Elizabeth permaneceu encerrada nos aposentos de Jane durante todo o sábado, apesar das súplicas por parte das irmãs Bingley para que ela se juntasse aos outros para o jantar e na sala de estar, mais tarde. Até mesmo Jane insistiu com ela que fosse tomar um pouco de ar fresco, mas Elizabeth estava decidida a evitar a possibilidade de um encontro com o sr. Darcy. Conseqüentemente, ela se deitou cedo, assim que Jane se arrumou para dormir, mas teve um sono agitado. Acordou repentinamente na manhã seguinte, após um pesadelo no qual se viu presa em um cômodo pequeno e sem janelas ou portas e que, a cada vez que ela tentava sair, ficava ainda menor. Assim que se recompôs, concluiu que o sonho era provavelmente efeito de ter permanecido enclausurada o dia todo. Ela não queria voltar a dormir temendo aquele o sonho horrível continuasse, e sabia que precisava sair. Pensou, então, em fazer uma caminhada matutina, perguntando-se que horas seriam. Seu quarto ainda estava escuro, e quando ela abriu as cortinas pôde perceber apenas um pálido vislumbre de luz solar. Ficou animada com a idéia de ver o nascer do sol e pensou que estaria livre de encontrar quem quer que fosse a uma hora dessas. Enquanto ela se aprontava para sair, a lembrança de que retornaria para casa naquele dia melhorou ainda mais seu humor.
Quando Elizabeth finalmente saiu, sentiu-se estimulada pelo ar fresco da manhã. Pôs-se a caminho dos jardins ao leste onde começou a vaguear enquanto as últimas estrelas desapareciam uma a uma. Após fazer o circuito do jardim e virar na última curva de volta em direção ao caminho da mansão, ela viu uma figura vindo de encontro a ela que, sem que ela soubesse, sorria consigo mesmo enquanto as lembranças de seu mais recente e agradável sonho ainda ocupavam sua mente. Em questão de segundos Elizabeth já se encontrava a poucos passos do sr. Darcy. Ela ficou sem ar ao vê-lo, e sensivelmente ruborizada, mas logo se recuperou o suficiente para dizer suavemente um "bom dia, sr. Darcy," acompanhado de uma educada reverência, enquanto imaginava se poderia escapar à sua companhia.
Ele se surpreendeu ao vê-la e disse, ainda sorrindo, "Bom dia, srta. Bennet, como se sente nesta bela manhã?"
"Muito bem, obrigada," ela respondeu, ainda aflita com a sua presença.
"E sua irmã, como está se sentindo hoje?" ele perguntou, encarando-a.
"Ainda não a vi esta manhã. Ela estava dormindo quando saí, mas ontem ela já se sentia muito melhor e hoje deveremos voltar para casa." O olhar firme dele a deixou bem desconfortável e ela desviou os olhos enquanto falava.
"Sim, fiquei sabendo ontem que vocês estariam nos deixando esta manhã. Fico contente em saber da melhora de sua irmã." Ele ainda sustentava o olhar, com um leve sorriso.
"Obrigada."
Esta conversa foi seguida de uma pausa embaraçosa, durante a qual Elizabeth se moveu em direção a um banco a poucos passos dali e o sr. Darcy a seguiu, sentando-se a seu lado. Ela se sentia aliviada por não estarem se encarando agora, mas a proximidade dele aumentou seu desconforto mesmo assim, e tudo o que ela pôde pensar foi em querer se afastar dele. No entanto, ela se manteve onde estava e ambos permaneceram sentados, apreciando os tons rosados e alaranjados da luz da manhã acariciando o horizonte. O silêncio foi quebrado pelo sr. Darcy, "O que a trouxe tão cedo ao jardim, srta. Bennet? Ou a srta. normalmente se levanta e caminha a esta hora?"
"Não, não tão cedo. Tive um sonho ruim e não consegui dormir novamente. Achei que um pouco de ar fresco me ajudaria a desanuviar."
"Sinto muito que tenha tido um sonho ruim. O ar fresco surtiu o efeito esperado?"
"Sim, obrigada," ela já se sentia suficientemente recomposta para manter uma conversa educada, então continuou, "E o senhor, o que o fez sair tão cedo? Espero que não tenha tido um pesadelo também."
"Não, felizmente, eu raramente tenho pesadelos," ele disse, sorrindo para si mesmo, e prosseguiu com um olhar de soslaio na direção dela, "eles são, na realidade, bem agradáveis."
Ela lhe lançou uma olhadela, mas os olhos dele já estavam fixos no horizonte. Ela disse, então, "Que sorte a sua. Não entendo como quis abandonar sonhos tão agradáveis para sair tão cedo. Agora estou curiosa para saber a resposta à minha pergunta que, a princípio, foi feita apenas por educação. Porém, como o senhor não a respondeu diretamente, talvez prefira guardar para si mesmo suas razões para ter saído tão cedo."
Ele sorriu com o discurso dela e disse, "Confesso que não costumo sair tão cedo, mas minha razão é simples e de forma alguma misteriosa. Eu simplesmente gosto de observar o nascer do sol e, toda vez que acordo cedo o suficiente, aproveito a oportunidade para fazê-lo."
Ambos se mantiveram em silêncio enquanto o sol emergiu no horizonte quase subitamente. Elizabeth suspirou e murmurou, "Que lindo," e voltando-se para seu acompanhante, perguntou, "Gostou?"
O sr. Darcy a fitou por um momento e observou a brisa da manhã agitar de leve alguns fios soltos dos cabelos dela e os afastou de seu rosto, dizendo, "adorável," e voltou o olhar para o horizonte novamente, sem ver o tom rosado colorindo o rosto dela.
"Bem, acho que devo voltar para casa para ver como a Jane está, ela deverá acordar logo e precisamos nos preparar para partir," ela disse já se levantando e se movendo na direção da casa.
Sem uma palavra, ele se levantou e a acompanhou. Ao se aproximarem da mansão, ele disse, "Percebe que esta foi a primeira vez que conversamos sem discutir?"
"Creio que sim," ela respondeu, acrescentando de maneira jocosa, "teremos que corrigir isso na próxima vez que conversarmos."
"Não vejo a hora."
"Gosta de discutir? Imagino que a maioria das pessoas ache desagradável."
"Gosto do desafio, creio eu. Acho uma agradável alternativa para as conversas mais triviais que se costuma ter."
"Isso está de acordo com a opinião que faço do senhor, pois nunca achei que se interessasse por questões triviais."
"Deveras? E que outras opiniões têm a meu respeito?" perguntou o sr. Darcy, aproveitando a oportunidade para tentar descobrir o que ele desejava desesperadamente saber.
"É melhor que eu não responda, pois temo que se o fizer eu acabe negando a observação que o senhor acabou de fazer sobre o nosso encontro esta manhã, e por fim acabaremos discutindo," ela disse rindo.
Ele ficou um pouco desapontado, e disse, "Suas opiniões a meu respeito não podem ser boas se acredita que possam incitar uma discussão entre nós."
Ora, sr. Darcy, nunca me pareceu que desse importância à opinião dos outros. Não é possível que uma pessoa como o senhor se importe com o que uma pessoa como eu pensa a seu respeito."
"Srta. Bennet, eu não desejo que pensem mal de mim."
"Mas se alguém pensasse, não teria muita importância para o senhor, teria?"
"Depende da pessoa que tiver tal opinião."
"Exatamente. Depende da importância que a pessoa tem para o senhor. Se a pessoa for meramente um membro de uma comunidade pequena e insignificante no campo sem qualquer status ou influência, a opinião de tal pessoa não significará nada para o senhor. De fato, se o senhor entra em contato com pessoas que considere sem importância ou inferior, o senhor não faz nada para lhe inspirar uma boa opinião. Já que não se importa com o que pensam do senhor, não precisa se mostrar agradável. Ao contrário, pode se dar ao luxo de ficar calado e indiferente, de evitar conversas banais que acha tão desagradáveis, e de decidir falar somente quando o que tem a dizer cause espanto a todos e passe à posteridade com todo o respeito de um provérbio." Nesse ponto eles já haviam atingido o hall de entrada e, sem lhe dar qualquer oportunidade de resposta, ela disse, "Me desculpe, tenho que ir ver minha irmã," saindo em seguida.
O sr. Darcy foi deixado com muito em que pensar, pois percebeu que, afinal, ela lhe havia revelado sua opinião sobre ele.
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Confissões a uma Bela Adormecida
RomanceDurante sua estada em Netherfield, cuidando de sua irmã, Elizabeth vai à biblioteca procurar um livro, se sente sonolenta, e se recosta momentaneamente. Antes que ela caia em sono profundo ou desperte e se levante, o Sr. Darcy entra e declara seu am...