XII.

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Havia se passado um mês desde o dia em que Cameron saiu do hospital. Ele estava indo para a fisioterapia todos os dias, eu estava o acompanhando todos os dias, até porque eu sentia que tinha que fazer isso, eu sentia que precisava vê-lo se recuperar para toda a culpa descer por meus ombros e meu coração voltar a bater regularmente. Cameron estava fazendo exercícios na barra, ele já conseguia dar alguns passos com a ajuda delas, ele ficava concentrado e quando olhava pra mim sorria ao me ver junto dele e algumas vezes se desequilibrava. Os médicos diziam que a recuperação de Cameron estava rápida, sinal de que logo ele estaria por aí correndo.
Senti meu celular vibrar e olhei no visor: 'Mãe'. Saí da sala de fisioterapia e fui para o corredor.
- Alô?
- Oi, minha filha! - ela falou com a voz trêmula.
- Tudo bem, mãe?
- Está, eu só queria te chamar pra vir aqui em casa.
- Agora?
- Não, depois. Pode trazer o Cameron se quiser.
- Tudo bem, mãe.
- Então tudo bem - ela estava nervosa. - Eu quero te contar uma coisa.
- Não pode contar agora?
- Não, isso não deve se contar por telefone.
- Tudo bem, eu tenho que desligar.
- Está bem, te amo. Tchau, filha.
- Tchau. - ela desligou o celular de uma vez. Estranhei o fato de sua voz estar trêmula, mas dei de ombros voltando para sala. - Cameron, minha mãe... - falei entrando na sala e dando de cara com uma cena nada agradável.
Cameron estava em cima da Jenny, eles estavam se beijando e ele não estava impendido, pelo contrário, ele estava correspondendo. Os dois olharam pra mim com os olhos arregalados e as lágrimas começaram a rolar por meu rosto.
- Sara, não... - ele falou se apoiando na barra para se levantar.
- Não, Cameron, eu não quero saber. Acabou. - falei saindo correndo para a saída do hospital e entrando em meu carro, as lágrimas tocavam meus lábios enquanto eu ligava o carro e dava a partida em direção à casa da minha mãe. Desci do carro com os olhos vermelhos e inchados e toquei a campainha da casa dela, onde Bernart, o mordomo, abriu a porta.
- Sara? O que aconteceu, meu amor? - Bernart falou.
- Cadê minha mãe?
- Ela está na sala. - passei por ele e segui para a sala onde minha mãe estava toda sorridente ao telefone e quando me viu disse um tchau e desligou.
- O que aconteceu, Sara?
- O Cameron, mãe... - falei sentando no sofá e a abraçando.
- O que aconteceu com ele? Ele piorou?
- Não, ele está bem melhor, já está até conseguindo andar.
- Então qual é o problema?
- Ele está aos beijos com a fisioterapeuta, mãe, eu...
- Shiu! - ela falou me abraçando mais forte - Se acalme e chore tudo o que tiver que chorar.
- Eu o apoiei e é isso o que eu recebo em troca? Um chifre? Bom saber.
- Às vezes as coisas não são o que parecem.
- Uma imagem vale mais do que mil palavras.
- Uma imagem pode nos enganar, mas palavras expressam sinceridade.
- Eu não quero falar sobre isso. - deitei em seu colo e comecei a chorar. Não sei quanto tempo se passou, não sei exatamente quanto tempo, mas aos poucos meu choro ia desaparecendo só deixando uma mãe fazendo carinhos no cabelo da filha que acaba de ter o coração quebrado em milhões de pedaços. - Mãe?
- Oi?
- O que você queria me falar?
- Ah, Sara, esse não é o momento certo.
- Por que não? - eu falei me sentando e olhando para ela enxugando minhas lágrimas. - Parecia sério quando você falou no telefone.
- Sara, melhor não.
- Tudo bem, eu não estou na vontade de brigar hoje. - Falei me levantando do sofá e indo em direção à escada. Meu coração estava despedaçado, quebrado, e nada poderia colocá-lo no lugar outra vez.
Com ele poderia fazer isso comigo? Depois de tudo que ele me disse, depois de tudo que a gente passou juntos, ele beija aquela loira aguada?
Entrei em meu quarto e fui direto para o banheiro, me jogando dentro do chuveiro. As lágrimas rolaram por meu rosto enquanto a água purificava minha alma, me libertando dele. Enrolei-me na toalha me enxugando e colocando minha camisola, me joguei na cama e olhei para minha mão onde continha o anel. Fiz menção de tirá-lo, mas não consegui, era mais forte do que eu. Peguei um travesseiro e me abracei a ele, não era a mesma coisa que abraçar aquele corpo quente e malhado, mas pelo menos eu consegui adormecer. > Uma semana se passou.
Uma semana de saudades.
Uma semana de sofrimento.
Uma semana chorando pelos cantos da casa.
Uma semana sem Cameron Brooks e seu corpo quente para me aquecer a noite.
Uma semana pacata, estúpida, vazia, uma semana sem o amor da minha vida.
- Mãe, o que você queria me contar naquele dia? - falei sentando-me ao seu lado no sofá.
- Acho que não é uma boa hora.
- Mãe, faz uma semana que você me enrola.
- Não sei, Sara, você pode ficar com raiva.
- Fala, mãe, senão eu vou ficar com raiva.
- Sara...
- Mãe, se é pra eu chorar, pode soltar de uma vez. Quero acabar com meu estoque de lágrimas do ano.
- Eu não sei se devo, eu tenho medo de que você me odeie, ou melhor, nos odeie.
- Nos? Mãe, você não está dizendo que voltou com aquele Carlos?
- Não, Sara, nunca. - ela abaixou o olhar - Mas essa pessoa foi embora por causa do Carlos.
- O quê, mãe? Mãe, fala logo, não me enrola.
- Tudo bem. - ela falou e segurou minhas mãos. - Você lembra porque nós não abrimos o caixão do seu pai?
- Você disse que ele estava desfigurado e não era bom para uma criança ver isso. O que isso tem a ver?
- Bem, essa pessoa quis te proteger, nos proteger, então ela fez uma coisa muito grave.
- Mãe, você está me assustando.
- Sara, o Carlos é procurado por vários crimes e seu pai sabia disso. O Carlos queria que eu fosse embora com ele e que eu levasse você porque, com a morte do seu pai, você herdaria toda a fortuna. O que eu tô querendo dizer é que.... - ela olhou em meus olhos - Seu pai, Sara, ele está vivo. - meus olhos se arregalaram, minha boca abriu-se de uma forma que nem eu sabia que podia, meu corpo estava estático, eu estava parada e minha garganta presa.
- Vi-vivo? Mas os bombeiros...
- Como o Carlos queria matar seu pai, ele sabotou o avião dele. Um homem de confiança de seu pai o alertou e se pai alertou a polícia, mas como naquela época não tinha provas contra o Carlos, seu pai teve que se manter escondido. Ele foi morar na Inglaterra onde lá ele teve uma outra família.
- Meu pai está vivo. - lágrimas de felicidades rolavam por meu rosto e eu comecei a pular no meu sofá. - Meu pai está vivo, vivo, vivo. - Por que não me disseram antes? - perguntei sentando outra vez.
- Nós não podíamos, a polícia achou melhor ele perder contato conosco.
- Ai, eu vou ver meu pai, meu amor, meu bebezão gigante que eu sinto tanta falta.
- Bom, acho melhor você ir se arrumar. - olhei para ela com os olhos arregalados.
- O quê?
- Seu pai está de volta para Los Angeles e vai ficar aqui em casa até arranjar uma casa.
- Sério? Ahhhh!
- Mas ele não vem sozinho.
- Nossa, já vem trazendo a mulher dele?
- Não, a mulher morreu há dois meses.
- Como você sabe de tudo isso?
- Nós voltamos a ter contato depois que o Carlos foi embora.
- Então quem é que vem com ele?
- A filha dele, Mandy, uma garotinha de 5 anos, que nem a Liz.
- Eu vou me arrumar. - falei subindo as escadas.
Entrei em meu quarto e coloquei uma calça jeans e calcei meus tênis, me olhei no espelho e vi o sorriso que cobria aquelas bolsas roxas debaixo dos meus olhos. Eu iria ver meu pai, meu paizinho que eu tanto amo, que eu tanto sentia falta, que eu tanto pensei que não estaria mais entre nós.
Desci as escadas em pulinhos de alegria, minha mãe andou em minha direção e me pegou pela mão, então saímos de casa e fomos em direção ao carro dela. Eu não continha minha felicidade, só em pensar em abraçar meu pai outra vez o sorriso em meu rosto não parava de aumentar. Minha mãe segurou em minha mão e sorriu, eu poderia ver o nervosismo dela em seus olhos, claro, não é todo dia que você descobre que seu marido 'morto' estava vivinho da silva.
Ela parou o carro em frente a um parque e desceu, eu a segui e desci do carro também. Olhei para ela, que começou a andar em direção ao parque procurando por todos os lados, e paramos um pouco enquanto ela procurava por ele.
- Ali! - ela apontou para um homem que brincava com uma garotinha. - Richard! - ele levantou o olhar e sorriu para nós. Meus pés começaram a andar em direção a ele e o vi se aproximar do mesmo jeito, até que paramos um em frente ao outro e eu pulei em seu pescoço.
- Pai! - falei o abraçando forte. - Eu senti tanto a sua falta.
- Meu amor, eu também! - ele falou me erguendo do chão e me rodando. - Você cresceu muito, está uma mulher.
- Claro, você me viu quando eu era apenas uma pirralha.
- Sua mãe lhe contou a verdade?
- Contou, e pai... eu te amo mesmo assim.
- Meu bebê, cresceu tanto. - ele falou me abraçando mais uma vez e olhou para a garotinha que segurava um bonequinho nas mãos. - Vem, Mandy! - ele falou chamando-a com a mão. - Mandy, essa é sua irmã, Sara.
- Oi, Mandy! - falei me abaixando na sua altura.
- Oi, maninha! - ela falou me abraçando e eu soltei um 'own' na hora.
- Ela é linda. - minha mãe falou se aproximando de nós.
- Olá, Scarlet! - ele falou indo abraçá-la, quem olhava pensava que era um casal apaixonado, então me levantei e segurei na mão de Mandy olhando para ela, que fez um coração com as mãos.
- Olá, Richard! - ela falou se soltando do abraço. - Vamos?
- Claro. - ele falou com os olhos brilhando e olhou para Mandy. - Vamos, amorzinho?
- Vou com a mana! - ela falou abraçando minhas pernas.
- Então vamos.
- Eu vou na frente e você me segue, ok?
- Ok. - ela começou a andar e ele ficou parado olhando-a.
- Pai?
- Oi? - ele se virou para mim.
- Limpa.
- Limpa? O quê?
- A baba, você está babando, meu caro.
- Me respeite! - me aproximei dele segurando seus ombros.
- Ainda tem tempo, você ainda pode conquistá-la.
- O quê? - peguei na mão da Mandy e comecei a seguir minha mãe.

- Eu não acredito que você fugiu esse tempo todo do Carlos! - meu pai falava enquanto estávamos sentados na mesa tomando um café. Mandy estava ao meu lado e eu dava comida em sua boca.
- Pois acredite, eu fugi dele por meses, mas ele sempre me achava.
- E como ele te achou da última vez?
- Bom, eu o achei.
- Como assim?
- Eu trabalhei de babá numa casa, e coincidentemente meu patrão trabalha para sua empresa. Lorenzo me achou e nós fomos ao baile juntos.
- Nossa, que emoção. - ele falou tomando um gole de seu café. - E qual era o nome desse seu patrão?
- Cameron, Cameron Brooks.
- Brooks? O filho do Paul?
- É, esse mesmo.
- Ele é um rapaz de ouro, quando ele entrou nas empresas eu estava prestes a me... como posso dizer, morrer de mentira.
- Ouro? Só se for falso. - falei baixinho.
- O que você disse?
- Nada, eu não disse nada.
- Ela está magoada.
- Mãe...
- Ele é seu pai, ele precisa saber.
- Saber do quê?
- O Cameron e a Sara namoraram, mas ele fez besteira e eles terminaram.
- Quanto tempo vocês ficaram juntos?
- Acho que alguns meses, eles terminaram.
- Por quê?
- Porque ele estava beijando a sua fisioterapeuta.
- Fisioterapeuta pra quê?
- Mãe, eu acho que já chega.
- Ele salvou a Sara de ser atropelada e acabou paralítico temporariamente.
- Chega! - falei para os dois. - Eu não quero falar sobre isso. - escutamos a campainha ecoar pela casa. - Eu vou. - me levantei da mesa e me direcionei para porta, abrindo-a. - O que você faz aqui?

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