Bookaholics

Capítulo 7 - uma gata à espreita

Num mundo onde tempo é dinheiro, perder alguns minutos é prejuízo. Três horas, então,  é um grande desperdício. Foi exatamente o tempo que Analu, por conta de um mal entendido, perdeu naquela manhã. Estava ali desde  6:30 da manhã, sentada na recepção do hotel, a esperar por Danni Mathis e Anne, sua assessora, que chegariam em breve para uma série de eventos de divulgação de Amores Virtuais, organizados pela Livraria Abreu em parceria com a Editora Lumiar.

Analu, estudante de Marketing e Propaganda e recém contratada da Editora Lumiar, estava ansiosa pela chegada das pessoas que acompanharia durante os eventos. Leitora voraz, recebia inúmeros textos antes da publicação e opinava sobre o conteúdo. Foi sua crítica que fez  com que Danni fosse contratada pela Lumiar. E o bônus foi um emprego para ela, na mesma editora.

A lounge music que tocava serviu de trilha sonora para as novidades vistas através da janela da van climatizada. Anne admirava a paisagem, encantada com com tudo que via: ciclistas, casas coloridas, animais  e um horizonte sem fim,  só visto em Minas Gerais.  Dentro de alguns minutos estariam no hotel para descansar e depois cumprir a agenda do dia: entrevista na rádio local, encontro com fãs e noite de autógrafos na Livraria Abreu. Enquanto a garota se deliciava com o passeio, a escritora se esparramava num cochilo preguiçoso, alheia ao que acontecia ao redor.

No hotel, uma moça as esperava:

— Bom dia! Sejam bem vindas a Contagem! Meu nome é Analu. Represento a Editora Lumiar em Minas e vou acompanhá-las nessa pequena tour. Não nos conhecemos ainda, mas eu sou uma grande fã sua, Danni.

— Obrigada! — respondeu a escritora, dando um beijo em cada face enrubescida da moça— Ouvi falar muito bem das pessoas de Minas e a recepção não poderia ter sido melhor - exclamou, enquanto Anne esboçava um abraço em direção a Analu.

— Desculpa, sou mais efusiva que o habitual. Muito prazer: Anne!  — falou, enquanto balançava a moça como se fossem amigas de longa data.

—Imagina! Eu amo calor humano! Acho que vamos nos dar muito bem, Anne! —explicou,  já arrastando as garotas para o café da manhã. Antes que elas pudessem se afastar  do balcão, o recepcionista se dirigiu ao trio com um pequeno volume nas mãos.

— Com licença, senhoritas. Este pacote é endereçado a Daniella Mathias. Fui incumbido de fazer essa entrega assim que estivesse aqui em nosso hotel.  Tenha uma ótima estada conosco, senhorita Mathias.

Danni assentiu com a cabeça  e colocou o embrulho sob os braços,  apressando o passo em direção a dupla que se adiantou em direção ao café. No sofá do hall, um par de mãos com reluzentes unhas vermelhas exibiam notícias sobre a queda do dólar, a derrota do Atlético e o show dos Stones na Argentina. Mas os olhos não liam; estavam fixos em outro lugar, com os ouvidos bem atentos na conversa do trio. Esperou que passassem por ela e largou o jornal, levantando-se e deixando rapidamente o local, com o andar cadenciado de uma gata à espreita. Na rua, sacou seu celular e fez uma ligação.

—Gi? Chegaram. O jogo vai começar. Me espera, chego em 15 minutos.

Montada em sua moto, murmura uma frase antes de colocar o capacete:

  — O jogo vai começar. Que delícia. Que tesão! —  disse baixinho, mordendo levemente os lábios enquanto dava a partida e arrancava rapidamente dali.