Permanecemos em silêncio enquanto o ônibus recorria seu trajeto, enquanto as pessoas subiam e desciam e conversavam e riam e olhavam a paisagem lá fora, alheias a tudo o que se passava dentro de mim. Alheias ao leve tremor que o cheiro da colônia dele me causava, alheias a ansiedade que o roçar sutil do braço dele no meu me provocava... Ethan me paralisava por completo. Ele paralisava minha mente, meu coração, meus medos e mesmo que por alguns minutos, me permiti baixar a guarda e respirar, fechei os olhos sem medo e desfrutei do vento que entrava pela janela e bagunçava meu cabelo. Eu estava segura, mesmo que por alguns minutos como há quatro anos, ele estava ali.
Senti que meu braço se movia e abri os olhos alarmada me preparando para levantar de um salto, mas meus olhos encontraram-se com os dele e minha respiração voltou a estabilizar-se.
Seus dedos envolveram meu pulso enquanto ele deslizava uma toalha de papel sobre os pequenos arranhões que a parede havia feito. As milhões de perguntas que golpeavam minha mente desestabilizaram os batimentos do meu coração, mas eu não seria capaz de fazer nenhuma delas. Estava aterrada demais e tinha medo das respostas.
Senti meu celular vibrar no bolso da mochila e ele me soltou. Demorei um pouco pra sair do torpor que o contato dele havia me causado.
Do outro lado da linha, Lili parecia surtar.
—Bree! Ai meu Deus! Você está bem?
—Sim...
—Ai mina nossa! Você me deu um susto! Achei que não te encontraríamos!
— Do que você está falando Lili? Como sabia...
—Escutei Eleanor e essas megeras que a rodeiam falar algo sobre você não conseguir chegar na escola hoje e digamos que eu tenho meus métodos para conseguir um pouco mais de informação... Ethan está com você?
— Sim...
—Ok. Te espero onde combinamos. E é melhor você correr, você tem apenas seis exatos minutos antes do sinal tocar.
E todas as minhas perguntas tinham sido respondidas em apenas um minuto. Não havia nada no mundo que Ethan não fizesse pela Lili. E ele estava ali por ela. Isso fazia muito mais sentido agora.
Eu apenas tinha colocado os pés no portão da escola quando Lili veio correndo na minha direção.
—Você está bem? —Me examinou superficialmente enquanto me arrastava para os corredores da ESA — Eu te juro, da próxima vez eu não deixarei as coisas assim tão simples Bree... Isso tem que parar!
—Eu to bem Lili. Não foi nada...
—Não foi nada?! — Sua voz tinha saído um pouquinho estridente e alguns alunos nos encararam curiosos. Lili diminuiu o tom até que suas palavras se converteram em um sussurro. — Quero saber exatamente o que elas tinham em mente ok? Ah... — Entramos na sala de aula apenas um segundo antes do sinal tocar. — E hoje você dorme lá em casa. Vou te recompensar pelo fiasco que foi minha festa ontem.
—Lili você saber que eu...
—Sem desculpas Bree. — Seus olhos encontraram os meus. Ela parecia realmente preocupada. — Sou sua melhor amiga! Deixa eu cuidar de você...
***************
Eu não estava segura sobre ir à casa de Lili aquela tarde. Depois de tudo o que havia acontecido eu já não me sentia tão confortável na casa dos Foster. Não que seus pais não tentassem me fazer entender que não me culpavam pelos erros da minha família. Mas eu me sentia uma intrusa, uma farsante. No fim de tudo tinha escutado essas palavras tantas vezes que talvez, mesmo que eu negasse, as tivesse incorporando.
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Bree (Degustação)
Genç KurguObra concluída e registrada na Dirección Nacional del derecho de autor em Buenos Aires, Argentina. Expediente: 5293877 Todos os direitos reservados (Livro e Capa). Livro a venda no Site da Editora Maresia: http://editoramaresia.com.br/ Ele era um...