Parte V

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De início o meu plano não deu certo. Fazer a Nina sentir medo na intenção de superá-lo foi um desastre! Ainda na mesma noite eu a levei na montanha russa. O resultado foi Nina abraçada a um balde vomitando nosso jantar e pedindo para que eu a levasse embora.

No outro dia eu me ofereci para ajudar o Sr. Fields a reformar o telhado se sua casa e ele prontamente aceitou. De propósito comecei a martelar bem alto uma tira de madeira no telhado e não demorou muito para que a porta da casa se abrisse e a voz de Nina – sonolenta e enraivecida – flutuasse até os meus ouvidos:

- Pai! Seja lá o que esteja fazendo aí encima com esse martelo, pare agora mesmo. São... Eu não sei que horas são mas definitivamente é muito cedo para isso!

Eu só sorri. Limpei as mãos de suor e me preparei para descer.

- Pai, está me ouvindo?

Nina tomou um prazeroso susto ao me ver ali. Dei a ela meu melhor sorriso.

Acho que aconteceu por magnetismo, mas assim a mãe dela deixou a varanda, Nina estava tão perto de mim que eu conseguia sentir o seu cheiro. Os braços dela estavam ao redor do meu pescoço e minhas mãos em sua cintura. A minha mente parou de funcionar e meu cérebro virou gelatina. Tudo que eu conseguia pensar é no corpo dela tão maravilhosamente perto do meu.

A nossa bolha é momentaneamente estourada quando percebemos que Becky e Susan estão nos observando. Sabia que deveria ficar e ajudar o Sr. Fields, como tinha prometido, mas esqueci desse pequeno detalhe quando Nina disse:

- Só me tire daqui.

Peguei a sua mão e levei-a embora para dos longe dos olhos curiosos.

🌊 🌊 🌊

Eu sabia exatamente para onde levaria a Nina aquele dia.

Primeiro eu lhe ensinei a surfar. A praia estava particularmente vazia; o sol da manhã queimava nossas peles, mas tudo passava com a água gelada e refrescante do mar. Eu sempre amei o verão, mas aproveitá-lo ao lado de Nina é ainda melhor.

Logo ela pegou o jeito com a prancha e surfava quase tão bem quanto eu. Depois da aula de surf compramos picolé e nos deitamos na areia. O céu azul estava limpo e sem nuvens. No meu celular marcavam 33 ºC.

Nina e eu seguramos nossos picolés com uma das mãos e enrolamos nossos dedos com a outra.

- Que tal ser surfista profissional? – perguntei a ela.

- O quê?

- O seu objetivo de vida! Precisamos encontrar algo que seja sua aspiração para viver.

Nina gemeu.

- Surfar é legal, Jon, porém eu não faria disso a minha profissão.

- Vamos achar algo. – prometi a ela e ganhei seu sorriso agradecido.

⛵️ ⚓️ ⛵️

Depois que nos vemos fartos da praia levei-a para um jogo de paintball onde tive a burrice de apostar contra Nina e sua mira certeira: a cada tiro um no outro, uma peça de roupa.

Adivinha quem perdeu?

Sim, eu.

Nós alugamos um barco à vela – cortesia do pai de Libby – e nos divertimos pela baía de Santa Cruz. Nina se sentou na ponta do barco com os cabelos soltos esvoaçando ao redor de seu rosto enquanto deixava que o sol queimasse sua pele. Ela inspirou e expirou de olhos fechados, desfrutando do momento.

O barco balançava levemente debaixo dos nossos pés.

Sentei-me perto de Nina. Ela encostou-se em mim e eu a abracei por trás. Ficamos os dois em silêncio aproveitando o mar azul ao nosso redor e as gaivotas planando no céu.

- Tem que ser algo que envolva a natureza. – ela definiu subitamente. Estava falando do seu objetivo, seu futuro emprego. – Eu amo estar ao ar livre. É a melhor coisa que existe.

- Já temos um ponto. – comemorei. – O quê mais? Diga algo que você gosta de fazer.

- Ler. – ela pontuou. – Sempre quis aprender uma língua nova. Entrar para o balé...

- Então entre para o balé! Nina – eu a virei para que ficasse de frente para mim. - Prometa-me que quando tiver muita vontade de fazer algo, você vai fazer. Ou pelo menos vai tentar. Mesmo que não consigamos encontrar um objetivo de vida para você, faça do seu objetivo de vida encontrar um objetivo de vida! Sei que vai soar repetitivo e confuso, mas é disso que é feita a vida. Estamos na constante busca de algo. Só perde a graça quando você desiste de procurar.

Ela me encarou estupefata, como se tudo finalmente fizesse sentido. Senti as palavras do meu pai se fazendo valer novamente. Estava me apaixonando por aquela garota, e era... mágico.

- Como passei tanto tempo da minha vida sem conhecer você? - Nina sussurrou.

Segurei seu rosto nas minhas mãos enquanto sorria para ela. E finalmente, quando meus lábios tocaram os seus, não há nada nem ninguém para nos atrapalhar.

É um beijo de verdade, salpicado com gosto de sal do mar e protetor solar que a mãe de Libby nos obrigou a passar.

É perfeito.

Não achava que era possível querer tanto alguém, mas eu a queria. Principalmente depois do beijo, tudo que a minha mente repetia é seu nome: Nina!

O meu pai estava inteiramente certo, Deus tenha sua alma.

Se apaixonar é como andar em um avião pela primeira vez. E a vista lá de cima é... Em uma palavra?

Transformadora.

Depois da experiência você nunca mais será o mesmo.

É um privilégio e gostei ainda mais da Nina por ter sido a pessoa que me acompanhou até aquela subida. Ela me deu uma vista inesquecível. Em troca, quero lhe dar um verão – ou pelo menos o final dele –, tão inesquecível quanto.

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