Insurgente - Tobias Eaton

Capítulo 10 - Obrigado pela honestidade!

"VOU FAZER uma série de perguntas simples, para que você se acostume com o soroenquanto ele começa a fazer efeito" diz Niles. 

"Agora. Qual é o seu nome?"

Estou sentado. Sinto meu corpo pesado como se algo em mim me puxasse, cada vez mais fundo em meu subconsciente. Meus ombros estão caídos e minha cabeça baixa. O soro está tomando conta de mim. 

Eu não quero falar meu verdadeiro nome. Eles saberiam de onde sou proveniente e quem é meu pai, e eu não quero ligação com aquele monstro. Não quero que as pessoas saibam o que sofri, então, tento lutar contra o soro, mas eu sinto uma grande dor física, como se fosse uma reação adversa do soro a mentira, ou omissão dela. Através dos dentes digo:

"Quatro." Talvez não seja possível mentir sob o efeito do soro da verdade, mas sim escolher qualversão da verdade queremos contar: Quatro é o meu nome, mas ao mesmo tempo não é.

"Esse é o seu apelido"diz Niles. "Qual é o seu nome verdadeiro?" 

"Tobias." Não consigo ter noção das pessoas a minha volta. É como se tudo tivesse se escurecido e só houvesse Niles e eu. 

"Como se chamam seus pais, Tobias?"

Abro a boca para responder, depois cerro o maxilar. Não quero responder a isso, isso não tem relevância...

"Que relevância tem isso?" pergunto e olho vagamente ao redor.Os membros da Franqueza ao meu redor sussurram uns com os outros. Alguns fazemcaretas. Levanto uma sobrancelha e olho para os membros. 

"Talvez não tivesse relevância antes, Tobias"  diz Niles", mas, agora que vocêresistiu a responder a pergunta, ela se tornou relevante. Diga-me os nomes dos seuspais, por favor."

Fecha os olhos, mas não consigo mais lutar contra a força que me faz falar.

"Evelyn e Marcus Eaton."

 Nossos sobrenomes são apenas uma forma adicional de identificação, e servem apenaspara evitar confusões nos registros oficiais. Quando casamos, um dos cônjuges deveassumir o sobrenome do outro, ou os dois devem escolher um sobrenome novo. Noentanto, embora carreguemos nossos nomes de família para as facções, raramente osmencionamos.Mas todos reconhecem o sobrenome de Marcus. Percebo isso pelo clamor que surge nasala depois de minhas palavras. Todos da Franqueza sabem que Marcus é o membrodo governo mais influente, e alguns deles provavelmente leram o artigo publicado porJeanine a respeito da maneira cruel como ele tratava seu filho. Foi uma das poucascoisas verdadeiras que ela escreveu. E agora todos sabem que o tal filho, sou eu. Niles espera a plateia ficar em silêncio, depois continua:

"Então, você se transferiu de facção, certo?"

"Sim." 

"Você se transferiu da Abnegação para a Audácia?" 

"Sim" respondo rispidamente. "Não é óbvio?" Mordo o lábio. Eu deveria me acalmar; estou  entregando demais. Quanto mais eurelutar em responder uma pergunta, mais determinado Niles ficará para ouvir a resposta.

"Um dos propósitos deste interrogatório é determinar a quem você é leal" diz Niles. "Portanto, preciso perguntar: por que você se transferiu?"

Oh não! A temida pergunta. Eu não quero liberar essa parte da minha vida. Mas como fazer isso? Não aguento mais esse soro. Então eu apenas encaro Niles e me mantenho em silêncio. Passam-se segundos de completosilêncio. Quanto mais eu tenta resistir ao soro, mais difícil isso parece se tornar: sinto meu corpo quente, como se pagasse fogo e minha respiração torna-se rápida e pesada. Meu peito dói. Osdetalhes de minha infância deveriam permanecer dentro mim e quero que permaneça lá.