III.

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III.

Cameron narrando:

A chuva batia na janela da minha casa e isso me desesperava a cada instante, Elizabeth estava febril e eu não sabia o que fazer, minha mãe não atendia o celular - provavelmente foi visitar vovó - e Mary não havia levado o celular.
- Cameron, vai atrás de alguém para te ajudar, você está quase cavando um buraco no chão.
- Desculpa, eu não pensei... A Sara, ela pode me ajudar. - eu falei pegando as chaves do carro.
- Ela é mais mãe da Liz do que você é pai.
- Você cuida dela? - Oli apenas assentiu e eu desci as escadas como um desesperado.
Entrei no carro tentando ser rápido para não me molhar, em vão. Dei a partida e fui em direção até a casa dos Boaventura; o caminho não era longo, algumas quadras do meu condomínio. Nesses dois dias, a única coisa que eu pensava era ela, o seu jeito, o seu encanto, tudo seu me fascinava. O beijo que eu lhe dera me deixou louco. Como uma menina poderia me fazer pensar besteiras a seu respeito?
Estacionei o carro na frente daquela enorme mansão e deixei as gotículas de chuva caírem sobre toda a minha jaqueta. Apertei a campainha e as gotas de chuvas começaram a cair sobre meu rosto. Ela abriu a porta sorrindo e deu de cara comigo.
- Cameron, o que aconteceu? - ela veio em minha direção.
- A Liz está febril e eu não sei o que fazer.
- Tudo bem, eu só vou pegar minha bolsa e já volto. - ela falou, foi correndo até a sala e voltou com uma bolsa que mais parecia um mala.
- Desculpe ter que vir aqui. - eu falei enquanto abria a porta do carro para ela.
- Que nada, você me salvou e a Liz é mais importante.
- Você trata ela como se fosse sua...
- Filha?
- É, muitas das babás são muito...
- Ranzinzas?
- Você vai ficar pondo palavras na minha boca?
- Outch!
- Desculpe, estou desesperado. Liz nunca ficou febril.
- Eu te entendo, você só está preocupado com ela. - falou descendo do carro e entrando em casa. Subimos as escadas quase num jato e ela abriu a porta do quarto de uma vez.
- Oli! - ela disse pulando no pescoço dele. Admito, senti algo estranho vendo aquela cena. - Meu gostosão, que saudades!
- Minha gatinha, eu não sabia que patricinhas faziam bicos de babás!
- Patricinha é o caralho. - ela tapou a boca na mesma hora. - Desculpa, Oli me tira do sério.
- Eu sei, gatinha. - ele piscou para ela e outra pontada veio no meu peito. O que diabos é isso?
- Bom, agora vamos ver o meu amorzinho. - ela disse em direção a Liz.
- Mamãe! - Liz falou sorrindo, me fazendo sorrir também.
- Bom, já que a Sara chegou, eu já vou indo. - Oli falou e deu um beijo na Sara e na Liz.
- Te acompanho até a porta. - eu falei dando passagem para ele passar e o segui até a escada.
- Eu vi.
- Viu o quê?
- O jeito que você olhou para ela.
- Oli, eu não sei do que você está falando - ele falou e me olhou com os olhos cerrados - Tudo bem, eu a acho encantadora, algum problema?
- Não a confunda com Elizabeth, eu sei que você não a esqueceu.
- Oli, é difícil esquecer o amor da sua vida, principalmente o primeiro.
- E quem lhe disse que você não pode dar uma chance para o amor outra vez?
- Eu tentei com a Johanna e olha o que aconteceu, fui corno com o segurança.
- Por favor, Cameron, Johanna estava interessada em seu dinheiro.
- E quem disse que essa menina não está só interessada no meu dinheiro?
- Faça- me rir, Cameron, essa garota tem mais dinheiro do que todos nós juntos, esqueceu que ela é uma Boaventura? - sorri sem humor - Pense bem antes de fazer alguma coisa. - ele me abraçou - Até amanhã no jantar.
- Tchau - falei fechando a porta.

Sara narrando:

- Agora, amorzinho, vamos ver o que você tem - falei colocando-a em cima da cama. Ela sorriu mostrando os dentinhos que estavam nascendo. - Ah, mocinha, sei por que está com febre!
- Descobriu o que ela tem? - Cameron apareceu na porta e ficou ao meu lado na cama.
- Os dentinhos estão nascendo, isso que causa a febre. Normal. - falei indo à caixinha de remédios e pegando um.
- Você parece a mãe dela. - ele falou numa distância um pouco suspeita, virei-me e dei de cara com aqueles seus olhos esverdeados me encarando.
- Não sou Elizabeth, Cameron. - falei saindo e andando até Liz, que estava deitada na cama coçando os olhos.
- Eu sei que não, só lhe disse que parece minha ex-esposa. - ele falou se aproximando e ficando ao meu lado outra vez. Coloquei o remédio em sua boca e Liz fez uma careta.
- Mamãe, dormir. - ela falou e eu a peguei no colo.
- Vamos escolher uma roupinha. - levei-a até o guarda-roupa e o abri. - Escolha. - ela apontou para um pijama do Barney. - O do Barney? - ela balançou a cabeça e eu o peguei, olhei para os lados e Cameron já não estava mais lá. Dei de ombros e coloquei Liz em cima da cama, trocando sua roupinha.
- Papai! - ela falou e começou a coçar os olhos.
- Você quer que eu chame ele? - ela balançou a cabeça e sorriu. Respirei bem fundo e coloquei Liz no berço, abri a porta devagar e me dirigi ao quarto do Sr. Brooks. Bati na porta várias vezes, então decidi entrar. O quarto era amplo e totalmente azul bebê, com uma cama de casal. Peguei uma foto de Liz quando ainda pequenininha e sorri.
- Sara, o que faz aqui? - Ele falou chamando minha atenção e eu me virei para ele. Meus olhos se arregalaram ao ver a imagem daquele homem quase nu na minha frente.
- Erm... Eu... - respirei fundo e continuei. - Eu vim te chamar porque a Liz está chamando pelo senhor e eu já vou indo. - abri a porta, mas fui puxada bruscamente para trás colidindo com seu peito molhado.
- Por que você foge de mim?
- Eu preciso ir.
- Você não respondeu minha pergunta.
- Liz está me esperando. - falei me soltando de seus braços e correndo até o quarto de Liz.
Ela estava serena dormindo quietinha em seu berço, então andei até ela e cobri-lhe dando um beijo no topo da cabeça. Desci as escadas daquela grande mansão e me dirigi à piscina tirando minhas botas e colocando meus pés lá dentro.
Senti um alívio tão grande que eu não sentia desde os dias que eu passei longe daqui. Minha vida era um inferno, se não fosse por minha mãe eu já teria acabado com a raça daquele tarado, infeliz e safado que só queria o meu dinheiro. As frases de minha mãe rodeavam minha cabeça: 'Você é uma vergonha para a minha família', 'Ainda não sei porque você é minha filha'.
Senti pequenas gotículas de chuva caírem por meus cabelos e deixei que elas caíssem sobre mim. Para quem já está molhado, um pingo é besteira. Deitei na borda da piscina sentido todas as gotas caírem sobre meu corpo.
- Sara, acorda, você 'tá tremendo! - duas mãos me balançavam freneticamente, mas eu estava mole demais para sentir. Dois braços fortes rodearam minha cintura e costas me levando para dentro. Eu não raciocinava direito, todos os meus sentidos estavam desligados.
Fui arrastada para o grande banheiro e, sentada no chão, a água quente passou por todo o meu corpo, me fazendo sentir-me bem melhor. Levantei-me com a vista meio embaçada e desliguei o chuveiro. Andei até a porta até cambalear.
- Acho que você não está pronta pra andar. - Minha cabeça doía muito para raciocinar agora, então fui sentada na tampa da privada.
- Cameron... - minha voz saiu como um sussurro e eu abri meus olhos e vi seu rosto angelical.
- Não fala nada. Aqui estão roupas limpas, são minhas, já que as suas estão na casa da Mary. - ele se levantou e eu o puxei pelo braço.
- Obrigada, Cameron. - dei um beijo na sua bochecha e ele se retirou, fechei a porta agora podendo ficar em pé direito. Peguei a roupa dele que tinha o seu cheiro e a vesti, saí do banheiro um pouco zonza.
- Opa! - ele me abraçou pela cintura e me levou pra cama e me sentou na mesma, também sentando-se ao meu lado. - Tá melhor?
- Sim - levantei minha cabeça. - Obrigada.
- Não foi nada, mas... Você é louca? Quer se matar? Andou se drogando? - eu arregalei os olhos e ele começou a rir.
- Você é bipolar?
- Não - ele parou de rir - Você é que é doida em ficar na chuva, quer morrer?
- Melhor do que ficar aqui e sofrer. - falei me jogando na cama.
- Hey - ele se apoiou em uma das mãos e virou a cabeça pra mim.- Nunca mais repita isso.
- Talvez fosse melhor - sentei-me em sua frente - Pelo menos aquele velho parava de me atormentar. Ninguém me quer nessa droga de mundo. - as lágrimas já rolavam dos meus olhos. Podia parecer drama, mas era a pura verdade. Ele me envolveu em um abraço forte me fazendo ficar de joelhos na cama.
- Calma, vai ficar tudo bem. - ele falou afagando meus cabelos e se separando de mim. - Você pode me contar essa história? - ele se sentou ao meu lado encostando as costas na cabeceira da cama, engatinhei na cama e me sentei ao seu lado, abracei meu corpo em forma de me proteger do frio. Ele me puxou pra perto e me abraçou de lado.
- Meu pai era Richard Boaventura, ele e minha mãe se conheceram no colegial e se apaixonaram. Foi aí que minha mãe ficou grávida de mim, ele ficou muito feliz e então tudo começou. Meu pai viu que para dar um futuro bom pra mim ele precisava trabalhar muito, então criou as empresas Boaventura em parceria com Carlos De La Vegas e Paul Brooks, seu pai. Meu pai morreu em um acidente de carro cinco anos depois que eu nasci, e foi aí que tudo desmoronou. Eu não sabia o que fazer, e Carlos começou a consolar minha mãe, até que depois de um tempo eles começaram a namorar e depois se casaram. Eu morei até os 16 anos na casa da minha avó, mas então ela morreu e eu tive voltar para aquele inferno. Depois de eu ter voltado, o Carlos ficava dando em cima de mim, e foi aí que eu comecei a trabalhar em vários lugares, cafeterias, padarias, danceterias... mas foi tudo em vão. Ele sempre me achava e me mandava de volta. Minha mãe está cega de amores por ele e é isso o que me mata, ela me trata mal por causa daquele animal irracional. Então eu vi o aviso de trabalhar de babá aqui, achei que seria uma boa morar em outra casa, mas outra vez ele me achou. - as lágrimas escorriam de meus olhos e eu o abraçava forte.
- Calma, eu não vou deixar ele te maltratar, ok? - ele falou olhando para mim - Eu vou te proteger.

The BabysitterOnde histórias criam vida. Descubra agora