◆ One ◆

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Era tarde da noite quando a porta se abriu e Minseok entrou, tentando não fazer qualquer ruído que despertasse o outro indivíduo do apartamento.

Tirou o sobretudo e os sapatos devagar, soltando um leve suspiro quando sentiu o piso gelado através das meias sociais. O silêncio parecia habitar o ambiente por completo até ele ouvir um soluço baixinho vindo da cozinha escura. Mordeu o lábio apreensivo, pois sabia o que aquilo significava, dando-o uma sensação maior ainda de culpa.

Culpa da qual o consumia a cada dia que passava.

Caminhou sem se preocupar com o barulho de seus passos, já que sua intenção de não acordar o outro havia sido inútil, e entrou na cozinha com o máximo de naturalidade que conseguiu, ligando a luz e vendo a figura do mais novo encolhida em uma das duas cadeiras dispostas ali.

Luhan abraçava as próprias pernas e tinha o rosto escondido na curvatura de seu braço. Os soluços saíam baixinhos e fortes, como se tivessem sidos segurados por muito tempo.

– Han, ainda está acordado? – perguntou se aproximando do rapaz com as madeixas num tom cinza, como nuvens em dias chuvosos.

- E-eu te esperei a n-noite toda. - A frase saiu falhada pelos curtos soluços.

Foi então que Minseok reparou. Os olhos correram toda a cozinha observando com angústia a decoração simples e infantil. Balões azuis e prateados estavam presos por um fio no teto, na parede a sua frente havia um pequeno cartaz escrito na caligrafia delicada um enorme "Feliz Aniversário Baozi!" acompanhado de alguns corações coloridos. Viu que na geladeira haviam fotos dos dois juntos presas nos imãs que ganhara de sua mãe há alguns anos, e ao descer os olhos para a mesa, viu um bolo pequeno com cobertura de chocolate e uma vela branca posicionada no centro deste. Engoliu a seco quando voltou a olhar para o corpo encolhido na cadeira sem saber ao certo o que deveria falar.

- Luhan eu-...

- Não precisa se explicar. - O cortou finalmente levantando o rosto para olha-lo. Estava com o rosto molhado, o nariz vermelho e os olhos inchados fazendo o mais velho deles sentir uma culpa ainda maior cair sobre seus ombros. - Já sei o que vai dizer.

- Mas-...

- Eu vou dormir. - O cortou novamente enquanto se levantava dando algumas fungadas e secando precariamente o rosto com a barra da camiseta branca. - Feliz Aniversário, Minseok. - Disse antes de sair da cozinha e se dirigir para o quarto.

O moreno continuou ali, observando cada pequeno detalhe da decoração feita pelo mais novo. Os olhos marejavam mais a cada segundo que ficava parado ali no meio da cozinha, estático.

Não sabia explicar quando aquilo começou. Quando deixara de dar atenção ao namorado para passar horas no escritório jogando conversa fora com Kyungsoo. Quando saía para beber com o colega de trabalho sem levar Luhan consigo, ou sequer lembrar dele. Quando recebeu cantandas do secretário e não se afastou. Quando as conversas se tornaram beijos, e quando os beijos se tornaram sexo. Minseok não sabia como lidar com o ódio que sentia de si naquele instante enquanto caminhava até a geladeira para ver as fotos ali expostas. Sentia nojo de si.

As lágrimas, antes seguradas, agora escorriam livres pelas curvas de seu rosto. As fotos mostravam a época em que viviam grudados um no outro. Passavam horas conversando pelo celular, trocavam diversas mensagens e quando se encontravam no final do dia eram apenas abraços e beijos.

Com o coração doendo ele sentou em uma das cadeiras e olhou para o bolo simples a sua frente. O que ele havia feito com sua vida? Havia destruído tudo por causa de noites de prazer com uma pessoa que nem sequer o amava? Tinha jogado sua vida no lixo por causa de sexo? Quando reparou no seu errou percebeu que talvez era tarde demais.

- Merda, merda, merda... - Repetiu diversas vezes afundando os dedos nos próprios fios castanhos. Não se conformava com o que tinha feito, mas o que poderia fazer agora? Talvez Luhan pudesse perdoa-lo... mas talvez não lhe garantiria nada.

Com os pensamentos afundados em remorso, ele fitou a pequena vela branca.

Um desejo.

Ele tinha um desejo.

Pegou a caixinha de fósforos que estava na mesa e acendeu a vela, observou a chama alaranjada colocando toda sua esperança nela, como se fosse ela quem decidiria seu futuro. Fechou os olhos e respirou fundo para então soprar a vela enquanto no relógio de seu pulso marcava exatas 23 horas e 59 minutos.

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