Parte III

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Não fora difícil convencer Tony – meu melhor amigo -, a me deixar assumir seu lugar na barraquinha de tiro ao alvo. Ele odiava aquele trabalho, de qualquer maneira. 

Ajeitei o boné vermelho e fiquei observando de longe Nina e seus pais no Medidor de Força. Eles se divertiam juntos e pelo que pude entender Nina havia perdido uma aposta com seu pai. A garota se virou para a Roda Gigante e empalideceu. Os olhos de Nina subitamente  avistaram a barraquinha, me fazendo puxar o boné para cobrir o rosto. Ela sorriu e arrastou seus pais até a barraca. 

Não era o plano que eu tinha em mente, mas acabou servindo como uma luva para o meu propósito.

Duas coisas sobre a loirinha: ela era competitiva e muito boa no tiro ao alvo.

- Ei, eu acertei o a alvo! Por que esse maldito pato não caiu?! - ela reclamou comigo segurando a espingarda de pressão, segundos antes de me reconhecer.

Nina não ficou feliz por ter me encontrado ali e aparentou estar menos satisfeita ainda depois que "ganhou" a nossa aposta. Quem ganhou, na verdade, fui eu: um passeio com ela na Roda Gigante.

Mais um detalhe  sobre a Nina: a garota morre de medo de altura.

Ao que me parece, Nina tinha mais medo de ficar sozinha comigo do que enfrentar sua fobia.  Ela se negou a ir comigo na Roda Gigante, mesmo depois de sinceramente pedir desculpas por ter sido um idiota ao rir da sua queda.

Foi aí que algo me atingiu: as palavras do meu pai. Tudo que ele dissera sobre  sentir que a garota valia a pena e insistir nela, provar que era digno de sua atenção, voltaram a minha mente. Era quase um instinto natural: eu queria provar a Nina que era um cara legal, por isso quando ela pegou o ticket e saiu correndo, eu fui atrás dela. Subornando Mike, o responsável por fazer a Roda Gigante funcionar, consegui um passe livre para a cabine onde Nina se encontrava.

Foi a melhor e pior experiência dentro de uma cabine de brinquedo que já tive. O perdão de Nina veio aos poucos e consegui até mesmo fazê-la rir. O caos começou quando a cabine balançou por causa do vento, dando a Nina um ataque de pânico. Precisei de muito esforço para mantê-la sentada enquanto ela berrava.

Coloquei minhas mãos em seu rosto febril.

- Nina! Aqui é completamente seguro. Nós não vamos morrer, está bem? Só respire fundo, assim como eu.

Aos poucos, ela se acalmou. Sua respiração se regularizou e seu seus olhos observaram os meus por muito tempo. A tensão entre nós aumentou. Meu dedão acariciou a pele macia do seu rosto. Queria beijá-la. E muito.

O corpo de Nina se inclinou um pouco para frente, seus lábios rosados se abriram. Eu estava quase desistindo da ideia de ser respeitoso e lhe dar um beijo ali mesmo, mas eu não o fiz. Tinha a certeza de que isso a assustaria.

Nina voltou a si e se afastou de mim, sussurrando:

- Obrigada... Por me ajudar a manter a calma.

Soltei uma risada leve. Ela não fazia ideia do que havia causado em mim.

- Eu é que agradeço, Nina Fields.

Meu coração se encheu de calor quando ganhei seu sorriso. Estava esperando ansioso por ele o dia todo. Eu nem pisquei, para poder guardar aquela memória na cabeça.

Tudo desmoronou quando a Roda Gigante parou e a expressão de Nina se encheu de terror. 

Mais uma coisa sobre a loirinha que de alguma forma ganhou meu coração tão rápido: Ela temia relacionamentos. Temia sentimentos que estavam além da sua compreensão. Enquanto eu saboreava o sentimento de estar me apaixonando, Nina os desprezava.

- Nina! Para onde está indo? – perguntei quando ela saiu da cabine e correu em disparada pela multidão de pessoas. Nina foi embora e não olhou para trás.

Balancei a cabeça. Ela não poderia fugir disso para sempre.

E até que ela estivesse pronta, eu estaria esperando. 

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