Capítulo 3

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Então era ele.

Três dias intrigada com um mistério para, no final das contas, ser ele. O guri novo. O mesmo que nunca acordava durante aula nenhuma e que havia me forçado a terminar com o Pablo no momento e de forma errada.

Por dentro, eu estava borbulhando de raiva, enquanto eu ia até ele e parava em sua frente. Ele não ergueu a cabeça, mas eu sabia que ele estava me olhando, de certo modo. Já àquela distância eu conseguia sentir o calor que vinha dele, e fiquei transtornada por isso ter me causado arrepios quando o que eu queria mesmo era dizer umas boas verdades a ele.

- É você então? – foi o que eu disse, soando mais estridente do que eu gostaria.

Ele respirou fundo e se ajeitou. Quando se desencostou da parede e arrumou sua postura, a primeira coisa que eu percebi era que ele era alto – bem alto. Tipo um metro e uns bons 90 centímetros. Alto o suficiente pra fazer com que eu, nos meus 1,68 metros me sentisse uma anã.

E a segunda coisa que eu não pude deixar de notar foi o seu rosto. Os olhos e os traços que eu vira no escuro estavam ali, e agora que o enigma do seu rosto estava completo, eu estava sem ar. Ele era lindo, de um jeito único e perigoso. Os olhos eram pequenos, estreitos, a testa parecia constantemente enrugada como se ele sempre tivesse algo em mente, a boca não era nem fina nem larga demais.

- Sou eu. – ele disse. Sua voz me causou ondas de arrepios inexplicáveis e eu tive que desviar o olhar porque simplesmente não estava agüentando.

O que eu estava pensando mesmo? Antes de encarar o rosto dele, quero dizer. Eu não conseguia mais me lembrar.

- Você... – fechei os olhos com força e lhe dei as costas, esperando que isso aliviasse a confusão na minha cabeça de alguma maneira – Você... é o cara novo da minha sala!

- Sou. – ele respondeu, apenas.

- E você é o mesmo cara que contou pro Pablo onde eu estava e me forçou a terminar com ele! – concluí, como se tivesse descoberto a América. Então eu dei risada, ainda sem me virar – E eu me abrindo com você, reclamando disso pra você.

Ele não respondeu. Quando achei que ele tivesse ficado sem palavras, me virei de novo para encará-lo. Ele parecia confuso, e havia cruzado dois braços enormes na altura do peito.

- Eu achei que estivesse te ajudando. – falou, pensativo.

- Você é um hipócrita! – exclamei, sem poder acreditar como cabia tanto cinismo em alguém tão bonito – Sabia de tudo, sabia quem eu era o tempo todo e ainda assim fez de conta que não sabia de nada. É por sua causa que eu estava chorando naquele dia.

- Achei que fosse por causa do Pablo.

- Argh!

Avancei nele, mas ele não se moveu. Desisti logo em seguida, vermelha de raiva e de vergonha. Bufando, sai de perto dele e entrei no banheiro feminino.

Abri a torneira e molhei o rosto com as mãos, a fim de tirar um pouco da vermelhidão. Quando olhei no espelho, ele estava atrás de mim.

- O que você está fazendo aqui? – perguntei, assustada e me virando – Não pode entrar aqui, é o banheiro das meninas!

- Ah. – fez, parecendo só então perceber - Desculpe.

Na hora, ele saiu, mas ficou parado na porta, um pé dentro e um pé fora.

- O que é um hipócrita? – ele perguntou de lá. Eu franzi cenho.

- Um guri que diz uma coisa e faz outra. – respondi, sem ter certeza se aquele era o real significado da palavra. Eu nem sabia de onde havia tirado aquilo quando resolvi xingá-lo.

Ardente PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora