Capítulo 9

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''O Brian está enorme.'' - o meu irmão disse assim que entramos no quarto do meu filho.

''Está.'' - sorri orgulhosa e passei-lhe a mão pelo seu cabelo curto.

"E tu estás diferente." - ele disse enquanto se apoiava no berço ao seu lado.

"O quê?" - virei-me e agarrei numa fralda, para a trocar com a que o Brian carregava.

"Não sei. Parece que perdeste o teu encanto."

"Oh, por favor." - ri levemente ao pegar no bebé. - "Estás a dramatizar."

"Estou? Pareces em baixo."

"Podemos não falar de mim? Tens tanto para me contar."

"Eu tenho voo marcado para amanhã e não falamos sobre ti ainda."

"Talvez porque não há nada para dizer."

"Estás distante, e isso preocupa-me." - fez uma pausa e aproximou-se, pondo a mão no meu ombro e deixando leves carícias pela área. - "A mãe concorda comigo."

"Queres dizer que andaram a falar sobre mim?" - virei-me de frente para ele, olhando-o nos olhos.

"Quero, sim. E estamos ambos bastante preocupados." - revirei os olhos. Sei que não lhe posso contar.

***

Abracei-o, para por fim a uma dolorosa despedida, e observei o meu irmão a afastar-se e a entrar no elevador acenando-me uma última vez.

"Vai ligando." - ele relembrou.

Assenti rapidamente enquanto via o seu corpo desaparecer por trás do elevador. Fechei a porta que permitia o acesso à minha casa e passei pelo Joshua, que estava sentado no sofá, com uma garrafa de cerveja na mão, a olhar fixamente para a televisão. Dirigi-me para a cozinha, onde ainda havia tarefas por realizar.

Comecei por lavar a loiça do almoço, visto que o Brian continuava a dormir. Até sentir uma mão a prender-me o braço e a exercer força no mesmo para me virar. Calculei automaticamente quem era e suspirei, prevendo o que se sucedia.

A sua face refletia uma raiva imensa, que duvidava poder ser carregada por um mero ser humano.

"Acho que temos que conversar." - suspirei e fechei os olhos, para me preparar para o embate que sabia que vinha. E ele veio, fazendo o meu rosto ficar quente e a adrenalina subir-me no sangue. A preparação é inevitável face a raiva e o ódio que o coração dele carrega. Seguindo do primeiro embate no meu rosto, vieram outros tantos gradualmente mais fortes fazendo a dor espalhar-se por toda a área. E não ficou pela cara, rapidamente o meu corpo foi impulsionado para o balcão de pedra e pontapeado depois de já se encontrar no chão. Deixava que gemidos e suplícios saissem pela minha boca até que nem mesmo isso conseguia fazer. O desespero apoderou-se da minha alma e da minha mente que já estava totalmente ciente que desta seria o fim. E tudo piorou, os pontapés e murros eram espalhados pelo meu corpo enquanto o choro de um bebé indefeso soava pela casa envolvendo-se com as várias tentativas de gritos que reunia as forças para executar, com um propósito de lhe implorar para parar.

Até que, depois daquilo que pareceram horas, o meu corpo foi deixado no chão frio da cozinha agora submerso com uma mistura aterradora de lágrimas e sangue. E a porta bateu. Transmitindo-me um certo alivio de que necessitava.

Fiz um esforço para me sentar, uma vez que mais do que isso era impossível devido a toda a dor e ardor que sentia e estiquei o braço, gritando ao sentir o impacto que tal ação trazia, para pegar no telemóvel. Fui direta aos contactos, e procurei alguém a quem eu pudesse pedir ajuda. A escolha correta seria a minha mãe, mas ver-me no estado que suponho estar deixa-la-ia aterrorizada. Mas irei certamente ligar-lhe. Por outro lado, poderia simplesmente ligar a uma das minhas amigas, mas, para além de que elas não desconfiam da minha situação, o medo de Joshua descobrir que o tinha feito assombra-me e impede-me de o fazer. Foi aí que o meu olhar parou num contacto, e num ato apressado pus em chamada, enquanto sentia a dor a tornar-se cada vez pior e rezava para que ele atendesse.

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