Milagreira

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Depois da aula ;

Foi só quando estava almoçando com a Normani na sala de artes que percebi a grande burrada do meu brilhante plano : eu tinha que dar um jeito de encontrar Lauren e dizer que a professora estava disposta a dar uma segunda chance a ela.
Mas, tudo o que eu sabia era o prédio aonde ela estava "ficando por uns tempos". Eu não sabia o número do apartamento, nem como chegar ao centro da cidade.
Ainda mais até a rua Markham.

Eu não era exatamente uma fã de transporte público. Pois, Normani e eu fomos roubadas quando pegamos um ônibus até o shopping no verão passado.
Então, eu tinha que pegar um dos carros dos meus pais e inventar um álibi decente.

Eu não era mentirosa por natureza. Meu peito e meu pescoço ficavam vermelhados mesmo quando eu falava uma mentira inofensiva. Ainda bem que ninguém perguntou como eu fiz o carro pegar naquela noite ou teria me transformado num rabanete brilhante. Mas, achei que conseguiria me safar com uma meia verdade ao pedir o carro para minha mãe.

-Eu tenho que encontrar a Normani na biblioteca - enrolei meu cachecol de lã grossa ao redor do pescoço para esconder a vermelhidão.
-Nós estamos fazendo uma pesquisa para a aula de inglês.
E a gente tinha mesmo que se encontrar na biblioteca; mas não até mais tarde.

Minha mãe suspirou.
-Acho que dá para eu ir ao supermercado amanhã. Sobrou bastante comida ontem.

-Obrigada. Mas, acho que não vou chegar a tempo para o jantar. Eu tenho que... Ah, eu tenho um monte de coisa para fazer.
Puxei o zíper do casaco até o queixo e peguei a chave do carro sobe a mesa. Estava pronta para voar dali mas, minha mãe colocou a mão na minha testa.

-Você está se sentindo bem, querida? Está meio vermelha.

-Eu estou bem, só não tenho dormido direito. - Respondi.
E de fato desde quarta-feira, quando ví a Lauren pela primeira vez, não dormi um única noite inteira.

-Agora preciso ir. - conclui.

-Certo, pegue a minivan.

Ugh! Uma coisa era ir até o centro da cidade de ônibus mas, ir para aquela parte da cidade na bolha vermelha da minha mãe (era assim que Normani chamava nossa minivan que, parecia uma bola de chiclete sobre quatro rodas prestes a explodir) era outra coisa completamente diferente.
Eu já podia até ver o sorrisinho falso de deboche no rosto de Lauren.

Centro da cidade ;

Quase virei o carro e voltei umas três vezes. "Devo ser louca mesmo", pensei enquanto dirigia pelos becos perto do apartamento de Lauren. Estacionei debaixo do mesmo poste de luz da noite de sexta-feira e olhei com atenção o predinho atacarrado de aparência quase doentia do outro lado da rua.

Não parecia tão sinistro assim a luz da tarde. O prédio era de tijolos amarelados, que pareciam fileiras de dentes podres com uma grande abertura no meio, onde um dia deveriam ter sido portas.

Bitucas de cigarro e lixo se acumulavam na entrada. Eu não estava superanciosa para ver como aquele prédio era por dentro.
E o que eu deveria fazer?
Bater de porta em porta, perguntando se alguém conhecia uma garota pálida de olhos verdes, e que mais parecia uma Vampira que se chamava Lauren, e esperar que ninguém quisesse tirar vantagem de uma menina com cara de trouxa?

Sentei e fiquei observando a rua, esperando que Lauren aparecesse por ali. Contei cinco moradores de rua caminhando rapidamente na direção do abrigo, e pelo menos três gatos vira-latas diferentes correndo pela rua como se estivessem ansiosos para encontrar refúgio antes de anoitecer.

Uma Mercedes preta com vidros filmados parou devagar na calçada e apanhou o que parecia ser um homem bem alto, vestindo uma minissaia que, que andava de lá para cá na esquina havia meia hora.

O Divino Uivo Da Meia Noite - Amor Proibido-Onde histórias criam vida. Descubra agora