Capítulo 3

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Estas são, de um certo modo, as consequências para as minhas decisões. Mas pensei que iria realmente ser feliz com Joshua. No entanto, a vida é assim, há uma altura que perdemos o controlo e quando olhamos para trás, já não pudemos mudar nada. E esta é a minha vida, este ciclo repetitivo e incessante.

Fazia o caminho para a minha casa, calma e pacientemente enquanto ouvia música pelos meus fones e olhava o pequeno ser curioso no carrinho, a espreitar tudo o que o rodiava. Um pequeno sorriso pairava na sua face e apenas com esse gesto sincero o meu coração já aquecia. Mesmo que por pouco tempo.

Procurei pela chave correta e abri a porta, concentrando-me por um momento para poder concluir se alguém se encontrava em casa para além de mim e de Brian. Rapidamente percebi que não e apressei-me a poisar as coisas e a dirigir-me à cozinha para poder adientar o jantar.

Sentei o pequeno Brian na sua cadeira alta e virei-me para a bancada, reunindo todos ingredientes necessários.

Depois de iniciar, o barulho da porta da rua despertou-me seguido do som de passos no corredor, cada vez mais próximos.

"Leslie." - ouvi a sua voz grossa e desviei o olhar do fogão, para encontrar um corpo alto encostado à ombreira da porta da cozinha.

"Boa noite." - balbuciei, apenas de modo a que ele ouvisse.

"Como correu o teu dia?" - perguntou enquanto se aproximava de mim.

Suspirei. Apenas por já saber como isto funciona. Suspirei de frustração, suspirei de cansaço.

"Normal."

"Amor, tu... Eu peço desculpa" - disse aparentemente frustrado. Eu juro que acreditava, se já não soubesse o que se segue.

A sua mão acariciou o meu braço e afastou me do fogão, para acabarmos frente a frente. Passou o polegar pelos meus lábios enquanto o seu olhar estava no meu. E era aqui que eu costumava acreditar que iria realmente mudar. Quando um novo Joshua carinhoso dava de si.

Suspirei novamente, mas mantinha o meu olhar fixo no dele.

"Por favor." - implorou, enquanto espalhava caricias pela minha face.

Finalmente um barulho vindo do fogão salvou-me daquela situação que eu não queria repetir novamente e fe-lo afastar-se para que eu pudesse ver o que se passava. Desliguei as coisas e tirei os pratos, para por a mesa. Ele observava minuciosamente todos os meus movimentos e tal ato intimidava-me mais do que deveria.

"Não me ignores, Leslie." - Soou como uma ameaça, mas o seu tom de voz ainda era meigo e calmo.

"Não te estou a ignorar." - disse simplesmente.

"Eu estou farto! Estou a tentar que fiquemos bem, mas tu não ajudas em nada!"

Revirei os olhos, mas obviamente sem que ele notasse pois isso iria resultar em mais violência, e tento evitar irrita-lo.

"Joshua..." - comecei, mas ele logo me interrompeu.

"Não, não digas nada! Já nem sequer te preocupas connosco! Aposto que tens outro, e assim que eu descobrir quem ele é vocês vão ver!" - gritou, claramente enervado. Deixei de conseguir acompanhar as mudanças de humor dele, já faz algum tempo.

"Eu não tenho ninguém." - constatei o mais baixo que pude.

Os seus movimentos seguintes foram rápidos e perspicazes pois quando dei por mim estava encostada à bancada da cozinha com o seu corpo sobre o meu e as suas mãos a agarrarem os meus pulsos.

"Não me mintas!" - gritou mesmo na minha cara.

"Por favor, não agora... Tenho de dar comer ao Brian"

"Não me digas o que fazer!"

"Por favor." - choramingava, como que para testar se ainda havia algum sinal de sentimento de pai naquele ser à minha frente. E curiosamente ainda havia, porque depois de uns longos minutos, talvez a considerar se deveria ou não deixar me fazer o que ele com certeza não faria, ele afastou-se. Embora ainda retincente e com a raiva visível na sua face.

"Vamos ter que falar, mais logo" - disse enquanto se virava e saía da cozinha.

E aí, deixei o ar acumulado soltar-se, não por alivio mas por não ter acontecido nada à frente do bebé, que já dormia depois de todo aquele tempo.

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