Théo não apareceu mais nos dias que se seguiram. Mas esse era o menor dos meus problemas.Pablo, na verdade, era quem estava no topo da minha lista de preocupações. Ele estava me deixando de cabelos em pé. Desde que ele viera até a minha casa e me dissera o que havia descoberto, eu estava agoniada. Então houve aquela conversa com Loren, e me perguntei se ele estava soltando mais do que devia pra mais alguém por aí.
Na escola, na segunda-feira, tive vontade de ir até ele e ameaçá-lo, mas Pablo não apareceu. Encarei isso como um bom sinal, pois se ele não estivesse por perto, certamente não me causaria problemas. Eu achava fofo ele se preocupar comigo e por um instante até me encantava aquele senso protetor, mas tudo isso sumia quando eu pensava que ele sabia mais do que deveria saber.
Cheguei à conclusão de que eu ia explodir quando, já na quarta-feira, percebi que agora eu tinha olhos extrema e desagradavelmente protetores sobre mim onde quer que eu fosse. Em casa, ficou claro que a conversa entre mim e Loren não havia acabado na cozinha; minha mãe estava prestando muito mais atenção em mim do que antes, e vez ou outra eu percebia as duas conversando em voz baixa. Na escola, Keyla e eu conversávamos muito pouco, mas eu sentia seus imensos olhos preocupados acompanhando cada mudança de expressão no meu rosto. E, claro, Pablo.
Ele reapareceu na segunda-feira, e parecia ter pegado uma gripe daquelas. Agora que já estávamos quase no meio de maio, começo de inverno, São Joaquim estava coberta por uma camada de ar frio que deixava difícil fazer basicamente qualquer coisa durante o dia. E, só de olhar pra Pablo, eu imaginava se ele teria passado uns dias dentro de um freezer.
- Você ta com uma cara péssima. – comentei, com uma careta, quando ele chegou perto de mim e Keyla na quarta-feira. Ele deu de ombros.
- E você, como está? – quis saber, a voz meio fanha. Bufei.
- Ótima. Já disse que não tem que se meter nessa história. – respondi, secamente. Ele pareceu não se importar, e sentou-se ao meu lado. Keyla olhou brevemente de mim para ele.
- Ele já apareceu? – Pablo indagou, em voz baixa. Olhei pra Keyla, e decidi que, afinal, as coisas já estavam feias mesmo.
- Relaxe, a Keyla sabe de tudo.
- Sabe? – ele pareceu indignado – Keyla, você ta deixando essa guria se meter nessa história mesmo assim?
- Eu não posso obrigar a Laura a fazer aquilo que eu sei que é certo. – Keyla afirmou, olhando fixamente pra mim – Mas se pudesse, eu faria.
- Chega vocês dois! – exclamei, me pondo de pé – Eu não preciso que ninguém me proteja, tudo bem? E já cansei de vocês dois me tratando como se eu fosse criança!
- Então pare de agir como se fosse uma criança teimosa! – Pablo ralhou, e eu fiz cara feia.
- Eu sei o que eu estou fazendo. – declarei, mesmo não tendo certeza nenhuma daquilo – Parem de se preocupar comigo!
Peguei minhas coisas e deixei os dois pra trás, totalmente estressada. Agora, mais que antes, estava vendo o quanto estava equivocada ao deixá-los saber de tudo.
Estava a meio caminho da sala de aula quando Théo surgiu de repente na minha frente, saindo de dentro do laboratório de informática. Eu sorri ao vê-lo, e ele me abraçou.
- Achei que fosse me fazer esperar mais! – exclamei, apertando meu rosto contra o peito dele. Théo beijou o topo da minha cabeça e me apertou mais forte em seus braços.
- Não deu. – ele riu, mas o riso logo foi morrendo – Você estava discutindo com quem? Dá pra sentir a raiva em você.
Não perguntei como ele estava sentindo isso. Apenas o soltei, devagar, e encarei o chão por alguns segundos.
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Ardente Perigo
RomanceA mudança repentina de Théo Ferro para a cidade fria e turística de São Joaquim, em Santa Catarina, vai balançar mais a vida da jovem Laura do que ela esperava. Após dezesseis anos vivendo uma vida de adolescente comum, sua vida vai virar de cabeça...