No dia seguinte ao casamento de Charlotte, Elizabeth acordou cedo, ansiosa para ver seu amado. Desceu, dirigindo-se à porta da frente para fazer sua habitual caminhada matinal, lembrando-se da conversa que tivera com ele no dia anterior e ressentindo-se pela inconveniente interrupção de Lydia (muito embora, em defesa de Lydia, ela só os houvesse interrompido a pedido de seu pai). Naturalmente, isso a lembrou da indiscrição de Lydia ao dizer que Elizabeth gostava do sr. Wickham. “É uma pena que não se possa simplesmente trancá-la em algum lugar,” Disse Elizabeth, rindo consigo mesma ao passar pelo quartinho de despejo.
Durante a caminhada, Elizabeth perguntou-se no que o encontro com o sr. Darcy resultaria hoje. Ela desejava ardentemente que eles pudessem chegar a um entendimento em breve. Começou a se recordar dos vários encontros desde o primeiro, quando se conheceram na reunião de Meryton, até seu recente pedido de desculpas na igreja, no dia anterior. Que diferença entre as maneiras dele agora e de quando chegara na vizinhança pela primeira vez. Considerou com satisfação sobre o quanto ele havia melhorado depois da reprovação dela na manhã em que assistiram ao nascer do sol em Netherfield. Desde então ele se mostrava mais agradável e mais acessível aos outros e a ela própria. Lembrou-se, então, de sua terna confissão de amor. Repetiu mentalmente toda a romântica declaração que ele fizera de modo tão doce e encantador na biblioteca de Netherfield e o imaginou lhe dizendo as mesmas coisas com a intenção de que ela ouvisse. Antecipou com prazer a alegria dele ao ouvir sua resposta positiva. Com tais pensamentos em mente, retornou do passeio; pouco depois o sr. Bingley chegou sozinho, sem o sr. Darcy. A decepção de Elizabeth foi enorme, e não foi aliviada pelo pedido de desculpas de que Bingley fora encarregado pelo amigo de transmitir a ela em particular.
Para sua maior surpresa, o sr. Wickham chegou a Longbourn com alguns outros oficiais. Ela não o vira com muita freqüência nos últimos tempos e, embora soubesse que Lydia e Kitty o viam sempre, não percebeu nenhuma afeição especial por ele da parte de nenhuma das duas, o que a deixou despreocupada. Enquanto a sra. Bennet e as filhas mais novas saíam para o jardim com os visitantes, Elizabeth se sentou em um banco no canto do jardim na companhia da tia, esperando que o sr. Wickham não as interrompesse. Ela tentara deixar bem claro, nas últimas poucas vezes que o encontrara, que não desejava aprofundar a amizade com ele.
Entretanto, a atenção que o sr. Darcy dispensava a Elizabeth não havia passado despercebida ao sr. Wickham, e a idéia de seduzi-la lhe era bem agradável. Com isso em mente, aproximou-se de Elizabeth e de sua tia para cumprimentá-las de maneira encantadora. A princípio, Elizabeth sentiu repulsa e só queria que ele as deixasse em paz. Mas lhe ocorreu que talvez o sr. Darcy pensasse duas vezes antes de faltar a uma visita, e pudesse até fazer o pedido mais cedo se soubesse que ela havia passado o dia na companhia de outro cavalheiro, sem contar que este era seu pior inimigo. Sentia que, estando ciente do verdadeiro caráter daquele homem, ela estava suficientemente prevenida contra ele e, portanto, não corria nenhum perigo ao lhe dar um pouco de atenção. Concluiu que, ao conversar com ele, também estaria prestando um favor às irmãs mais novas, mantendo-o longe delas, já que, por serem menos sensatas e menos informadas, não estariam tão prevenidas quanto ela. Deste modo, Elizabeth aceitou as atenções de Wickham com uma educação que não lhe mostrava desde a primeira semana em que se conheceram. A sra. Gardiner se surpreendeu com a reação de Elizabeth, mas o cavalheiro se sentiu encorajado. Pouco depois de os três terem iniciado a conversa, uma criada saiu do interior da casa para chamar a sra. Gardiner em nome do seu marido. Com relutância, ela deixou os dois no banco a conversar, sentindo que nada de mal poderia acontecer desde que eles estivessem no jardim com os outros.
Elizabeth sugeriu que o cavalheiro a acompanhasse num passeio pelos jardins e ele prontamente se levantou, oferecendo-lhe o braço. Ela o aceitou, agraciando seu indigno acompanhante com um belo sorriso. Caminharam assim, entretidos com a conversa, por mais de um quarto de hora. Elizabeth ria em cada oportunidade, dando uma convincente impressão de estar se divertindo. Percebeu que, embora as maneiras do sr. Wickham fossem agradáveis e envolventes, pareciam estudadas e insinceras. Ele tentou conquistar-lhe a simpatia usando os supostos maus tratos por parte do sr. Darcy. Embora as específicas acusações feitas pelo sr. Wickham contra o sr. Darcy não houvessem sido desmentidas ainda, ela sentia que tinha informações suficientes sobre cada uma para saber que a história estava mal contada. Intuindo o fracasso quanto a esse assunto, o sr. Wickham mudou o tópico para a srta. Darcy, que ele sabia estar na região. Perguntou a Elizabeth se gostara dela. Ela redargüiu afirmativamente. O sr. Wickham parecia desapontado e, sem querer manter o assunto em torno dos Darcys, começou a discorrer sobre as irmãs de Elizabeth, Lydia e Kitty. Ele as encontrara várias vezes na cidade quando de suas visitas à tia, sra. Phillips, e as achara muito amáveis e simpáticas. O assunto pareceu chamar a atenção dela e, considerando tal interesse como um sinal de ciúmes, ele prosseguiu, sugerindo que, das cinco adoráveis irmãs Bennet, era ela quem ele mais admirava. Nesse momento, Elizabeth sentiu que já agüentara demais aquele homem e que já conseguira ser notada pelo sr. Bingley, que contaria ao sr. Darcy sobre esta breve ocorrência. Assim, não se sentiu nem um pouco desapontada quando a sra. Gardiner chegou de volta, interrompendo o momento de privacidade.
O sr. Bingley e os oficiais ficaram para o jantar, mas como Elizabeth não se sentia com humor para agüentar as contínuas investidas do sr. Wickham, desculpou-se e retirou-se para o quarto, reclamando de dor de cabeça, antes que os homens se reunissem às mulheres após a refeição. Pensou consigo mesma que havia se comportado como uma criança em resposta à ausência do sr. Darcy. Eles nem mesmo estavam comprometidos e ele enviara suas desculpas; mesmo assim ela o culpava por não estar lá. Esperava que ele não tivesse nada melhor a fazer do que passar todos os dias na companhia dela. Mas não havia sido ele mesmo quem criara o hábito de visitá-la diariamente e, portando, fizera com que ela criasse expectativas? Começou a se sentir boba pela maneira como agira com o sr. Wickham; e esperava agora que o sr. Bingley não contasse nada ao amigo. Na verdade, o sr. Darcy poderia se aborrecer, e a inconseqüência dela poderia fazê-lo duvidar de seus sentimentos por ela. Agora era ela quem estava aborrecida com essa perspectiva, pois se ele fosse tão volúvel a ponto de mudar tão facilmente sua opinião sobre ela, ele não a merecia. Com esses pensamentos, toda a decepção e a raiva por ele não ter vindo visitá-la voltaram com intensidade. Desta forma, ela resolveu que no dia seguinte não estaria lá se ele aparecesse, embora ela sentisse que ainda estava sendo boba e infantil. Outro motivo para a ausência dela no dia seguinte, secundário ao desejo de vingança, era ter percebido que não queria sofrer a mesma decepção daquele dia caso ele não aparecesse novamente.
Ao chegar em Netherfield após a agradável noite em Longbourn, o sr. Bingley procurou pelo amigo, pois sabia que ele ainda não estaria na cama. Sabia que Darcy desprezava Wickham e, embora ele não conhecesse os pormenores do relacionamento dos dois, não tinha dúvida de que os sentimentos de Darcy eram plenamente justificáveis. Também estava ciente, pois se tornara muito evidente, de que Darcy admirava a srta. Elizabeth Bennet. De fato, a sra. Bennet estava em tamanho êxtase por testemunhar as atenções do sr. Darcy por Elizabeth que se esquecera que ela nunca mais deveria ver a filha novamente depois que esta rejeitara o sr. Collins (naturalmente, até que a visita de Lady Catherine a fizesse se recordar disso por um momento). O sr. Bingley encontrou o amigo na biblioteca, sentado no sofá próximo à janela do outro lado do cômodo. Já havia notado a preferência de Darcy por esse sofá nas últimas semanas. Circundou o móvel para encarar o amigo e, vendo seus olhos fechados, disse, “Darcy, você está acordado?”
“Sim,” disse Darcy, relutante, abrindo os olhos e emergindo de um belo devaneio sobre Elizabeth.
“Ótimo, quero falar com você. Você perdeu um dia e tanto em Longbourn,” disse bingley com um sorriso, ainda em pé diante do amigo.
“Perdi? Posso ver que você se divertiu.”
“Eu sempre me divirto quando estou com a minha querida Jane e, por mais que eu goste de discorrer sobre as muitas qualidades dela, estou aqui para falar sobre a mulher que conquistou o seu coração.”
“Como, Bingley?” redargüiu Darcy um pouco aborrecido. Ao contrário de Bingley, ele não gostava de falar sobre seus sentimentos.
“Não fique preocupado com a idéia de que a srta. Elizabeth tenha sofrido por sua causa hoje, pois ela parecia mal ter notado sua ausência, distraída que estava com o chame do sr. Wickham.”
Darcy olhou sobressaltado para o amigo. Agora, tendo conseguido a atenção de Darcy, Bingley se sentou numa poltrona em frente a ele e continuou, “na verdade ela passou mais de um quarto de hora conversando a sós com ele, caminhando pelos jardins de braços dados. Ela pareceu gostar da companhia e estava bem alegre enquanto andavam juntos.” A perturbação de Darcy era visível, e não foi nem um pouco abrandada pela revelação seguinte de Bingley, “mas parece que foi uma dose suficiente da companhia dele, pois ela se retirou com dor de cabeça imediatamente após o jantar.”
Darcy começou a questionar o próprio julgamento por ter trazido Georgiana a Hertfordshire e por tê-la levado a Longbourn mesmo por uma única vez. Sentiu-se mal só de pensar que Wickham poderia ter aparecido enquanto ela estava lá. Agora Wickham dispensava uma atenção especial a Elizabeth. Tinha que ser impedido. Ele devia pedir a mão dela no dia seguinte e contar-lhe tudo sobre Wickham.
“Você não tem nada a dizer, Darcy?” Bingley interrompeu seu devaneio.
“Obrigado pela informação, Bingley. Amanhã lhe farei companhia.” Isto foi o suficiente para provocar um sorriso de satisfação no rosto de Bingley. Querendo retomar os pensamentos aos quais estava entregue antes da interrupção de Bingley, Darcy desculpou-se, despedindo-se, e se retirou.
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Confissões a uma Bela Adormecida
Roman d'amourDurante sua estada em Netherfield, cuidando de sua irmã, Elizabeth vai à biblioteca procurar um livro, se sente sonolenta, e se recosta momentaneamente. Antes que ela caia em sono profundo ou desperte e se levante, o Sr. Darcy entra e declara seu am...