Não me surpreendi quando encontrei mamãe jogada no sofá em uma posição bastante estranha e dolorosa quando cheguei em casa aquela noite, depois do incrível suicídio social que a festa da Lili me havia proporcionado.
Acomodei sua cabeça na almofada e me arrastei em silêncio até meu quarto onde me deixei cair pesadamente na cama e deixei que as lágrimas fluíssem enquanto a escuridão do quarto ocultava toda a dor e a vergonha e me preparava para o que viria depois.
Tirei o vestido rasgado e apoiei o tecido amassado na cadeira enquanto observava a sombra da lua sobre a jaqueta grande demais pra mim. Ela tinha o cheiro dele e isso me desesperou.
Antes de tudo acontecer, Ethan, Lili e eu éramos inseparáveis. Nossos pais se haviam conhecido na universidade, uma amizade que duraria tempo suficiente para que seus filhos se conhecessem desde o berço. Ethan era um ano mais velho que Lili e eu, e por mais que um ano não faça muita diferença na maioria das vezes, ele sempre foi o lado mais forte da corrente que nos unia. O que quer que estivesse errado, o que quer que nos assustasse, quem quer que tentasse nos machucar... Ethan sempre estaria ali... Ele era nosso escudo, nossa muralha, meu coração.
Agora eu já não significava nada.
No dia em que meu pai foi preso e perdermos tudo, dos dois lados, eu o perdi também. Quando viu seu pai chorar, desesperado por pagar as contas e as despesas da sua família, desintegrando-se pelas dívidas que meu pai havia feito em nome de ambos, corroendo-se pela traição, Ethan me pediu, suplicou que jamais voltasse a dirigir-lhe a palavra outra vez.
Era o mínimo que eu podia fazer depois de tudo...
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Mamãe sorriu, sentada na mesa da cozinha com algumas tostadas e café com leite. Sua maquiagem ainda lhe escorria pelo rosto e sua roupa ainda era tão curta quanto a de uma dançarina de bordel, mas eu não disse nada. Não gostava de especular e sabia que ela jamais me daria qualquer explicação.
Sentei-me a seu lado na mesa e tomei meu café da manhã em silêncio enquanto tentava evadir as perguntas sobre o aniversário da Lili na noite anterior. A única coisa que pude dizer é que tinha tido um final surpreendente, mas guardei os detalhes.
A verdade é que Lili havia expulsado aos gritos a Eleanor e Judy da festa depois do que elas me haviam feito. Eu tentei protestar e argumentar que aquilo só pioraria as coisas pra mim no futuro, mas não adiantou. Lili estava furiosa e era impossível encontrar seu lado racional quando ela ficava nesse estado.
Quanto a Nicole, eu tinha uma boa pista de onde ela estava naquele momento, mas não fomos capazes de encontrá-la.
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Corri até o ponto do ônibus justo quando ele se afastava. Maldição! Encarei o relógio constatando que ainda era cedo e suspirei aliviada. Tinha planejado não me atrasar nem um segundo, eu já não tinha desculpas e esse provavelmente seria meu fim.
Sentei-me no ponto vazio enquanto conferia uma mensagem da Lili no Whatssapp informando que me esperaria no portão principal. Ela tinha jurado, mesmo que eu não tivesse pedido, que me escoltaria durante todo o dia como um pedido de desculpas por me obrigar a ir na festa na noite anterior. Eu não queria que a Lili se envolvesse nisso, jamais me perdoaria se ela saísse mais machucada em toda essa situação.
Senti que alguém se acomodava no banco ao meu lado e me afastei instintivamente enquanto guardava o celular na mochila.
—Ora ora! — A voz dele despertou o alarme que eu tinha passado a levar dentro de mim. Quis ficar de pé, mas ele segurou meu braço. — Hey docinho... — Seus olhos eram de um azul opaco, frio. Seus dedos apertaram um pouquinho mais meu pulso. — Sabe? Eu não estou de acordo com o Ethan... Você parece uma gracinha na minha opinião. O que acha da gente se divertir um pouco?
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Bree (Degustação)
Teen FictionObra concluída e registrada na Dirección Nacional del derecho de autor em Buenos Aires, Argentina. Expediente: 5293877 Todos os direitos reservados (Livro e Capa). Livro a venda no Site da Editora Maresia: http://editoramaresia.com.br/ Ele era um...