Tentação

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Tarde de quarta-feira, no funeral ;

Uma sombra estranha se debruçou sobre a igreja, chegando ao coração de todos que encheram o santuário para o enterro de Amilly Stewart. A aula tinha até terminado mais cedo para que todo mundo pudesse ir.

Todos foram afetados pela melancolia daquele dia. - a não ser minha mãe.

Dava para ver que ela ainda estava em "modo: perfeição" quando começou a fazer barulho na cozinha às quatro da manhã para preparar um banquete que daria para alimentar umas mil pessoas.

Sua animação surpreendeu algumas pessoas meio carrancudas enquanto ela os recebia antes do sermão do presbítero Hernandez, e ela convidava todo mundo que parecia pelo menos remotamente solitário para um mega evento de Ação de Graças em nossa casa amanhã.

-Podem convidar quem quiserem. - ela disse para sofih e para mim enquanto estávamos carregando as bandejas de comida.

-Quero que esse seja o jantar de Ação de Graças mais animado que o papa já teve. Ele anda precisando mesmo de companhia. - Ela disse.

Eu não tinha muita certeza daquilo. Meu pai deixou de lado suas funções de anfitrião antes do velório e acabou se sentando no único canto deserto da igreja sozinho, em vez de tomar seu lugar no púlpito como o pastor.

Eu estava morrendo de vontade de ir lá falar com ele mas, fiquei presa no banco do coral com Sofih,vendo as roupas do presbítero Hernandez passar para lá e para cá enquanto ele falava em tom melancólico sobre o grande coração de Amilly Stewart.

Passei os olhos com atenção pela igreja e queria poder mandar uma mensagem telepática para a minha mãe ou para Dinah abraçarem meu pai mas, minha mãe estava ocupada arrumando tudo para o jantar no salão social e Dinah estava aconchegada perto de Normani na primeira fileira.

Meus olhos voltaram para a roupa do presbítero e permaneceram ali até quando chegou minha vez de cantar.

O órgão entoou as notas da música, e tentei expulsar as palavras de minha garganta. Meu rosto começou a tremer. Sabia que estava prestes a chorar mas, afastei o choro como sempre fazia e juntei os lábios. Não podíamos cantar outra nota. Ou ia chorar de vez.

A voz de Sofih soava tão alta e tremia que nem eu sabia que parte da música ela estava cantando.

Olhei através das janelas para o céu melancólico e cheio de neblina - até as nuvens pareciam prestes a explodir de emoção - e foi então que a vi.

Lauren estava sentada atrás do mezanino lotado, com os braços cruzados e a cabeça baixa.

Ela deve ter sentido que eu estava a encarando porque ela levantou os olhos.

Mesmo a distância, eu podia ver que os olhos verdes dela estavam avermelhados.

Ela olhou para baixo e para mim por um momento, como se pudesse ver a dor que eu estava tentando segurar.

A curiosidades substituiu a tristeza quando me sentei de novo.
Sofih colocou os braços ao redor de meus ombros como quem quisesse me consolar.

O discurso monótono das filhas de Amilly não acabava mais. E Rosana Stewart incluiu uns golpes baixos bem ensaiados contra o meu pai.

Quando tudo finalmente terminou e todos foram em procissão para o cemitério, vi Lauren ir até as escadas do mezanino que levava a saída.

Pulei do meu banco, ignorando alguém que estava tentando me elogiar pela música, e coloquei meu casaco cinza e as luvas de couro.

-Kaki, a mama quer que você ajude. - disse Sofih.

-Só um minuto, Sofih. - respondi.

Passei pelo corredor, desviando das senhoras que comentaram em voz baixa sobre a falta de envolvimento no sermão do presbítero Hernandez.

Alguém puxou minha manga e disse meu nome.
Podia ou não ser Shawn Mendes mas, mesmo que fosse não parei para descobrir.

Era como se uma linha invisível estivesse presa a minha cintura me puxando para as portas da igreja e para o estacionamento.

Apertei o passo sem nenhuma ordem do meu cérebro ao ver Lauren subir em uma moto do outro lado do estacionamento.

-Lauren! - gritei enquanto ela ligava o motor.

-Você vem comigo? - Ela sentou mais para frente no banco da moto.

-O quê? Eu não posso. - disse em voz alta por causa do barulho da moto.

-Então por que você está aqui? - Lauren finalmente olhou para mim e aqueles olhos verdes brilhantes, estudaram meu rosto.

Não consegui resistir e aquela linha invisível me puxou para mais perto dela.

-Você tem um capacete? - falei tapando os ouvidos.

-Essa moto é do Larry. Você não iria querer usar o capacete dele se ele tivesse um. - ela falou e ajeitou a jaqueta preta.

-Eu sabia que você viria Camz. - Lauren chutou o pedal da moto e sorriu com satisfação.

-Cala a boca, Lauren. - ordenei, enquanto subia na garupa.

... Continua...

O Divino Uivo Da Meia Noite - Amor Proibido-Onde histórias criam vida. Descubra agora