"Louis." - eu disse assim que ele atendeu, sem o deixar falar.
"Sim? Quem fala?" - a sua voz soou.
"Sou eu. A Leslie, do café. Preciso da tua ajuda." - expliquei, percebendo automaticamente que ele reparou no meu tom de emergência.
"Onde estás? Como estás, Leslie?"
"Em minha casa. Podes vir cá, por favor? Estou sozinha e preciso de ajuda. Por favor." - as lágrimas voltaram a encharcar a minha face, não só pela dor que sentia por todo o meu corpo, mas também por estar a fazer tudo isto.
"Claro, estou a caminho. Envia-me a tua morada por mensagem." - disse o moreno, dando de seguida fim à chamada.
Fui rápida a escrever a morada e a mandar-lhe, sem pensar duas vezes nas consequências. E comecei por tentar, calmamente, levantar-me. As dores ficavam cada vez mais fortes, à semelhança da raiva que sentia. Não só do Josh mas também de mim mesma. Já o Brian, não emitia qualquer barulho. A casa estava silenciosa, o que enaltecia a banalidade do meu ser que, sem qualquer propósito, desespera por um pedaço de compaixão cuja existência se torna questionável e duvidosa. Ainda assim, e mesmo que a motivação não se verificasse, as tentativas permitiram que me erguesse nas minhas inconstantes pernas. Uns longos minutos passaram enquanto percorria o corredor da minha casa, insegura de mim mesma. É um facto que a espera foi dura, mas finalmente ouvi um bater apressado na porta da entrada.
Depois de confirmar que era Louis, abri-lhe a porta, agradecendo quase de imediato pela deslocação e pela preocupação. A sua expressão intrigada ao olhar a minha face foi o suficiente para que a inquietação aumentasse substancialmente.
"Meu Deus, Leslie!" - ele quase gritou, provavelmente surpreso. - "Tens que ir ao hospital!" - ele aproximou-se de mim e olhou mais de perto. Aproveitei e envolvi-o num abraço que eu sabia que precisava. Um gesto deveras reconfortante. Ele retribuiu, embora um pouco depois, ao apertar-me nos seus braços sem razão aparente.
"Desculpa." - disse assim que me afastei. - "Por tudo isto."
"Não há razão para pedires desculpa." - ele suspirou e passou a mão pelo seu próprio cabelo. - "Vamos."
"O meu filho... ele está no quarto." - disse enquanto apontava para a divisão onde estava Brian. Os seus passos foram rápidos e decisivos até ao sitio desejado. São estas as características que não evito admirar tanto nele como em todas as pessoas que as suportam. A rapidez e a convicção nas atitudes que fluem de maneira deveras natural.
***
Após deixarmos Brian na minha mãe, seguimos para o hospital, local onde nos encontramos agora. Há um silêncio constrangedor a pairar no ar, e sei que ele me quer questionar o porquê do meu estado físico mas incrivelmente não o faz para não depositar pressão em mim, suponho eu. Ainda assim fico-lhe grata, porque qualquer que seja a razão para não me perguntar acerca disso, deixa-me mais confortável, mesmo sabendo que isso era, de facto, o mínimo que poderia fazer. A verdade é que, no fundo, não há nenhum laço que nos ligue. Somos meros desconhecidos que num momento de sorte (no meu caso) se cruzaram. Po-lo nesta situação não seria alvo contestação há uns dias, especialmente quando a noção é plena de que sairei benefeciada, enquanto que para ele a situação é tremendamente aterrorizante. Mas em momentos extremos, acabei por ir contra os meus próprios princípios.
"O que te fez vir?" - olhei-o, enquanto ele alterou a sua expressão para uma pensativa."Não faz parte de mim deixar alguém sozinho quando sei que o que mais precisam é de alguma ajuda." - disse depois de me olhar de volta.
"Sim, não duvido disso... Mas sei que muitos ignorariam o pedido de ajuda e fingiam alguma ocupação, talvez."
"Não vejo alguma ocupação melhor do que o sentimento de gratificação depois de ajudar alguém." - riu levemente.
"Creio que para muitos um simples jogo de consola bastaria para por isso em causa." - suspirei, e olhei a as horas no meu telemóvel - "por isso é que tenho que estar inteiramente grata pelo que fizeste."
A sua boca abriu levemente mas o seu raciocínio foi interrompido por uma enfermeira, chamando pelo meu nome. Levantei me num ápice suportando as dores que sentia, e Louis depois de mim.
"Queres que vá?" - agarrou-me no pulso e questionou-me. Assenti positivamente com a cabeça, e o meu pulso foi solto antes de nos dirigirmos para o corredor, atrás da enfermeira.
A consulta foi ocupada unicamente com o médico, já com alguma idade, a observar os exames que realizara no curto espaço de tempo que ali estive. Disse rapidamente e com uma expressão carrancuda que estava tudo bem e que apenas precisava de algum repouso para recuperar, embora me tenha questionado o que teria acontecido para me encontrar naquele estado atroz, ao qual respondi que tinha sido somente um assalto bastante violento. Receitou-me, por fim, analgésicos para as dores e algum gelo regularmente, para que tudo passasse mais rápido e com menos dores possível. Desconfortável, confirmei-lhe que iria seguir todas as suas indicações e levantei-me para sair do consultório com alguma ajuda do rapaz que me acompanhou, já com a justificação de faltas para os próximos dias.
"Não te vou deixar ir para casa." - Louis disse, atrás de mim.
"Não é como se tivesse mais algum sítio para ir, para além da minha mãe, e não me sinto suficientemente preparada para lhe explicar o porque de manter uma relação de anos que devia acabar agora mesmo."
"Estás a dizer com isso que vais manter-te nesse martírio a que chamas de relação?" - olhou-me, com uma cara que demonstrava exactamente o que sentia. - "É que, desculpa se não me devia meter, mas isso não tem como melhorar. Não esperes que uma pessoa mude da noite para o dia."
"Já passei essa fase de ingenuidade, Louis." - disse e suspirei - "Sei bem que tens razão no que dizes."
"Se não tens onde ficar, ofereço-te a minha casa até encontrares, mas não faria qualquer sentido voltares para aquele sítio."
"Eu não posso aceitar... Não me conheces e já te estou a incomodar imenso."
"Se eu não quisesse eu não oferecia."
E foi aí, em algum momento de insanidade que me correu pelas veias, que assenti com a cabeça e, baixo, agradeci-lhe uma vez mais, contente (em parte) por me poder ver livre daquele tipo de vida de que acabei por me fartar, sem sequer concluir que agravava não só a minha situação, como a dele também.
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Agonia ||LWT||
FanfictionÉ preocupante quando a própria felicidade se torna num dado cuja aquisição é questionável. Não obstante esta ser uma situação recorrente, é unicamente necessário que alguém dê uma pequena ajuda para que se realize a decisão que potencializa mudar um...