Capítulo 5

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A cena do supermercado foi em parte surpreendente. Ainda há facetas que desconheço do meu companheiro de casa. Sei que ele ultrapassou certos limites, quando atacou o rapaz indevidamente, mas não há nada que eu possa fazer em relação a isso. No entanto, gostaria de pelo menos me desculpar pelo comportamento indesejável do Joshua.

Honestamente, tudo isto é lamentável. Mas estou num poço tão fundo que já não há salvação possível. Decidi aquilo que queria, mas a minha escolha não foi, de todo, o que eu precisava para a minha vida. Há também aqueles momentos que quero fazer algo por mim mesma. Quero realmente sair desta prisão. Mas, avaliando a situação em que me encontro e as formas para me aliviar disto, acabo por desistir.

Naquele momento, e depois do ataque de raiva do Joshua, obviamente descarregado em mim, decidi ir passar a noite à minha mãe, uma vez que o Brian precisava de cuidados e já que Joshua estaria certamente a beber até não saber onde se encontra. O bebé já dormia, no colo da sua avó, e um ambiente tenso pairava no ar entre mim e a minha mãe, que se mostrava preocupada. Nunca lhe disse sobre o Joshua nem queria dizer. Mas hoje, eu não podia ficar sozinha. Acabei por lhe contar que hoje ele me tinha batido. Não quis falar muito sobre isso porque eu não lhe queria mentir. Mas eu sei que uma conversa muito séria está para vir.

"Leslie." - disse, parecendo ler os meus pensamentos.

"Diz, mãe."

"O que se está a passar? O que se passou hoje?" - questionou, claramente preocupada.

"Nada, uma discussão. Nada de relevante." - respondi, tentando parecer indiferente.

"Nada de relevante? E essas marcas na tua cara?"

"Mãe, está tudo bem." - disse num suspiro.

"Não, não está tudo bem. Tenho notado que o clima entre ti e o Joshua não é o melhor. Tal como as marcas com que tens aparecido. Mas achei que estavas a dizer-me a verdade. Se ele te anda a bater, afasta-te, não deixes ninguém rebaixar-te. E antes de mais fala comigo. Não te deixes afundar" - a minha progenitora disse rápido demais. Mas contar-lhe não é a solução, ela nunca apoiava que eu continuasse com o Joshua.

"Isso é ridículo. Ele nunca me tocou antes de hoje. E hoje fe-lo apenas porque eu também o provoquei." Mentiras, mentiras, e mais mentiras.

Ela olhou-me seriamente durante os segundos seguintes mas acabou por se levantar.

"Eu vou deitar o Brian."

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Os dias seguintes foram o seguimento de uma rotina. Uma rotina exaustiva e frustrante. E, mais uma vez, encontro-me no estabelecimento onde trabalho, a atender os clientes com o sorriso habitual, embora este não seja totalmente honesto. Ninguém devia viver receoso que o namorado aparecesse. Bem, eu vivo.

Depois de servir um senhor com o café que este me havia pedido, retirei-me do balcão para levantar a loiça das mesas já utilizadas. Hoje estava sozinha e responsável pelo café pois Anna, a dona do negócio, teve que se ausentar para ir a uma consulta. Comecei a lavar a loiça quando senti alguém a entrar no café. Rapidamente me virei o concentrei-me no rapaz que se dirigia ao balcão, e assim que o observei logo o reconheci. Era o moreno do supermercado.

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Agonia ||LWT||Onde histórias criam vida. Descubra agora