Capítulo 2

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A voz confirmou o que ela já sabia, era o sr. Darcy, e que impertinência a dele em usar seu nome de batismo! O cavalheiro esqueceu-se completamente do livro ao sentir-se totalmente dominado pela imagem que via. Ali estava ela, dormindo tranqüilamente, com a respiração regular, seu peito subindo e descendo a cada entrada de ar. Ela era a imagem da serenidade, cercada pelo brilho da luz do sol. Arrebatadora. Imediatamente ele visualizou esse mesmo adormecer em sua própria cama em Pemberley, com a cabeça dela repousando em seu peito, porém em sua visão, que não lhe era desconhecida, o cabelo dela estava solto, caindo em cascata por sobre os ombros, e o vestido azul, que no momento tinha o privilégio de adornar sua forma adorável, não era visto em lugar algum. Ele afastou o pensamento, recobrando-se da visão à sua frente. Suavemente ele disse, “Srta.Bennet.” Ela não se moveu, ainda esperando que ele se fosse. Ele repetiu o nome dela por duas ou três vezes aumentando o volume da voz a cada repetição. Ela continuava imóvel, mas ligeiramente divertida com o ridículo da situação. Sua imobilidade o convenceu de que ela estava adormecida e ele disse baixinho, “Não, não vou acordá-la.”

Ao ouvir as palavras do sr. Darcy, Elizabeth teve certeza de que ele se retiraria da sala. Ao invés disso, e para sua surpresa e curiosidade, ela o ouviu puxar uma cadeira para perto dela no sofá. Ela permaneceu deitada, imóvel, mantendo a compostura, perguntando-se o que ele pretendia. Por fim ele começou a falar, suave, gentil, e muito próximo. Ela podia sentir que ele se inclinara para frente. “Querida, adorável Elizabeth, como você é bonita.” Elizabeth mal pôde se conter para não reagir àquelas palavras. Ele disse que ela era bonita? Ela, que não era bela o suficiente para tentá-lo a dançar? Não, não podia ser. Ele continuou, “Como pude sequer sugerir o contrário?”. Nesse ponto ela estava certa de tê-lo escutado emitir um pequeno riso abafado de arrependimento, “Que tolo eu fui. Me pergunto se você escutou. Se apenas eu pudesse fazê-la entender que meu comentário teve mais a ver com a minha falta de vontade de dançar do que com alguma coisa pessoal em relação a você. Mas acredito que isso não justifique. Eu deveria ter dançado com você. Gostaria de tê-lo feito.”
Elizabeth estava realmente presa agora, de uma forma que não poderia ter previsto. Não podia fazer nada além de ouvir.

De repente, o sr. Darcy foi tomado pela emoção ao prosseguir, “Que idiota eu fui ao pensar que pudesse reprimir meus sentimentos por você, e que tolo fui por sequer querer fazê-lo,” ele pronunciava as palavras ao mesmo tempo em que ele próprio percebia seu significado pela primeira vez. Elizabeth estava tão espantada que ele tivesse esse tipo de sentimentos por ela, que não teve idéia de questionar, nesse momento, as razões pelas quais ele tentava reprimi-los. “Mas eu não quero mais reprimi-los. Quero me entregar a eles, a você.” Elizabeth estava estupefata, mas manteve-se imóvel (um ato estarrecedor em si!). Seu admirador prosseguiu com suas declarações, “Se você soubesse o que me fez. Nunca antes imaginei que fosse possível me sentir assim.” Outra pequena pausa e então, “Deus, como a amo.” Elizabeth mal pôde se conter diante de tal declaração, e se perguntou se esse interlúdio era adequado para qualquer um dos dois. O próprio interlocutor não estava menos surpreso com suas próprias palavras. Ele havia resistido em identificar seus sentimentos como sendo amor e agora se conscientizava disso muito antes do que o teria feito não fosse pelas circunstâncias.

Após alguns momentos necessários para se acostumar com a repentina descoberta da intensidade de seu interesse, o que deu também a Elizabeth tempo para organizar seus pensamentos de modo a manter o equilíbrio, o cavalheiro continuou, “Mas e quanto a você, minha doce Elizabeth?” ele disse enquanto afastava uma teimosa mecha de cabelo do rosto dela. Ela estremeceu com a sensação do toque da mão dele quase roçando a lateral do seu rosto e... ele dissera que ela era dele? Tendo ajeitado a mecha, ele prosseguiu, “Você... será que você pode... me amar algum dia?” Imediatamente Elizabeth pensou, “não, não posso.” Apesar da maneira delicada com que ele se expunha agora, não se poderia esperar que uma aversão tão forte como a de Elizabeth por ele pudesse desaparecer com algumas palavras doces. Após um breve pausa, ele continuou, “Você me deixa confuso. Às vezes você é tão animada e divertida que me faz acreditar estar flertando comigo,” Elizabeth ficou indignada com uma interpretação tão presunçosa de seu jeito impertinente. Como ele podia crer que ela se comportaria de maneira tão imprópria? Como podia acreditar nisso e ainda amá-la? Ele continuou, “mas por vezes penso detectar desprezo em sua doce e melódica voz e na expressão de seus belos olhos, e não posso suportar. Suponho que eu deva merecer seu desdém depois de tê-la ofendido daquela maneira. Creio que você ouviu meus insultos. Essa deve ter sido a razão pela qual recusou-se a dançar comigo em Lucas Lodge,” e ele riu sutilmente ao dizer, “doce vingança.” Elizabeth estava surpresa que ele fosse capaz de rir, que ele de fato possuísse algum senso de humor!

O sr. Darcy permaneceu quieto por um momento como se estivesse se recordando dos acontecimentos daquela noite, e então prosseguiu, “Sabe que eu sonho com você todas as noites, meu amor?” Elizabeth estava completamente chocada, não conseguia decidir o que a escandalizava mais, o fato de que ele sonhava com ela ou a impropriedade da situação. “E penso constantemente em você, todos os dias. Como anseio ver seus vivos olhos pousando sobre mim um olhar amoroso, ver seu sorriso e saber que é somente para mim.” Elizabeth começou a sentir pena do homem pois sabia que tais desejos nunca seriam satisfeitos. Ele prosseguiu, “Me pergunto se você já conseguiu me decifrar. Às vezes penso que tenho sido muito óbvio em minha admiração, olhando-a fixamente cada vez que estamos na companhia um do outro.” Desta vez Elizabeth estava surpresa com sua própria má interpretação do comportamento dele. Ele continuou, “Tenho tentado me controlar para não demonstrar meus sentimentos, mas não estou certo de meu sucesso. Tenho certeza de que alguns notaram minhas atenções para com você, mas e você? Com freqüência tento adivinhar o que passa por sua cabeça quando me vê, o que você vê? O que pensa de mim? De minha parte, eu a adoro, e em breve terei a coragem de lhe dizer... quando você estiver acordada,” ele acrescentou rindo baixinho. “Então lhe direi o quão ardentemente a admiro e a amo. E pedirei que seja minha esposa, rezando para que você me aceite. Realmente, eu não suportaria que fosse diferente, porque meu coração é e será sempre seu.” Elizabeth ficou compreensivelmente ainda mais abalada com essas últimas palavras, mas esforçou-se para manter a imobilidade. Após um momento de silêncio, parecia que ele havia expurgado seu coração de tudo o que queria dizer. Somente agora ela percebia que havia gostado de ouvir seus elogios e não sabia bem se gostaria que acabassem, embora a partida dele fosse aliviá-la da incômoda situação.

Ao terminar de falar, o sr. Darcy tocou-lhe levemente a mão que caía por sobre a beira do sofá. Ela se espantou com o calor excitante que se espalhou por todo o seu corpo, talvez fosse apenas efeito dos raios de sol. O toque foi rápido, no entanto, já que o sr. Darcy, pensando melhor, voltou atrás, resistindo ao impulso. Ele se endireitou na cadeira sem tirar os olhos dela, sabendo que deveria se retirar, mas sem saber como conseguiria se afastar dali.

Só então a porta da biblioteca se abriu e Elizabeth se deu conta do perigo de serem descobertos naquela situação. Ouviu uma voz feminina, “Ah, aí está o senhor, sr. Darcy, já havíamos perdido a esperança de encontrá-lo.”

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