Agonia ||LWT||

Capítulo 11

||Louis||

Cada passo parece ser uma indecisão quando toca a Leslie. Sinto nela uma dúvida constante entre o ir ou não ir, entre aceitar ou recusar. Ainda assim, admiro a coragem e repugno a habituação com que parece confrontar-se diariamente, com a provável ideia de que nada muda para melhor. Perdeu a esperança e uma vez que se perde a esperança, perde aos poucos cada pedaço dela própria, de tempo em tempo. A permanência dela parece ter na base a vivência da monotonia em cada dia seu, movimentos aproximadamente robóticos em que todos os propósitos são justamente para outros em vez de para ela mesma. É exatamente o que sinto ao seu lado. Sinto a energia negativa e atroz a consumir-me, sem qualquer sinal de vida que faça despertar o ser que Leslie aparenta abarcar dentro dela. Assusta-me que se perca assim, lenta mas tão profundamente. E o sentimento de impotência faz-se sentir assim que clarifico que não tenho qualquer experiência de sofrimento agravado para que a possa aconselhar, seja de que forma for. O meu apoio, ela te-lo-à, acompanhado da dedicação que me esforço em ter. O meu silêncio, também.

"Entra." - disse após abrir a porta da minha casa, lançando-lhe um meio sorriso. Foi rápida a entrar, deixando-me um único agradecimento e mantendo-se cabisbaixa.

"É pequena." - entrei atrás dela e poisei as chaves no móvel da entrada, antes de me encostar ao mesmo.- "Mas acho que serve. Eu trabalho amanhã, mas ficas à vontade."

"Eu também tenho que ir trabalhar. De alguma forma."

"Deves chegar mais cedo que eu, talvez devesses levar as chaves."

"Não sei..." - ela disse, insegura uma vez mais.

"Já falamos acerca disso. Estou esfomeado." - reproduzi o caminho habitual até à cozinha e ouvi os seus passos atrás de mim. - "Tu não?"

"Estou com fome, sim." - respondeu, olhando-me diretamente.

"Vou fazer algo que vais adorar, de certeza! É a minha especialidade." - soltei uma pequena gargalhada e olhei para ela, vendo-lhe algo aproximado de um sorriso minúsculo nos seus lábios.

"A sério?" - ela perguntou possivelmente surpreendida - "e o que é?"

"Lasanha pré-feita." - ri e senti-a a acompanhar-me, ainda que bastante baixo. Dirigi-me ao frigorífico e retirei a palete, poisando-a na bancada. - "Sou horrível na cozinha. Não queiras experimentar."

"Não podes ser assim tão mau!"

Olhei-a, com uma feição algo cómica.

"Não ias querer experimentar." - disse após por a embalagem no forno.- "Senta-te, sim? Estás à vontade."

"Oh, sim." - mexeu-se levemente e encostou-se na bancada da cozinha.- "Estou bem."

"Sei que não estás. Não precisas de esconder de mim. Se estivesse na tua situação, sentir-me-ia sem qualquer rumo. Não digas que estás bem."