Capítulo 14

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- Alguém? – comecei a entrar em desespero – Como assim? Por que tem alguém vindo atrás dele?

- Eu não sei! – ela gemeu de dor, e achei que fosse cair – Vão, vão logo!

- Eu não vou te deixar aqui! – exclamei.

- Eu a levo, Laura. – Théo se ofereceu, mas Keyla ergueu uma mão trêmula em sinal de que parasse.

- Não! Me deixem, vão vocês!

- Encare isso como a primeira boa ação de um demônio. – ele resmungou, e a pegou antes que viessem mais protestos. Ela parecia fraca demais pra argumentar, e simplesmente se deixou ficar, mole, nos braços do meu Théo.

A pontada de ciúme que surgiu não foi nada comparada ao medo e ao desespero dos minutos que se seguiram enquanto nós corríamos em direção à casa do Pablo – Théo e Úrsula em velocidade sobre-humana, eu tentando acompanhá-los. Depois de um tempo, Úrsula pareceu se cansar de me ver tentando seguir seu ritmo e simplesmente me ergueu nas próprias costas e começou a me carregar. Fechei os olhos pra não ficar tonta.

Chegamos a casa dele mais rápido do que eu jamais teria conseguido. Úrsula me deixou cair sem piedade sobre a neve tão logo paramos em frente à casa dele. Me levantei e ajudei Keyla a se equilibrar sobre o chão enquanto Théo a soltava lentamente. Ele parecia ansioso.

Olhei pra casa, e o portão da frente estava entreaberto. Um nó se formou na minha garganta.

- Quem está ai dentro? – perguntei a eles. Pois, obviamente, eles deviam saber muito mais do que eu sabia.

- Um demônio poderoso. – foi Úrsula quem respondeu, os braços cruzados e a expressão desinteressada – Eu entraria rápido se fosse você.

Obedeci sem contestar, levando Keyla comigo e com Théo nos seguindo de perto. A casa estava fria e silenciosa, como um túmulo. Cada passo meu parecia levar uma eternidade, e meu coração batia tão alto que eu podia escutá-lo bombear.

Fazia um bom tempo que eu não entrava naquela casa, mas eu ainda lembrava onde tudo estava. Viramos à esquerda depois do hall de entrada e seguimos pra sala. Mais perto, pude ouvir pequenos soluços.

Assim que passamos pelo arco de entrada da sala, vi Pablo sentado na poltrona onde seu pai costumava se sentar aos domingos pra ler o jornal ou assistir a um jogo na tevê. Seu rosto ainda desfigurado depois do soco que Théo lhe dera estava vermelho e ainda mais inchado. Ele estava chorando.

Logo ao lado dele, agachada junto à poltrona, com um braço passado pelas suas costas, estava uma moça de aparência ingênua, de cabelos encaracolados e pele morena acetinada, tão linda que seu sorriso parecia encher todo o cômodo de cores. Seria uma mocinha perfeitamente normal, não fosse a sombra que enchia seus olhos e o tom maligno no sorriso depois que percebi que seus sussurros sorridentes eram o que fazia Pablo chorar.

- Olha só, querido! Temos companhia! – ela cantarolou, passando a mão por seus ombros e sorrindo pra ele. Seu olhar lentamente se voltou para nós, e ela pareceu sorrir ainda mais – Laura! Ele falou tanto de você!

A moça fez carinho nos cabelos ralos de Pablo, e ele continuou soluçando, olhando pro chão, sem sequer perceber que estávamos ali. Sua lágrimas pareciam feridas abertas no meu coração. Quis matá-la por fazê-lo sofrer daquele jeito.

- Uh, pensamentos maléficos, Laurinha? – ela se divertia, falando comigo em seu tom meigo e infantil – Continue assim! Ninguém gosta de garotas boazinhas hoje em dia!

- O que você fez com ele? – perguntei, reunindo toda a coragem que eu possuía, tentando não fraquejar. Ela riu.

- O que eu quero... bem, você trouxe direto pra mim, não foi? – olhei de relance para Keyla, mas ela não pareceu se abalar. Continuou parecendo firme – Mas eu não posso tocá-la. Só um demônio pode. E já que ele não quer...

Ardente PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora