Primeiro encontro

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Bilbo

Bilbo Bolseiro nunca iria esquecer aquela manhã fatídica quando subiu no trem, tal como um equilibrista tentava andar, segurando as malas e buscando o seu assento, tudo ao mesmo tempo, tamanho era a sua habilidade que o rapaz já imaginara que quem sabe se sua carreira como editor não desse certo, talvez pudesse ser contratado por um circo. Conseguiu avançar pelo estreito corredor e olhou mais uma vez para o bilhete que tinha em suas mãos. Franziu o cenho ao ver que havia alguém sentado no lugar que deveria ser o dele. Novamente fitou o bilhete e depois o assentou, permaneceu naquele entrave por alguns segundos antes de tomar uma resolução, claramente era um engano por parte do outro passageiro, como eram homens adultos e educados, tudo seria resolvido com passividade.

–Er...Com licença. –Falou tentando chamar a atenção do homem que lia tranquilamente um jornal sobre economia. O passageiro o ignorou. Bilbo mordeu o lábio inferior, sentiu a fúria começando a se formar dentro de si, tal como um medidor de pressão cuja seta pendia para a área vermelha onde as palavras "perigo" estavam escritas.

"Não, eu sou um cidadão educado, além do mais um Bolseiro e somos conhecidos por sermos controlados." Pensou enquanto se acalmava.

–Senhor, creio que houve um engano... Está sentado no lugar que deveria ser meu.

O homem, por fim, levantou os olhos do jornal para fitar Bilbo, este engoliu em seco ao sentir o poder que emanava daqueles olhos de íris azuis em uma tonalidade escura a qual Bilbo comparou com o mar revolto em um dia de tempestade. Cabelos negros, longos, amarrados em um rabo de cavalo, lhe conferiam uma aparência mista de guerreiro vinking moderno associado com algum príncipe europeu, afinal vestia roupas caras e usava um relógio Rolex que deveria valer muito mais que o salário anual do pequeno editor.

–E você seria quem? –Aquilo não era uma pergunta e sim uma ordem. Bilbo, outra vez, tentar controlar o seu ímpeto de responder umas verdades ao desconhecido, contudo, o sangue Bolseiro se sobrepôs a sua linhagem rebelde e aventureira de origem materna, os Tûks. Engoliu o ressentimento e sorriu amistoso.

–Sou Bilbo Bolseiro e esse, como já disse anteriormente e não sei se estava escutando, é meu lugar.

–Deve ter se enganado. –Nisso voltou a ler o jornal alheio ao olhar furioso que o menor lhe lançava.

O ponteiro do invisível medidor de pressão tinha se movido, estava na área vermelha. O som do apito indicando o aumento da pressão parecia ressoar nas orelhas do jovem editor. Aquele era o limite!

–Eu não me enganei! Veja o seu bilhete e verá que não é esse assento! Quer ver o meu, se não acreditas?

–Você realmente é teimoso e inconveniente. -Resmungou o outro abaixando o jornal.

–Teimoso? Inconveniente? Eu só estou defendendo o meu direito como cidadão londrino de ter comprado um bilhete, escolhido um lugar ao lado da janela e agora querer sentar! Se não sair daí imediatamente eu não me responsabilizo pelas consequências dos meus atos!

–E o que poderias fazer? –Agora o príncipe vinking sorria, um sorriso que gerou estranhos calafrios no jovem Bolseiro –Sentar me meu colo e conquistar o seu tão desejado lugar no trem?

–E-eu...Eu...-Bilbo começou a gaguejar, sentiu seu rosto esquentar, boca abria e fechava sem produzir um som inteligível.

"Controle-se Bilbo! Não deixe ele vencer!" sacudiu a cabeça para os lados livrando-se do embaraço.

–Escute bem, senhor sei-lá-o-que, esse lugar é meu e a menos que não queira que eu chame as autoridades eu o aconselho a sair do meu assento imediatamente.

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