Capítulo 11

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Théo não apareceu nos dias seguintes, o que só aumentou a minha agonia.

Por outro lado, aparentemente ninguém além de mim havia visto sequer traço de Úrsula por perto – e ela um tipo bem difícil de não se notar. Imaginei onde estariam os dois, o que estariam discutindo e, principalmente, onde eu me encaixaria naquela conversa.

Eu me lembrava exatamente de cada palavra, trocada entre eles com tamanha voracidade que pareciam dois animais selvagens. E mesmo repassando mentalmente lance por lance daquele dia inimaginável e especialmente horrível da minha vida, eu não conseguia chegar à conclusão nenhuma.

Keyla também não estava ajudando. Quando eu lhe pedi alguma opinião no primeiro dia de escola depois do meu aniversário – passado o restante do feriado e o final de semana -, ela simplesmente deu de ombros. Não parecia estar nem um pouco disposta a tocar no assunto, e olhava pensativa para lugar nenhum enquanto eu falava.

O que era uma grande porcaria. Quero dizer, um dos principais motivos pelos quais eu havia contado tudo a ela era porque eu precisava de ajuda! Eu precisava de alguém que pudesse, sei lá, discutir as possibilidades comigo. O comportamento dela não estava sendo útil em quesito nenhum, teria sido muito mais fácil se eu tivesse ficado quieta.

Como se todo o meu estresse não fosse suficiente, Pablo estava tomando o lugar de Keyla como "vigia à distância". Eu o vi sorrir como um bobo quando ele percebeu que eu estava usando no pescoço a correntinha que ele me dera – de longe um dos momentos mais legais da festa. Mas o tempo todo, ele estava me olhando de longe, com olhos preocupados, estreitos. Começava a me irritar.

E mesmo fora da escola, eu sentia que estava sendo vigiada. Várias vezes por dia eu olhava pra fora, pra ver se Théo estava por lá na sua bizarra forma de cachorro preto. Mas não estava. Não havia ninguém lá, e ainda assim eu sentia como se os olhos do mundo estivessem voltados sobre mim. Era muito desconfortável.

A semana correu sem que eu tivesse notícias. Todo dia antes de deitar e assim que eu acordava, eu olhava pela janela na esperança de vê-lo por ali. Nada. Num dado momento, já estava sentindo certo alívio por ele não ter aparecido. Assim, pelo menos, eu poderia me abster de lhe dar notícias que ele não gostaria de ouvir, e quem sabe até de ouvir coisas que eu possivelmente não iria gostar.

Mas a sensação logo passava, e uma angústia vinha em seu lugar. Onde ele estava? Iria aparecer? O que Úrsula teria feito com ele?

E o que fariam comigo?

Lá pela sexta-feira, eu já estava cansada de esperar. Não podia mais ficar em casa, aguardando que ele aparecesse na minha porta com um sorriso lindo, uma explicação mal contada e quem sabe até mais uma nova dúzia de mentiras pra tentar me enrolar. Não dava. Eu precisava ir atrás dele.

Então eu resolvi não ir à escola no dia seguinte. Uma falta não faria mal a ninguém. Dei uma volta pela cidade, enquanto meus pais acreditavam que eu estava na escola. Procurei em todos os lugares, desde becos até lugares mais óbvios. O pior era que eu nem sabia por onde começar, uma vez que eu não sabia nem o mais básico sobre ele, tipo onde ele morava.

Bom, ele virava um cachorro, certo? Quem sabe não estava onde cachorros geralmente estavam – fosse isso onde fosse? Comecei a seguir os pobres cachorros de rua, como uma menina grande e boba demais, indo parar simplesmente em lugar nenhum.

Minha frustração não foi o suficiente pra me abater nas horas seguintes. Continuei fuçando pela cidade, rodando a pé todos os lugares ao meu alcance, rodando sem saber onde eu iria chegar.

Desisti quando já era hora de voltar pra casa. Lentamente, refiz meu caminho e voltei pra casa, exausta, querendo mais que tudo dormir e de preferência acordar quando aquele pesadelo acabasse.

Ardente PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora