Na minha tradução para o inglês, procurei respeitar a visão de Helga de um texto legível para as sensibilidades modernas, ao mesmo tempo que me mantive fiel à sua versão autorizada. Minhas próprias alterações foram, portanto, mínimas. Para começar, lá estão as lacunas, os saltos e repetições, e nossa tarefa como leitores modernos é tentar construir uma ponte entre o nosso mundo e aquele da infância de Helga, mergulhando nele. Por esse motivo, os leitores encontrarão notas no final que explicam algumas das referências que para Helga eram subentendidas. Em locais muitos ocasionais, inseri no texto principal uma ou duas notas adicionais para deixar claro um ponto de referência, mas a maioria delas é explicada nas notas. Os parágrafos originais de Helga são frequentemente muito longos, então em alguns momentos tomei a liberdade de quebrá-los em dois para proporcionar aos leitores uma pausa entrepensamentos.Helga escreveu seu diário ainda adolescente e, o que é compreensível para uma criança vivendo em tempos dramáticos, mencionava datas apenas de vez em quando. Datas como títulos para anotações são esporádicas no início, assim como inserções posteriores nas páginas soltas, e não são encontradas consistentemente até o texto datilografado pós-guerra; portanto, foram inseridas em momento posterior, da maneira que Helga melhor pôde se lembrar ou imaginar depois da guerra.Deixamos as datas reconstituídas de Helga como auxílio para os leitores, mas em vez de tentar adicionar mais datas ao longo do texto, o que seria praticamente impossível, procuramos evitar confundir os leitores, uma vez que Helga troca de assunto e de tempos verbais, com dois tipos de quebra dentro do texto. Um intervalo maior com o arabesco indica o início de um novo episódio no diário, a introdução de um novo tema ou preocupação, muitas vezes, mas não necessariamente, precedido de uma passagem de tempo maior, ou pelo menos definida. Um intervalo menor com asterisco (*) indica simplesmente que se passou algum tempo entre os parágrafos, talvez apenas algumas horas, ou então poucos dias, mas o assunto permanece o mesmo e a narrativa é essencialmente contínua. Essas quebras não correspondem a interrupções no original e não devem ser vistas como indicação de que Helga guardou o diário e o retomou mais tarde. De forma semelhante, o diário é aqui apresentado em três partes — a primeira cobre as experiências em Praga, a segunda, a época de Terezín e a terceira, suas experiências posteriores —mas os leitores devem saber que essas divisões não se encontram no texto original.Acompanhei Helga ao mencionar os nomes de lugares em tcheco, a menos que exista uma versão consagrada, como Praga, ou a menos que o nome alemão seja mais familiar. Às vezes, como no caso de Brüx-Most, ela usa ambos os termos, sendo que me ative ao nome tcheco moderno do lugar para não confundir os leitores.O diário de Helga contém algumas palavras em alemão que descrevem lugares e atividades nos campos. Como ela escreveu em tcheco, sua língua materna, preservei muitas dessas inserções para dar um sabor do original. Leitores tchecos de hoje se debateriam com essas palavras de forma idêntica aos leitores do inglês, e de outros idiomas. Alguns poderão achar estranho uma palavra alemã estar misturada com uma terminação inglesa (Krankenträgers, significando "carregadores de macas"). Isso se repete novamente no texto original, onde Helga vai incorporando mais e mais a língua oficial do campo — o alemão — em sua própria linguagem, adaptando-as às exigências de flexão de seu tcheco nativo. Em muitos lugares, porém, forneci uma tradução ou explicação para não atrapalhar demais os leitores. Um breve glossário de palavras alemãs pode ser encontrado no final do texto, contendo muitos dos termos mais frequentes empregados por Helga. (Ela e eu discutimos algumas dessas palavras em maior detalhe na sua entrevista.)*Muitos dos lugares mencionados no livro ainda existem, obviamente, até hoje e podem ser visitados. Terezín, designado pelos alemães como campo de trânsito para judeus a serem deportados para campos de trabalho e extermínio em alguma outra parte do Reich, e mais tarde apresentado à comunidade internacional para alegar que os judeus tinham os direitos humanos respeitados, é um patrimônio nacional tcheco. O Palácio do Comércio (Veletržní palác), uma edificação de 1920 localizada em Holešovice, bairro na parte norte de Praga, é atualmente um centro de exposição pertencente à Galeria Nacional (embora o vizinho Palácio do Rádio, onde ocorria efetivamente a internação dos judeus, tenha sido derrubado; uma placa, desenhada por Helga, marca sua localização). E outros campos onde Helga esteve aprisionada, tais como Auschwitz-Birkenau e Mauthausen, estão igualmente abertos ao público.Helga, aliás, ainda vive no apartamento onde nasceu e onde transcorreram os acontecimentos iniciais de seu diário.
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O diário de HELGA
Non-FictionO relato de uma menina sobre a vida em um campo de concentração.