Bookaholics

Capítulo 9 - Revelação

Lola calçava o tênis, Geraldo ensaboava a cabeça, Tina corria no parque. Carmem , no corredor da faculdade, voltava com a garrafinha d'água cheia para a sala de aula. Luiza, com a cabeça suspensa na beira da cama, folheava um mangá.  Anne mastigava uma empada de camarão, Danni formava uma trio de balinhas vermelhas no Candy Crush. Giselle se preparava para sair com Valquíria e Andressa, quando o relógio marcou 21:15 e tudo escureceu. Em Minas, Sampa, Pernambuco, Vancouver, Bruxelas. 

Apesar do blecaute, o celular de todos os escolhidos tocou simultaneamente. Ao invés de uma chamada, cada display abriu um vídeo. Na tela, alguém de capuz preto passava instruções com a voz deformada eletronicamente:

Queridos leitores,  como eu suspeitava, todos vocês se esqueceram do dia e do horário combinado. Não estranhem a escuridão, ela faz parte do jogo. Agora, conforme as instruções já passadas,  peguem seus envelopes e apontem seus celulares para o QR Code impresso. E não esqueçam de seguir as instruções. Levem lanternas, pois lá fora está muito mais escuro que aqui.

Em lugares diferentes, reações iguais ou muito próximas. Um misto de espanto, dúvida, medo e excitação refletidas pela fraca luz dos celulares. Com a escuridão, a tarefa de encontrar os envelopes se tornaria muito complexa para cada um dos escolhidos. Seria. Mas uma luz vermelha irradiava atrás de cada uma daquelas pessoas. O envelope, envolto em uma aura vermelha, flutuava na altura daquelas  cabeças confusas. Subitamente, se abriu no ar, irradiando um brilho  âmbar no QR Code. Simultaneamente, todos sincronizaram seus celulares com o envelope, como se uma força conduzisse a mão de cada um deles. Nesse instante, a luz voltou em todos os lugares, revelando um lugar diferente e comum a cada um deles. Um cômodo escuro, com paredes revestidas de pedras. Em lugares separados, todos os escolhidos estavam agora ocupando um cômodo igual, em lugares distintos. Geraldo apalpou a textura da parede, sentindo o frio das pedras. Lola, maravilhada, brincou com a chama da vela no castiçal. Luiza, com medo, cruzou os braços em torno do peito, tremendo de frio. Todos, maravilhados e surpresos, tentavam se situar e assimilar o que acontecia. Havia apenas uma abertura naqueles aposentos: uma porta, que ocultava o lado exterior por apenas uma cortina. Um pedaço de tecido vermelho. Do lado de dentro, uma voz se fez ouvir:

 — Escolhidos, transponham a cortina vermelha. É chegada a hora.

Simultaneamente, eles foram se aproximando da cortina. Ao passar para o outro lado, o brilho de um refletor ofuscou a visão daqueles confusos escolhidos. Usando  o dorso da mão para proteger os olhos, aos poucos foram vendo a silhueta de três pessoas. Uma mulher sentada ao trono, cercada por duas outras. Uma delas se aproximou, baixando o capuz e revelando seus longos cabelos

  — Bem vindos, meus escolhidos. É chegada a hora. Reverenciem a rainha Gisella.

  — Rainha? Reverência? Que merda é essa? — esbravejou Lola, indo em direção ao trono.  

  — Alto lá, mocinha! Respeite vossa alteza real.

— Respeito? Por que eu respeitaria? E quem é você na fila do pão, pessoa sinistra?

— Vai respeitar pois essa é a regra. Quanto a mim, sou Valquíria. Mais conhecida como o Livreiro.

— Quero voltar pra casa, Lola! —  choramingou Luiza, se agarrando ao braço de seu amiga.

— Você irá. Todos voltarão. Se tiverem sorte, é claro. — falou Valquíria, com um sorriso enigmático no rosto. — Mas isso nós vamos descobrir daqui a pouco, depois do intervalo!

Uma música tomou conta do ambiente, que se iluminou por completo, revelando refletores, câmeras, pessoas com fones e pranchetas indo e vindo. No telão, uma série de imagens, tal e qual Lola tinha visto de dentro do ônibus: livros, um castelo, um redemoinho engolindo livros e pessoas. No final, uma palavra estilizada: Bookaholics, brilhando feito um  luminoso de neon, que subitamente é quebrado por um machado.