Capitulo 6

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Théo não apareceu mais pelo resto do feriado.

Eu não sabia dizer se isso era bom ou ruim. Por um lado, havia aquela urgência em vê-lo – eu queria tanto que ele estivesse por perto pra me ajudar a sobreviver àqueles dias que chegava a doer. Por outro, havia a parte de mim que ainda estava com um pé atrás, e pior: com medo.

Minha tia foi embora na sexta-feira, me trazendo uma onda de alívio e me dando mais tempo sozinha pra pensar. O que não foi de todo bom. Cada vez que eu fechava os olhos, eu me lembrava daquele abraço e da dor, da impressão que eu tivera de que Théo estava realmente querendo me quebrar ao meio. Céus, aquilo não era possível, era? Era Théo, meu Deus!

E de novo, o que aquilo queria dizer? Tipo "era Théo". Legal. O que eu sabia sobre ele? Nada bom, isso com certeza. Ele podia muito bem ser algum tipo de maníaco e eu não fazer idéia. Eu nem sabia onde ele morava, com quem ele morava, ele nunca falava nada sobre si mesmo. Era tudo eu, eu e eu. Como eu podia confiar que meus instintos estavam errados?

Claro que eu queria que eles estivessem errados – eu desejava isso a cada momento que minha mente vagava, em dúvida. Eu queria que eles estivessem errados, que Keyla estivesse errada e que tudo aquilo fosse apenas um mal entendido. Porque eu estava próxima demais pra aceitar uma decepção àquela altura. Eu não queria ter que me afastar.

Seria tão mais fácil se ele simplesmente me contasse as coisas. Qualquer coisa. Tudo bem que não nos conhecêssemos há tanto tempo, mas ainda assim, ele já sabia tanto sobre mim. O que havia de errado em dizer algumas coisas sobre si mesmo? Tiraria tanto peso dos meus ombros!

Foi aí, naquela tarde de domingo, que eu pensei que não tinha que realmente esperar que ele me contasse alguma coisa. Eu podia descobrir alguma coisa sozinha. Eu só precisava de muita coragem, uma dose de sorte e arquivos da escola. O suficiente pra ter uma noção de com quem eu estava lidando.

Mas eu não poderia fazer isso sozinha. Eu ia precisar de Keyla.

- Isso é errado! – ela exclamou, quando lhe contei meu plano, caminhando vagarosamente para a escola.

- Eu sei. Mas pode dar certo. – argumentei. Não adiantou muito.

- Não, Laura, quando eu disse "errado" eu quis dizer "muito errado". – Keyla falou, rindo de mim e da minha loucura – Sabe o que acontece se te pegarem? No mínimo uma suspensão. E mesmo que não te peguem, isso é errado, mexer nos arquivos da escola!

- Keyla, por favor, me ajuda! Eu só preciso achar as fichas do Théo!

- Laura, quantas vezes eu te disse que esse garoto é perigoso? Olha só no que você está se metendo por causa dele!

- Vai me ajudar ou não?

Um ultimato. O tipo de coisa que funcionava com a minha melhor amiga. Ela me aconselhava, dizia que era errado, me mostrava tudo o que eu já sabia, mas no final, iria me ajudar. Motivo pelo qual ela suspirou e eu vi a desistência nos seus olhos.

- Por que você faz isso comigo, Laura? – indagou – É muito injusto.

- Amigos são pra isso. – afirmei, e ela me lançou um olhar zangado.

- Estou mais pra anjo da guarda ou milagreira ultimamente. – reclamou, e eu ri.

Théo estava me esperando na porta do colégio, e cumprimentou Keyla, apesar do olhar duro que ela dirigiu a ele. Entramos juntos, de mãos dadas.

- Como se sente? – me perguntou, apertando minha mão um pouco forte demais.

- Cansada. – falei. Não era a melhor resposta, mas era a que eu estava disposta a dar.

Ardente PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora