Parte II

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Como eu conheci a Nina?

Numa abençoada terça-feira de muito sol, na última semana de verão.

Era um dos dias mais quentes do ano em Santa Cruz. Fazia 35º C - com sensação térmica de 560º C - e eu queria desesperadamente algo que aliviasse o calor.

Caminhei por entre a multidão de turistas que lotava a cidade no verão. Tinha a tarde livre do trabalho e aproveitei para ir até o centro comprar um presente de aniversário do meu tio Humbert.

A sorveteria da Sra. Marin surgiu quase que por mágica para a solução do meu calor. Deus!, como eu amava o sorvete de limão com calda de chocolate. Toda vez que o experimentava sentia-me tentado a dar um beijo na boca da Sra. Marin – se ela concordasse, é claro.

Joguei-me no banco em frente ao balcão e sorri para a Libby; ela sabia de cor meu sorvete preferido. Como de costume observei a decoração antiga da sorveteria que me fazia ter a sensação de estar dentro de Grease.

Um par de olhos castanho-esverdeados chamou a minha atenção. Eles pertenciam a uma garota que parecia naturalmente se adaptar a decoração da sorveteria. Usava uma saia rodada, tinha cabelos loiros na altura dos ombros e uma franjinha. Aparentava ter quinze ou dezoito anos. Quinze pela rostinho de garota nova, dezoito pela altura. Ela era bem alta, quase do meu tamanho.

Por acaso eu a conhecia?

Quando fiz uma pergunta (" Ei, eu nunca te vi por aqui. Você é nova?") ela pareceu ser pega de surpresa. Respondeu numa voz agradável e sonora:

- Estou só de passagem. Férias. – e isso foi tudo. Ela não estava aberta a um conversa, mas não pude evitar ficar olhando diretamente para a garota, forçando minha mente se lembrar.

Seu rosto bonito se franziu. Ela estava incomodada com o meu olhar insistente. Parei de encará-la quando Libby voltou com o meu sorvete. Não consegui evitar que meus olhos fossem atraídos para sua saia. Juro que não tinha a intenção de lançar olhares furtivos para as as longas pernas dela, porém notei que ambos os seus joelhos estavam arranhados de um ferimento recente e finalmente a reconheci.

Excitado por ter lembrado gritei que, de fato, a conhecia! A garota tomou um susto tão grande que quase caiu do banco. No entanto eu estava ocupado demais me lembrando da cena – e que cena! – para me desculpar...

Sai do mar em direção à praia sacudindo o cabelo, como o meu cachorro Doug fazia, depois de algumas horas surfando. Não muito longe ouvi uma mulher gritar: Vamos, Nina! Ânimo! Um, dois, três! Acelera esse passo!

Quando a pobre Nina tentou acelerar o passo, algo aconteceu com seu tornozelo. Ele dobrou para a direita e seu tênis afundou na areia. A garota tropeçou e caiu de quatro no chão, afundando o rosto na areia e ralando ambos os joelhos. Foi tão engraçado que nem ao menos consegui ir até lá e oferecer ajuda. Observei a mãe dela prestar socorros à filha e achei melhor não interferir.

Nina não ficou feliz por eu ter lembrando do ocorrido e menos ainda quando tive uma crise de risos na sua frente. Numa primeira olhada você teria a impressão que Nina Fields era uma pessoa calma e centrada. !

Que grande piada.

Nina era... Espirituosa. Tinha um gênio forte e claramente fazia de tudo para controla-lo. Numa rápida observação ficou óbvio para mim que ela gostava sempre ter o controle sobre tudo: suas emoções, suas ações, suas palavras... Acho que por isso não gostou de mim em primeira instância. Eu a tiro do sério, eu a provoco e a faço perder as estribeiras.

É claro que depois de saborear seu descontrole e suas bochechas ficando cada vez mais vermelhas de raiva, nós discutimos. Nina indiretamente me chamou de selvagem sem educação e eu devolvi afirmando que ela não tinha senso de humor.

- Já vai tarde! - berrei quando ela anunciou que iria embora. Nina bufou e revirou os olhos, irritadiça. Despediu-se de Libby, sua amiga, dizendo baixinho:

- Te vejo no parque hoje à noite.

Ela se foi, deixando-me um pouquinho decepcionado. Nina era tão... Contida. E racional. Enquanto eu era todo sentimentos e impulsividade.

Peguei-me desejando não ter comprado uma briga com a loirinha e sim ter sido um cara legal. Por algum motivo desconhecido pela natureza Nina havia despertado meu mais puro interesse. Fiquei curioso para conhecer o que ela escondia por trás de todo aquela capa de proteção.

Dei um sorriso astuto.

- Não, Jonny. - implorou Libby. - Deixe a coitada da garota em paz!

Eu a ignorei, recoloquei meus óculos de sol e disse:

- Te vejo hoje à noite no parque, Libby!

Não havia tempo a perder. Eu tinha um novo plano para por em prática.

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