Ali estava a srta. Bingley, carregando uma manta (e curiosamente uma vassoura!), e a sra. Hurst e a srta. Darcy, cada uma carregando um cesta de piquenique. A srta. Bingley havia organizado um piquenique para Georgiana e o condutor da carruagem lhes havia indicado aquele caminho a partir da estrada, por onde chegariam a uma adorável clareira perto de um riacho que seria ideal para o piquenique. Por acaso era a mesma clareira onde o sr. Darcy estava a ponto de propor casamento a Elizabeth.
A decepção do sr. Darcy pela inconveniente interrupção era óbvia e, não fosse pelo fato de Georgiana estar entre as intrusas, ele teria se sentido inclinado a jogar as outras duas dentro do rio. Sem esperar que os enamorados respondessem à pergunta da srta. Bingley, a srta. Darcy sugeriu imediatamente que encontrassem um outro lugar para fazerem o piquenique. Mas Elizabeth insistiu que ficassem, dizendo, enquanto se levantava, que ela as deixaria. Ela queria que o sr. Darcy fosse com ela, mas não queria se pronunciar por ele. Ao ver que ele se levantava, seguindo o exemplo de Elizabeth, a srta. Bingley disse, “Ah não, de maneira alguma queremos espantá-los,” ela já estendera a manta no chão, “vocês têm que ficar, há refrescos suficientes para todos nós.”
O sr. Darcy olhou para Georgiana e depois para Elizabeth, que podia ver que Georgiana, mesmo querendo que os dois ficassem a sós, esperava, para o seu próprio bem, que eles ficassem e a salvassem de ficar sozinha com as atuais companheiras. De qualquer forma, Elizabeth achou que seria indelicado sair naquele momento e assim, com pena da menina, aceitou o convite. A srta. Bingley ficou irritada ao ver que o sr. Darcy só decidira ficar depois que Elizabeth o fizera.
Enquanto todos partilhavam das guloseimas e refrescos, Elizabeth travou conversa com Georgiana. A srta. Bingley imediatamente atraiu a atenção do sr. Darcy para si. Pela primeira vez ele foi condescendente, na esperança de evitar que ela interrompesse Elizabeth e Georgiana. Qualquer oportunidade de aprofundar a amizade entre elas lhe era muito satisfatória.
Não havia passado despercebido à srta. Bingley que o sr. Darcy vinha visitando Longbourn com regularidade ao lado de seu irmão, mas ela não havia considerado a possibilidade de que ele tivesse outros motivos além de acompanhar Bingley e ajudá-lo a suportar os arroubos da sra. Bennet. A srta. Bingley e os Hursts haviam estado na companhia dos Bennets desde o noivado de Jane e Charles, pois não podiam evitar algumas visitas, mas, como não apreciassem tal companhia, preferiam permitir que Charles se regalasse com seus próprios erros. Assim, tais visitas haviam sido raras e curtas. O grupo se demorou no local mesmo depois que todos haviam se deliciado com suas quotas das abundantes cestas, pois a srta. Bingley não tinha intenção de deixar o sr. Darcy e Elizabeth a sós novamente.
Georgiana passou o tempo contando a Elizabeth sobre todos os lugares onde estivera no dia anterior e como se sentia bem no campo.
Nesse momento, a srta. Bingley, na intenção de agradar o sr. Darcy, disse, “É verdade, Hertfordshire tem uma paisagem muito agradável, mas, realmente, Georgiana, esta região empalidece se comparada à de sua residência em Derbyshire. De fato, eu não acredito que qualquer propriedade tenha maior beleza natural que Pemberley.” Pois sim, a srta. Bingley tinha pouco apreço por “beleza natural” e sempre achara a paisagem ao redor de Pemberley um tanto selvagem para o seu gosto. Vinha inclusive desenvolvendo planos de melhorias nesse aspecto de Pemberley quando se estabelecesse como senhora do local. Contudo, já ouvira outros cumprimentando a “beleza natural” da propriedade e, sendo uma observadora perspicaz, pelo menos no que dizia respeito ao sr. Darcy, notara a satisfação com que ele reagia à frase, e por isso resolveu usá-la.
“Sim, srta. Bingley, respondeu Georgiana, “mas Pemberley é minha casa. Eu quis dizer que é muito agradável ver algo novo e diferente.”
“Concordo plenamente com você, Georgiana,” o irmão veio em seu auxílio, “aprendi a apreciar a paisagem em Hertfordshire, especialmente a desta clareira. É muito agradável e serena, não concorda, srta. Bennet?”
Elizabeth pareceu surpresa e respondeu, “Sim, sr. Darcy, eu também gosto muito desta clareira, e embora tenho morado sempre em Hertfordshire, confesso que meu apreço por este local em particular é bem recente,” ela virou a cabeça na direção do riacho para esconder o sorriso e, então, prosseguiu, “mas estou em desvantagem nesta conversa pois não posso fazer qualquer comparação, já que nunca estive em Derbyshire.”
“Ah, tenho certeza de que você vai adorar!” disse Georgiana, ruborizando em seguida com a implicação de suas palavras, e olhando para o irmão com uma expressão de culpa, mas logo relaxou ao perceber nele um sorriso quase imperceptível.
“Realmente, srta. Bennet, é uma pena que sua experiência de vida tenha sido tão limitada e invariável. Se lhe fosse possível viajar pelo reino, poderia ver que há muitos lugares agradáveis fora de Hertfordshire que são simplesmente deslumbrantes.”
“Por favor, não se compadeça de mim quanto a isso, srta. Bingley,” riu Elizabeth, “pois como ocorre com as pessoas, a paisagem no campo se altera tanto que há sempre algo novo para ser observado. Além disso, há algumas vistas tão espetaculares que não consigo me cansar delas.”
O sr. Darcy fitava Elizabeth no momento em que ela disse esta última sentença e se sentiu inspirado a acrescentar, “Concordo inteiramente, srta. Bennet.”
A sra. Hurst, que havia se mantido calada durante toda esta discussão, resolveu interferir, “Bem, eu definitivamente prefiro Londres a qualquer parte do campo, seja Hertfordshire ou Derbyshire. Todo esse espaço aberto me faz sentir isolada. Tenho total preferência pelo convívio do mais alto nível que a cidade nos proporciona.”
Assim, a conversa se voltou para Londres e foi mantida principalmente pela sra. Hurst e pela srta. Bingley com comentários ocasionais de Georgiana. O sr. Darcy apenas falava quando sua opinião era requisitada em alguma questão. Elizabeth mal se pronunciou sobre o assunto.
Por fim, Elizabeth anunciou que deveria voltar para casa e começou a se levantar. O sr. Darcy fez o mesmo para acompanhá-la, quando a srta. Bingley disse, “Sr. Darcy, o senhor também vai embora? A nossa carruagem está tão perto, certamente seria conveniente que o senhor retornasse a Netherfield conosco.”
O sr. Darcy sentiu a descortesia daquele comentário e disse, “Creio que a sta. Bennet apreciaria que eu a acompanhasse até sua casa, e meu cavalo está aqui.” Com isso, ambos se despediram das três e começaram a caminhar na direção de Longbourn.
Depois de andarem por alguns minutos em silêncio, e quando já estavam a sós, o sr. Darcy voltou o olhar na direção dela e disse, “Elizabeth.” Ela ficou rígida ao ouvi-lo chamá-la daquela forma e, sem perceber, parou de caminhar. Ele também parou e se pôs de frente para ela.
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Confissões a uma Bela Adormecida
Roman d'amourDurante sua estada em Netherfield, cuidando de sua irmã, Elizabeth vai à biblioteca procurar um livro, se sente sonolenta, e se recosta momentaneamente. Antes que ela caia em sono profundo ou desperte e se levante, o Sr. Darcy entra e declara seu am...