - Pronto!
- Tão fácil assim? - ele perguntou enquanto eu segurava Liz pelas mãozinhas e a levantei.
- Pensou que era um bicho de sete cabeças?
- Sim. - ele respondeu me olhando. Eu fiquei incomodada, aliás, ele é meu patrão. - Como você tem tanto jeito para criança?
- Eu tive um irmãozinho, então como minha mãe não podia ficar em casa eu cuidava dele na maior parte do tempo. - eu não me sentia bem mentindo para ele, mas eu não podia arriscar dele descobrir a verdade. Não quando pela primeira vez eu sentia que eles não poderiam me encontrar.
- Sua mãe foi nossa babá.
Eu o olhei, confusa.
- Minha mãe?
- Ela nos apelidou de os três mosqueteiros. - ele sorriu tímido encostando-se no balcão.
- Ela me contava cada história de vocês. - sorri colocando Liz em meu colo e fazendo o mesmo que ele.
- Ela foi a nossa melhor babá. - ele falou cruzando os braços, e não pude deixar de perceber seus músculos contraírem. - Ela cuidou da gente por um tempo aí, depois que casou, foi embora. Faz muito tempo. - ele falou olhando para Liz, que fazia uma carinha para o brinquedo que estava no chão. - Acho que ela quer brincar.
- Eu também acho. - eu falei colocando-a no chão.
- Você tem quantos anos?
- 22, por quê?
- Exatamente a idade que a sua mãe saiu da minha casa. Eu chorei tanto.
- E fizeram uma carta para ela.
- Não acredito que ela te mostrou isso. - ele falou escondendo o rosto entre as mãos.
- Mostrou e guardou. Ela tem muita coisas de vocês, eu até ficava com ciúmes.
- Ela foi como uma mãe pra gente, cuidou muito de mim.
- Cameron, o menino maluquinho, era assim que ela te chamava.
- Ela falou os apelidos?
- Falou só o seu, ela disse que um já bastava, você era o preferido dela. - falei olhando para Liz, que estava com uma cara de medo, atormentada, puxando a fralda. Andei até ela e olhei dentro da fralda. - Acho que Liz vai precisar de outro banho.
- Por quê? - ele me olhou confuso.
- Porque ela fez uma coisa feia. - falei olhando para ela, que sorria mostrando os dentinhos. Peguei-a em meus braços e a coloquei no balcão outra vez, tirando sua fralda e colocando no lixo, além de tirar sua roupinha.
- Você vai dar banho nela? - ele perguntou enquanto eu ia até o banheiro e ligava o chuveiro para encher a banheira para Liz.
- Vou sim, ela não pode ficar suja.
- Mas eu acabei de dar banho nela. - ele falou indo até a porta do banheiro.
- Ela não pode ficar suja. - eu falei me levantando e indo até o balcão, colocando-a em meus braços e a levando até a banheira.
- Não está fria? - ele falou se abaixando comigo. - Ela pode pegar um resfriado.
- Claro que não, Sr. Brooks. - falei rindo dele, que ficou sério.
- Eu já lhe disse que pode me chamar de Cameron.
- Mas eu acho antiético chamá-lo pelo apelido. - falei colocando a Liz na banheira e lavando todo o seu corpo.
- Por favor, me chame pelo apelido.
- Tudo bem, Cameron, eu vou lhe chamar pelo apelido quando estivermos só eu e você, senão a Marta pensará que eu sou uma aproveitadora.
- Não se preocupe, ela falava isso de todas.
- Todas?
- Sim, ela dizia que elas só queriam se aproveitar do meu dinheiro e elas não seriam boas mães para a Liz.
- Ela está certa, ninguém seria uma boa mãe para a Liz além da própria.
- Mas ela se foi. - ele falou abaixando a cabeça. - No dia em que a Liz nasceu.
- Me desculpe, eu não deveria ter tocado no assunto.
- Não, só que foi muito difícil no começo, eu pensei até em ...
- Em se matar? - falei olhando para ele, que levantou a cabeça me olhando com aqueles dois globos castanhos claros.
- Sim, eu pensei muito nisso. Foi como uma faca no meu coração, e eu pensava: 'Como eu vou cuidar da minha filha sem Elizabeth?'
- Você tem capacidade para isso, você tem instintos de pai, não seria tão difícil. Além do mais, Liz ia ter a Mary, Emma e até a Marta.
- Todos tem medo dela.
- Eu não tenho medo dela, eu tenho medo de perder o emprego e não poder ajudar minha mãe.
- O que sua mãe tem?
- Ela está meio doente e precisa de medicamentos, então eu trabalho para pagá-los.
- Você está mentindo. - eu o olhei assustada. Como ele sabia disso?
- Como você sabe disso?
- Basta ver em seus olhos, sei que sua mãe saiu de nossa casa para viver bem.
- O senhor não sabe de nada. - falei me levantando e enrolando Liz em uma toalha e a colocando em cima da cama.
- O homem com quem sua mãe se casou era um homem rico, um dos amigos do meu pai. - ele falou vindo atrás de mim.
- Continuo lhe dizendo: o senhor não sabe de nada. - falei andando até o guarda-roupa e pegando uma roupa de Liz.
- Não tente me enganar, senhorita. Por que você está aqui?
- Para ser babá de sua filha, já que o senhor não consegue fazer o papel de pai. - falei virando-me para ele. Minhas palavras cortaram seu coração, eu podia ver isso em seus olhos. Andei sem olhar para onde pisava e acabei pisando em um brinquedo de Liz.
- Sara, cuidado! - ele falou me segurando pela cintura, mas tinha sido em vão. Minhas costas foram ao chão com certa força e um peso apareceu logo em cima de mim. Abri meus olhos e olhei diretamente para seu rosto tão próximo do meu, sua respiração batendo em meu rosto. Desci meu olhar para sua boca entreaberta, uma vontade de beijá-lo me surgiu tão grande que chegava a ser até ruim. Sua mão alisou de leve minha bochecha, me fazendo fechar os olhos.
A campainha estava tocando me tirando do transe.
- Eu tenho que atender! - eu falei, tentando me levantar.
- Deixa tocar. - a campainha insistia.
- Eu preciso ir. - eu falei como um sussurro.
- Está bem. Desculpe. - ele se levantou e me ajudou.
- Você poderia colocar a roupa nela enquanto eu atendo?
- Claro. - ele falou pegando a roupa de minhas mãos.
Eu saí daquele quarto o mais rápido possível, eu precisava respirar. Se aquele homem tinha tirado meu fôlego com apenas uma batida de respiração em meu rosto, imagine se ele me beijasse, eu perderia todo o ar que existia em meus pulmões.
Desci as escadas correndo e respirei bem fundo.
- Quem é você? - uma mulher falou logo que eu abri a porta. Ela era uma mulher elegante e muito bonita, mas pelo visto uma esnobe. - Não importa, deve ser a nova babá.
- Certo, senhora. - eu falei e ela deu de ombros.
- Que seja! - falou entrando logo. - Onde ele está? Cameronzito? Cameronzinho, amor? Cadê você? - Amor? Ela o chamou de amor?
- Estou aqui, Johanna. - ele falou descendo as escadas com Liz em seus braços.
- Amor! - ela falou indo até Cameron e o beijando. - Que saudades, amor!
- A quê devo a honra da sua visita? - ele falou andando até o sofá.
- Hoje é a festa da sua empresa, você se esqueceu?
- Claro que não.
- Você vai levar Liz?
- Vou sim, hoje eu serei o pai dela. - ele falou olhando para mim. - Sem nenhuma babá.
- Ah sim, meu cuti-cuti. - ela disse apertando as bochechas de Liz. Liz fez cara de nojo e saiu dos braços de seu pai e veio até mim.
- Brigadeiro. - ela falou agarrando em minhas pernas.
- Você gostou de brigadeiro? - falei a pegando no colo, ela fez um sim com a cabeça - Mais, mais!
- Tudo bem. Com licença! - falei me direcionando aos dois na sala.

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