Capítulo 4

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Sei que no fundo não estou a desfrutar da minha juventude, uma vez que com 23 anos esta já é a minha rotina, algo com que já me habituei e que não possui qualquer retorno. Percebo também que as circunstâncias em que me encontro poderiam ter sido evitadas, quando tudo iniciou, no entanto ele pôs-me no topo do mundo e depois fez com que a queda fosse grande e destrutiva. E não poderia ter corrido melhor. Contudo mantinha-me com ele porque é certo que isto vai ser controlado. E esta é agora a minha realidade, aquela com que tenho de aprender a viver.

Depois da discussão na cozinha, o que aconteceu é previsível, já não é algo que eu consigo atrasar por muito tempo. Por isso, depois das novas memórias na minha mente, de uma noite mal passada e de um dia ainda pior, pude sentar-me por uns momentos no sofá da casa da minha mãe, que estranhou as recentes marcas na minha face embora eu tenha tentado disfarçar com camadas de base sobre os hematomas.

Logo a seguir à minha mãe ter terminado de me contar o novo acontecimento que passou nas notícias, levantei-me e enviei uma mensagem a Joshua, informando-o que quando ele saísse do seu emprego eu estaria no supermercado, pois a comida em nossa casa estava a escassear. Coloquei o Brian no carrinho e aconcheguei-o com a sua manta azul clara. Quando me preparava para sair senti o meu telemóvel a tremer nas minhas calças, rapidamente o tirei e desbloqueei-o, encontrando uma resposta do Joshua a dizer para ir ter com ele à porta do seu emprego, de modo a pudermos ir juntos. Escrevi um "Okay" como resposta, pois ele iria com certeza chatear-se se não o fizesse e saí de casa logo a seguir , caminhando até ao local anteriormente combinado.

Sentei-me no banco mesmo em frente do edifício onde Joshua se localizava e olhei atentamente as pessoas a passarem.

Só dei pelo meu namorado à minha frente quando este chamou pelo meu nome, e rapidamente me levantei para iniciarmos o nosso caminho até ao supermercado mais próximo. Assim que me levantei, a sua mão pousou-se na minha cintura apertando-a contra si. No entanto, há muito que isto não é um sinal de afeto ou amor. É apenas un sinal de posse, para que todos saibam que eu lhe pertenço. É ridículo como isto soa, mas é a infeliz realidade.

"Bom dia." - ele disse com naturalidade.

"Boa tarde, Joshua." - repondi, sem qualquer emoção explícita na minha voz.

O caminho foi feito avidamente até ao alojamento sem qualquer troca de palavras entre nós e logo que chegámos, começamos a procurar os bens necessários e a po-los no carrinho empurrado pelo Joshua.

"Vou buscar as bebidas." - informou-me e eu simplesmente assenti. Não quero dizer nada que o incomode. Ele virou-se e começou a andar mas algo o fez voltar a olhar-me.

"Esperas aqui?" - perguntou.

"Não. Vou à parte da higiene."

Assentiu e depois de dizer que iria lá ter, quando terminasse, continuou o seu caminho.

Procurei pelos vários corredores daquele supermercado até encontrar o que desejava. Apenas se encontravam duas pessoas naquele corredor. Uma delas era uma senhora baixa e com o cabelo grisalho, que parecia indecisa entre dois champôs, nas suas mãos, e um rapaz moreno claramente mais novo que olhava confuso para a prateleira da maquilhagem. Dirigi me à secção que desejava e olhei as variadíssimas marcas à minha frente.

"Desculpa." - ouvi atrás de mim.

Virei-me lentamente para encontrar o moreno de há pouco.

"Peço desculpa, será que me podes ajudar?" - questionou-me reticente.

"Oh, sim claro" - repondi com um meio sorriso e olhei para o Brian e depois à minha volta. A senhora baixinha punha o champô que outrora decidira no seu carrinho de compras.

"É que..." - riu e coçou a parte traseira do seu pescoço - " preciso de um...eyeliner?" - disse quase a perguntar-me.

Olhei-o confuso.

"Oh, não é para mim!" - riu de novo - "é para a minha irmã, ela quase me obrigou."

Ri de leve e olhei a maquilhagem. Facilmente encontrei o que o moreno precisava e peguei no pequeno tubo preto, levantando-o à sua frente.

"Aqui" - sorri.

No entanto, assim que ele de preparava para pegar no objeto e com certeza agradecer-me pelo sucedido, um Joshua furioso apareceu ao nosso lado.

"É ele, não é?!" - gritou, mesmo aos meus ouvidos.

"O quê?" - olhei-o confusa mas rapidamente percebi do que ele falava "Não!"

"Quem é ele?! Não te atrevas a mentir-me, Leslie!" - a sua mão envolveu o meu pulso e apertou-o, aproximando-se cada vez mais de mim. O rapaz olhava para nós, possivelmente chocado com a situação à sua frente.

"Eu não o conheço" - disse, com a dor evidente na minha voz.

"Não o conheces? Esperas que acredite?!" E exerceu ainda mais força sobre o meu pulso.

"Se lhe tocas, chamo a polícia!" - gritou o rapaz, de modo a que Joshua ouvisse bem. Mas não o deveria ter feito. Em segundos, Joshua agarrou-o pelo colarinho e empurrou-o contra as prateleiras.

"Não me digas o que fazer!" - gritou contra ele e empurrou-o novamente. Largou o rapaz e agarrou-me pelo pulso com uma mão e no carrinho com outra, forçando-nos a sair do estabelecimento. Queria olhar para trás e pedir desculpa, mas isso não poderia correr bem.

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Queria dar um GRANDE obrigada pela ajuda na ideia deste capítulo às maravilhosas Maria Inês e Margarida (e claro, à fantástica Tânia!) ♡

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